Depois de The Secret, What the bleep do we know (Quem somos nós?) e a sabedoria nova era de Will Smith, encontrei o trailer de Thrive, a ser lançado dia 11/11/2011, e comecei a desconfiar que talvez essa galera toda esteja seguindo um manual de sucesso.
Se existisse, o tutorial para produzir um filme new age seria mais ou menos assim:
1. Chame de “documentário”, para dar mais seriedade. Melhor ainda se chamar de “movimento”.
2. Entreviste o Deepak Chopra.
3. Revele um segredo, um código, uma lei, algo revolucionário, há séculos ignorado por absolutamente todos os grandes cientistas.
4. Demonstre como todas as pessoas e instituições poderosas não exatamente ignoraram mas esconderam o segredo revolucionário. Use o argumento do dinheiro para arredondar a conspiração.
5. Reduza qualquer transformação gradual a um processo de um só passo, uma simples troca, enfatizada pelas expressões “mudança de paradigma” e “consciousness shift”. Não ofereça nenhum método, nenhuma prática, nenhum treinamento que exija tempo e dedicação para transformar gradualmente nossa mente, nossas relações, nossas atitudes, nossa cultura e modo de viver.
6. Peça para o diretor de arte criar a identidade visual com elementos siderais: galáxias, planeta Terra, estrelas, azul, raios…
7. Convoque pessoas que já fizeram plástica no rosto para realmente fazer a diferença e mudar o mundo, criando suas próprias realidades.
Veja como dá certo:
Desserviço?
Avisei no Facebook que estava escrevendo essa shot e a Alessandra Marcuzzi me enviou uma pergunta por email:
“Você acha que escrevendo sobre os desserviços da galera que tu chama nova era cê tá prestando serviço?
Queria entender qual tua intenção, eu não tenho nada contra nem a favor mas me ocorreu se às vezes uma reação dessa não é tomar pra si uma verdade e agir até com mais orgulho que os caras que tão lá até falando alguma bobagem mas tão acreditando que aquilo beneficia, sabe?”
Eu realmente não sei o quanto alguns movimentos mais nova era (desses completamente furados) trazem benefício e o quanto só complicam a porra toda. Mas se eu esperar por alguma certeza, nunca agirei. Se beneficiam, não será a minha crítica que vai interrompê-los. Se confundem, talvez um papo desse ajude a pelo menos uma pessoa.
A visão que me motiva a criticar é simples:
a) Quanto mais sustentarmos uma visão cortante a essas besteiras, mais os caminhos autênticos não serão confundidos e perdidos no meio da sacola new age. Caso contrário, para cada pessoa que se beneficia, cem se afastam e validam seus preconceitos das coisas mais genuínas que parecem ser farinha do mesmo saco. Com razão. O cara vê um filme desse e depois dá risada quando alguém lhe apresenta o Mind&Life, por exemplo.
b) Para quem está se questionando e procurando alternativas à merda do mundo, é muito saudável que existam espaços onde alguns caminhos sejam oferecidos e outros metralhados. Observo crivos saudáveis assim no CEBB, na Cabana, aqui no PapodeHomem, no Não2Não1, na TaKeTiNa…
c) A postura vale-tudo nem sempre é a que mais enriquece. Às vezes é melhor não comprar, ser chato, cético, traçar limites, dizer o que é melhor, ainda que possa soar arrogante ou orgulhoso, ainda que sempre seja algo pessoal, com falhas, cegueiras, ressalvas, exceções.
E você? Compra esse discurso de Thrive?
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