Na aurora da humanidade o ambiente era hostil. O planeta era uma selva perigosa, todo animal era violento, toda planta era venenosa, toda noite de sono poderia ser a última, toda refeição precisava ser caçada com as próprias mãos e, segundo Maurício de Sousa, homens e dinossauros coloridos conviviam em clima de constante conflito, o que parece ser bacana, mas possivelmente tem uma certa dose de inverdade histórica.

Nesse período cada homem era um guerreiro, cada dia era uma batalha e cada esticada de pescoço pra fora da caverna era uma aventura resolvida em termos de vida ou morte, em que as chance de sobrevivência variavam de acordo com a capacidade de correr, lutar, escalar, saltar e reconhecer e sobreviver ao perigo que se aproximava, incluindo nesse perigo os dinossauros coloridos previamente citados.

Piteco, grande referência em termos de vida selvagem e quadrinhos sobre Platão

Corta para os dias atuais. O homem, em sua escalada evolutiva aprendeu a a domar a natureza. Controlou o fogo, inventou a roda, saiu das cavernas, se tornou o principal predador do planeta e aprendeu que o tapa e o puxão de cabelo são menos uma tática para conquistar a fêmea e mais um recurso a ser usado dentro de casa, no quarto, num clima bacana, de boa mesmo.

Domesticamos o mundo e junto com ele nos domesticamos, deixando de lado a selva, o ar livre e a aventura da vida em troca do conforto de casas com suítes, a tranquilidade da comunicação instantânea e os sites de compra coletiva que, se minha caixa postal está correta, só vendem peeling e depilação a laser.

O selvagem interior

Ainda assim, mesmo cobertos por todo esse verniz de civilização, mesmo atrofiados por toda essa vida de conforto, mesmo com vários de nós tendo essas barrigas ridículas, nossos genes, nosso DNA, nossos instintos não se esquecem de onde vieram. Sejamos nós advogados, médicos, jornalistas, químicos, botânicos ou quiropratas, todos descendemos dos mais ágeis e corajosos guerreiros, dos mais bravos e destemidos homens das cavernas, que lutaram contra os elementos, desbravaram um mundo em formação e, como qualquer um de nós pode notar, extinguiram completamente os dinossauros coloridos.

Por isso nos sentimos intranquilos em nossas baias, ficamos tensos em nossos prédios de vidro, parecemos perdidos nos vagões apertados do metrô: porque nosso corpo pede a adrenalina, nossas células querem de volta a emoção, nossos cérebros suplicam pelo risco e o perigo.

E qual seria a solução? Uma busca pela natureza? Uma volta a uma vida mais selvagem, correndo pela mata, possivelmente seminus e portando tacapes? Um retorno triunfal ao nosso passado de guerreiros tribais cobertos pelas peles dos animais que nós mesmo matamos em torno da fogueira que nós mesmos acendemos? Bem, não necessariamente.

O escritório não é o nosso habitat natural

Afinal, não apenas na selva existe perigo, não apenas na montanha mais alta existe adrenalina, não apenas no convívio com animais selvagens colocamos nossas vidas em risco – fora que é meio esquisitão sair por aí curtindo uma tanga de couro. Várias vezes é dentro dos limites da cidade, entre as paredes das nossas próprias casas, que se escondem os esportes mais radicais, as atividades mais assustadoras, os perigos mais emocionantes.

Esporte radical #1: Final de semana com a sua mãe em casa

Síntese do esporte radical – o homem contra uma força da natureza que ele não pode controlar –, a visita da sua mãe naquele final de semana em que você tinha outros planos é um clássico da aventura indoor. Aprecie a adrenalina de abrir a porta e ver que ela trouxe uma mala gigante como se fosse passar duas semanas, curta o suspense das perguntas confusas sobre a sua vida pessoal, divirta-se com as referências veladas a ex-namoradas e, enquanto ela fala durante duas horas sobre o divórcio da tia Lúcia, conheça graus de tensão e ansiedade que você provavelmente só sentiria segundos antes de saltar de paraquedas.

Alguns outros adicionais de emoção podem ser conseguidos caso sua mãe seja adepta de atividades como se perder em shoppings, andar com fotos suas quando criança dentro da bolsa ou, sempre que precisa falar contigo, telefonar 67 vezes até você atender, te fazendo achar que está acontecendo um holocausto nuclear quando na verdade ela só queria dizer que topou com uma garota na rua que parecia aquela baixinha que estudou com você na sexta série. Mas não era não, só parecia.

Esporte radical #2: Noite de sábado organizando cartas, emails e fotos de ex-namoradas

Mais emocionalmente perigosa do que qualquer salto de bungee jump, escalada de montanha ou voo de asa delta, aquela noite organizando fotos, cartas, emails e presentes de ex-namoradas é possivelmente um dos mais perigosos dentre todos os esportes emocionais radicais, com grandes riscos de lesões, traumas, dores profundas e porres solitários de vodka que terminam com você bêbado gritando na janela um “Carolina, eu ainda te amo!” e recebendo como resposta apenas um “vai se ferrar, vagabundo”.

É isso aí que você vai fazer, só que emocionalmente

Dado seu grau de perigo extremo, é recomendado que seja praticado apenas com a devida proteção, que inclui janelas fechadas, uma noite sem nenhum filme da Meg Ryan no Telecine, o computador a uma distância segura e nenhum celular ao alcance da mão. Se você começar a sentir vontade de comer brigadeiro de panela, comprar um pote de Haagen-dazs ou baixar a trilha sonora de Bridget Jones, as coisas fugiram de controle e você deve parar com a atividade, chamando um profissional da área de saúde para uma avaliação mais completa.

Leia também  5 opções de backup na nuvem pra você guardar seus próximos 12 anos de trabalho

Esporte radical #3: Fazer um jantar para aquela amiga que você sempre quis pegar mas que nunca vai pra cama com você

Típico caso em que você sabe como as coisas vão terminar, mas insiste no passeio apenas pra ver o quão íngreme é o trajeto, levar pra casa aquela sua amiga que parece interessada mas sempre pula fora na hora H pode ser considerada a versão doméstica de descer uma corredeira numa canoa, se tivermos mentes abertas, pouca capacidade de decisão na vida pessoal e talvez – como no meu caso – um profundo desconhecimento de como uma canoa realmente funciona.

Afinal, nesse tipo de evento existe todo um planejamento, como num esporte radical, todo o perigo e o risco de passar vergonha, como num esporte radical, e toda a liberação de endorfina e serotonina, como num esporte radical. A única diferença é que é muito raro que uma prancha de kiteseurf, por exemplo, te diga que você entendeu tudo errado, ela quer ser apenas sua amiga e sexo ia estragar a relação bacana que vocês construíram nesses últimos anos.

Agora a prancha não atende seus telefonemas e fala mal de você com as amigas

Esporte radical #4: Hospedar por uma semana aquele seu colega de faculdade

Mais uma atividade caseira repleta de emoção, receber por alguns dias aquele seu colega da faculdade que você não vê há 6 anos reúne praticamente o mesmo grau de tensão, medo e surpresa que um bom base-jump feito no Empire State, se não mais.

Afinal, uma coisa são 20, sei lá, 30 segundos de queda-livre do alto de um prédio, com um possível risco de perder a consciência no processo e se esborrachar no chão, mas outra coisa totalmente diferente é uma semana com um cara que mexe na sua geladeira, atende seu telefone chamando todo mundo de “veado”, vê pornô na sua sala e fica olhando pra bunda da sua namorada sempre que ela vai pra cozinha, além de pedir pra ela trazer cerveja na volta.

Uma dica, se você for daqueles que realmente gostam de viver perigosamente, é aumentar o nível de dificuldade do esporte apresentando o cara para seus colegas de trabalho, pra quem ele vai revelar que seu apelido de faculdade era “Bitoca”, ou emprestar seu carro, que com certeza vai ser devolvido batido e com o tanque vazio, depois de ele passar uma noite na zona usando o seu nome.

Não há selva como o lar

A cidade também é uma selva, tem até elefante, olha só

Como ficou claro aqui, não é apenas na natureza que mora o perigo. Salas podem se tornar ambientes hostis, cozinhas podem esconder perigos inimagináveis e quartos podem ser tão selvagens quanto uma floresta, ao menos numa daquelas noites em que a gente dá sorte, a namorada acordou animada e ninguém se incomoda de quebrar um abajur, derrubar uma cortina ou levantar com as costas meio lanhadas no dia seguinte. A questão não é onde estamos e sim o quanto de perigo deixamos entrar nas nossas vidas.

Afinal, se lidamos com chefes sádicos, ex-namoradas rancorosas, irmãos folgados, encanadores picaretas e vizinhos portugueses de 90 anos que tentam bater na gente na saída do prédio, saltar de uma montanha, voar num veículo sem motor ou descer um catarata num barril não chegam a ser coisas assustadoras, certo? Na verdade, talvez sejam até mais tranquilas do que muitas das coisas que a gente faz todos os dias.

É, meus amigos, certos estavam os nossos ancestrais: era muito mais tranquilo lá fora.

Oferecimento: Citroën Aircross (com pulo de paraquedas para 2 leitores PdH)

GPS integrado, bússola e 2 inclinômetros, porta-mala de 403L e 1500L com bancos rebatidos. Fabricado no Brasil, 0% de juros ao mês, 3 anos de garantia (clique para conhecer).

Nota do editor: Já que você pode morrer a qualquer momento dentro de casa, Citroën + PapodeHomem vão garantir sua segurança ao levá-lo para um fim de semana radical, incluindo um pulo de paraquedas, no próximo fim de semana (27 e 28 de maio), em Boituva – SP.

Para concorrer, conte sua maior aventura nos comentários aqui. Se o máximo que você fez foi subir no telhado do seu vô ou correr pela cidade num tempo recorde para entregar um trabalho da faculdade, ótimo, isso vale tanto quanto alguém que subiu o Everest.

O critério de escolha da melhor história será surpresa, mas repito: grandes aventureiros vão concorrer de igual para igual com quem nunca experimentou rafting, rapel, paraquedas, montanhismo…

O resultado sai quinta, dia 26. O ganhador pode levar um amigo ou a namorada ou a sogra, se preferir. O relato da aventura vamos publicar no dia 1/6. Durante o fim de semana, a Citroën vai bancar todas as aventuras e hospedagem, exceto transporte de sua cidade até São Paulo, de onde partiremos no sábado.

Update

A gente sabe que tá todo mundo atiçado pra saltar de paraquedas com o PapodeHomem.

Depois de avaliar os comentários com os critérios que primavam pela boa escrita, originalidade da história e um relato de alguém que não viveu uma experiência radical com esporte, mas sim uma grande aventura do cotidiano, quem levou o final de semana radical foi:

Victor Rodrigues
Fernando ‘fiquei preso no guarda-roupa da casa da namorada’

Menção mais que honrosa também para o  e o , que mandaram histórias muito boas! E obrigado a todos por participarem!

João Baldi Jr.

João Baldi Jr. é jornalista, roteirista iniciante e o cara que separa as brigas da turma do deixa disso. Gosta de pão de queijo, futebol, comédia romântica. Não gosta de falsidade, gente que fica parada na porta do metrô, quando molha a barra da calça na poça d'água. Escreve no (<a>www.justwrapped.me/</a>) e discute diariamente os grandes temas - pagode