Sabe aquele seu sonho, aquela ideia genial de negócio que você teve (e nunca nem contou pra ninguém), para o qual, entra ano sai ano, a única coisa que você fala é “Ah, daqui a um tempo eu vou fazer isso, tô sem grana agora”?
E se o dinheiro não fosse um obstáculo? E se você achasse gente disposta a investir na sua ideia de um jeito que você mantivesse 100% dos direitos e as pessoas ainda ficassem satisfeitas por isso? Parece impossível? Não é.
O crowdfunding – ou, para quem não gosta de palavras em inglês, financiamento colaborativo – é um modelo que tem feito sucesso mundo afora nos últimos anos. A principal referência é o norte-americano Kickstarter, que já financiou projetos de quase milhão de dólares. Algumas iniciativas pipocaram no Brasil nos três últimos meses e parece que esse movimento veio pra ficar em 2011.
A ideia básica é a seguinte: um monte de gente contribuindo a partir de pequenas quantias e recebendo algo em troca (um produto, uma experiência) faz com que inúmeros projetos possam, digamos, sair do armário.
Para você não ficar perdido e de cara já receber umas dicas para o seu projeto acontecer, vamos conhecer os exemplos de alguns projetos brasileiros.
1. Queremos
Imagine que você é daqueles fãs de carteirinha do Radiohead, fica sabendo que eles vem tocar no Brasil e, tcharam, descobre que a turnê não vai passar pela sua cidade. Bate aquele sentimento de revolta, aquela vontade de distribuir socos aleatoriamente. Um dia depois você descobre que tem um grupo de amigos se organizando pra juntar a grana necessária pra trazer o show pra sua cidade e que com R$200 você pode reunir essa galera e fazer isso acontecer – com direito a um ingresso para o show, podendo até receber os 200 reais de volta. Fantástico não?
Não foi com o Radiohead que isso aconteceu, mas a ideia do Queremos é basicamente essa: fazer com que eventos sensacionais não fujam da sua cidade e que os próprios fãs da banda possam se juntar pra que isso aconteça. Em menos de 6 meses de funcionamento, o que começou com alguns amigos trocando emails se transformou em uma plataforma que já levou 9 shows para o Rio.
2. Cidades para pessoas
Tem coisa pior do que engarrafamento o dia todo, todo dia? Até tem: dar 20 voltas na quadra e não achar nunca um lugar pra estacionar. E esses são só dois dos problemas que as cidades tem hoje em dia envolvendo transporte. A jornalista Natália Garcia é daquelas que se incomoda com isso, mas não para por aí. Ela está se mexendo pra mudar essa realidade.
Ela quer fazer uma viagem por 12 cidades ao redor do mundo, e ficar em cada uma delas por um mês. São cidades nas quais o design urbano foi reformulado pra que elas se tornassem um lugar melhor para pedestres e ciclistas, com a ideia de melhorar a vida dos seus habitantes. O que a Natália quer é fazer uma mega levantamento sobre isso pra ver como a gente pode melhorar as nossas cidades por aqui.
Ela até poderia vender a pauta para um jornal, uma revista e ter a grana pra viajar. O que muda a história é que ela quer espalhar essa história pra todo mundo, sem se prender a uma mídia ou outra. Como juntar grana então? Crowdfunding! O projeto captou incríveis R$25.785, de 285 pessoas em apenas 60 dias. Nada mal.
3. Pulp Dance
Macho que é macho gosta de ver sangue e, por isso, gosta dos filmes do Tarantino. Foi inspirado neles que um grupo de dança de Porto Alegre criou o espetáculo Pulp Dance, com direito a cenas de tortura e espaço para diálogos do jeito bizarro que o diretor sempre lança mão.
Você pode ficar com um pé atrás por achar que dança não é do seu gosto, mas o espetáculo é cheio de mulheres gostosas lindas e tem cenas que misturam provocações sexuais e situações engraçadas.
O bacana (além das mulheres) é que o grupo quer fazer esse trabalho de forma totalmente independente, sem ficar refém de editais públicos – aquela burocracia que todo mundo conhece. Para resolver o problema, iniciaram uma campanha de crowdfunding. Deu certo. Vale a pena ver o vídeo do pessoal.
4. Ajude um repórter
Sabe quando você chega no final do dia, vai olhar seu email pessoal e tem lá 200 emails novos? E, pior, entre todos, só dois ou três têm alguma coisa realmente interessante.
Não é muito diferente do que acontecesse com os jornalistas hoje. É uma chuva de gente mandando press release, querendo publicar algo na imprensa, sem perguntar antes ou querer saber se aquilo é do interesse do jornalista para as suas pautas.
O Ajude um Repórter (ARPO) é um serviços daqueles que causam um “Ah, e por que ainda não existia?”. O que ele faz é inverter a ordem das coisas pra facilitar a vida de todo mundo. O repórter lança a pauta e as fontes que puderem contribuir com aquele assunto entram em contato com ele.
Esse serviço hoje é feito basicamente pelo perfil @ajudeumreporter – e muita gente ainda acha que o Twitter não serve pra nada – mas a ideia é expandir para uma plataforma bem mais bacana e com mais funcionalidades.
Como para construir um site bom é necessário uma grana, o jeito foi montar uma campanha crowdfunding e pedir para o público ajuda pra financiar essa empreitada, oferecendo alguns mimos em troca (como um caderno estilo Moleskine com o logo do ARPO para quem apoiar com R$50).
Em 60 dias o projeto levantou R$15.695, de 190 pessoas.
5. Eu Maior
O Eu Maior é um documentário sobre autoconhecimento e busca da felicidade – não, seu tapado, não é autoajuda e não é assunto de baitola. Talvez se conhecer melhor seja uma das maneiras mais primorosas pra você descobrir o homem que há dentro de você e começar a fazer as coisas acontecerem.
O filme ainda está em fase de produção, mas já tem um monte de gente de peso que já deu entrevista: Monja Coen, Leonardo Boff (um dos homens que você deveria conhecer, segundo o próprio PdH), Carlos Burle (o surfista de ondas gigantes), Marcelo Yuka e por aí vai.
O bacana é que mesmo o projeto estando dentro de uma lei de incentivo, grande parte da captação (R$200mil) não está sendo feito com empresas, mas sim direto com o público, a partir de cotas de R$100. Até hoje já foram levantados praticamente de R$90mil. E eles ainda te dão direito a restituir esse valor do seu Imposto de Renda e de você garantir sua cadeira na pré-estreia do filme nos cinemas.
Pensa só: você, no fim, não paga nada e ainda ganha um ingresso, quer mais o quê?
O vídeo que o pessoal fez pra ilustrar as pessoas a apoiarem o projeto e ajudar a entender como funciona o lance do imposto de renda. É das coisas mais bonitonas já feitas pra ensinar alguma coisa aparentemente chata de se explicar.
6. Meu time de futebol
Querer ser jogador de futebol é coisa que todo homem sonha. Poder ter seu próprio time de futebol não é coisa que todo homem sonha porque ele acha que isso é bem mais impossível do que querer ser jogador. Mas não é mais.
Inspirado no gringo MyFootBallClub, um grupo de brasileiros está dando os primeiros passos para criar o Meu Time de Futebol. A ideia é que um monte de gente, podendo adquirir pequenas quotas, compre um time de futebol – de verdade! No site tem até uma votação para definir qual time deveria ser comprado (o mais votado até agora é o Sport Clube Maguary, do Ceará).
O projeto está em uma etapa para conseguir captar R$ 4 milhões que servirá para comprar o time e investir na sua infraestrutura.
O mais sensacional é que quando o time for jogar, os próprios torcedores poderão dar seus pitacos na escalação – e ai do técnico se ele não der ouvido, afinal, seu cargo está na mão dos torcedores.
7. Rabiscaria
Você não tem como discordar de que é do caralho ter aquele produto exclusivo, com edição limitada. Rabiscaria é uma loja online que faz esse tipo de produto ao unir o bem em si com o trabalho de um artista plástico. A ideia é criar produtos – copos de whisky, copos de vodka (a ideia é vender mais outras coisas, mas o que mais você precisa em casa do que apetrechos para whisky e vodka?) – que tenham um design único.
Para começar o negócio, eles já tinham o site, o desenho dos primeiros produtos e o parceiro para fabricá-los. Só faltava a grana inicial pra produzir as primeiras peças e é ela que eles resolveram buscar através do crowdfunding.
Lógico, a campanha foi um sucesso e eles arrecadaram mais de R$23 mil em 45 dias.
8. A Quente A Frio
Filme de ação com atropelamento, morte, bandido, ok. Se o bandido é atropelado bem na hora que estava assaltando, e morre, já não parece mais uma história convencional. Se a pessoa que estava sendo assaltada é a acusada de matar o bandido, mesmo que ela não tenha nenhuma culpa no cartório, mas não consegue provar isso, aí a trama começa a se encher de suspense e já fica na cara de que o filme é bom.
Na real, o A Quente A Frio é um filme foda. Ele já está gravado, cheio de gente conhecida no elenco. Pra listar três nomes: Caco Ciocler, Gustavo Machado, Marcelo Serrado. Uma parte pra lá de importante pra um filme acontecer é a pós-produção. Pra não depender de verba pública, leis de incentivo, burocracias infinitas, a roteirista e diretora Juliana Reis se aventurou em uma campanha de crowdfunding pra levantar R$45.000 para essa etapa final.
O projeto tem pouco mais de 60 dias pra conseguir levantar esse valor. Tirando R$10 da carteira você já pode fazer parte do time de apoiadores. Tem recompensa até pra você viajar com a equipe do filme pra apresentá-lo em festivais internacionais.
Vai dar uma de pão duro ou vai lá apoiar o projeto agora?
Qual a sua ideia engavetada?
Bem, esses são só alguns projetos que estão dando a cara por aí. Esse ano acredito que milhares de ideias se transformarão em realidade por meio da colaboração no financiamento dessas ideias. Uma delas pode ser a sua.
A primeira plataforma brasileira a apostar em financiamento colaborativo para projetos criativos (empreendedores, artísticos, jornalísticos, esportivos) no Brasil foi o Catarse (e eu, sou um dos sócios). O site está no ar há 3 meses mês e já tem mais de 20 projetos levantando grana por lá .
Talvez seja uma boa hora de tirar aquela sua ideia da gaveta e fazer ela acontecer, não acha? Vamos seguir o papo nos comentários. Quer falar sobre aquela ideia genial que você nunca conseguiu fazer rodar?
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