A verdade é uma só: não podemos negar o fato de que há algo de muito disruptivo acontecendo.

Uma realidade menos centralizada e mais distribuída já convive com a gente. Quando você pesquisa alguma coisa na Wikipedia, vê um vídeo no YouTube, usa o Waze para chegar no seu destino, você está fazendo parte dela. E mais está por vir.

Nos dias 4 e 5 de setembro rolou em São Paulo a Conferência Internacional de Crowdsourcing. No evento foram apresentados casos de empresas de vários portes que estão experimentando solucionar problemas, criar produtos e serviços e se comunicar com o público externo a partir da riqueza da rede, da multidão. Apesar dos movimentos não parecerem tão acertados, a percepção de que estamos, como sociedade, passando por uma transição radical, já é matéria de convergência.

Seguem aqui alguns exemplos de negócios, projetos e movimentos que já mostram com clareza como não dependemos mais de instituições centralizadas para realizar grandes feitos ou resolver problemas complexos. Apesar de serem de áreas completamente distintas, o que todas essas iniciativas tem em comum é a lógica de rede: conectar peers em relações de colaboração.

Mobilidade

Nem só de bike se locomove um homem
Nem só de bike se locomove um homem

Justamente por ser um dos principais problemas dos grandes centros, a mobilidade é uma das áreas onde tem surgido cada vez mais soluções a partir das conexões peer-to-peer combinadas à tecnologia de geolocalização.

1. Waze

Se você tem carro, esse aplicativo provavelmente já te salvou do trânsito algumas vezes.

O que nem todo motorista se dá conta é que, só por usar o aplicativo, já está colaborando para que ele funcione cada vez melhor já que o GPS de cada celular conectado alimenta o Waze com dados sobre velocidade nas vias. Além dessa participação “passiva”, os wazers podem alimentar o mapa com dados sobre radar, policiamento, acidentes, etc.

2. Moovit

Usando o mesmo princípio do Waze, o Moovit surgiu para ajudar os usuários de transporte público. Usando os dados transmitidos por todos os celulares conectados com o app, é possível identificar as melhores rotas de ônibus, trem e metrô, nas principais cidades do mundo.

3. Uber

Ligado no fato de que, nas grandes metrópoles, a maioria dos carros circula com menos de dois ocupantes (em São Paulo a média é 1.4/veículo), o aplicativo Uber conecta passageiros e condutores, em tempo real, para compartilharem caronas.

No Brasil, o aplicativo Zaznu e o site Tripda fazem algo parecido, sendo o segundo mais focado em deslocamentos intermunicipais.

4. Getaround

Já calculou quanto tempo seu carro fica parado na garagem de casa ou em algum estacionamento? E se, durante esse tempo, outras pessoas pudessem usar ele e ainda te pagar uma graninha? A galera da Getaround pensou nisso.

5. Spinlister

Nenhuma bike merece ficar empoeirando na garagem. O Spinlister é a versão do Getaround para bikes e equipamentos como pranchas, skiis e snowbords.

6. Nimber

DHL? E-sedex? Para que gastar com logística se tem tanta gente viajando para todos os lugares do mundo todos os dias. Uma delas pode levar aquela sua encomenda. O Nimber te ajuda a encontrar essa pessoa.

Finanças

Bitcoins para todos
Bitcoins para todos

O dinheiro é um recurso que pode circular sem barreiras geográficas e com grande velocidade. Pensando nisso, em um mundo distribuído, sistema monetário é o que, potencialmente, deve mudar de forma mais radical.

7. Kickstarter

Segundo a Wikipedia, crowdfunding é a obtenção de capital para iniciativas de interesse coletivo através da agregação de múltiplas fontes de financiamento, em geral pessoas físicas interessadas na iniciativa. O Kickstarter hoje, é a maior plataforma do tipo no mundo, e já teve projetos financiados em dezenas de milhões de dólares.

No Brasil, o Catarse e o Benfeitoria são exemplos de plataformas com a mesma lógica.

8. Kiva

Não é só o Grammen Bank que pode fazer microcrédito não. O Kiva permite que qualquer pessoa empreste dinheiro a pequenos empreendedores em países em desenvolvimento. Quem investe sabe exatamente a quem está ajudando e como o dinheiro está sendo usado.

Para quem pensa que é um investimento de risco, fica a surpresa: a taxa de inadimplência é de apenas 1.2% (no Brasil, a média para empréstimos bancários supera 6.5%).

9. Zopa

Se você não sabe para quem o banco empresta seu dinheiro, que tal emprestar você mesmo? Ou quem sabe não é você que precisa de uma graninha emprestada?

Plataformas de peer-to-peer lending, como o Zopa, conectam credores e devedores, pulando o intermediário bancário. Quem empresta define critérios e taxas. Para quem duvida que funciona: as taxas médias de juros são menores para quem empresta e maiores para quem poupa. Além disso, a inadimplência é inferior a 2%.

10. Patreon

O Patreon é uma plataforma que permite que criadores e artistas sejam financiados de forma recorrente por pessoas que admiram seus trabalhos.

A lógica é a mesma do financiamento coletivo, mas com a característica da recorrência. Eu posso escolher, por exemplo, pagar U$1,00 cada vez que minha banda favorita publicar um vídeo no youtube, ou liberar uma música para download.

11. Bitcoins

A grande sacada das moedas digitais open source como o bitcoin é que elas são distribuídas: não há monopólio na sua criação. Qualquer um pode gerar bitcoins: basta emprestar sua capacidade de processamento para o protocolo que autentica as transações. É a isso que chamam de mineração. Outra coisa disruptiva é a transparência: todas as transações são públicas e rastreáveis.

Hospitalidade

Alugar hospedagem diretamente de outras pessoas, sem mediadores
Turismo pessoa-pessoa, sem mediadores

A era dos pacotes turísticos em massa e hotéis impessoais acabou. Se conectando com locais, qualquer viagem pode ficar mais barata e muito mais rica culturalmente.

12. Airbnb

O Airbnb conecta pessoas com espaço extra em casa e viajantes buscando estadia. Os primeiros ganham uma nova fonte de renda, e os últimos uma experiência de viagem muito mais recompensadora (e, em geral, mais barata).

13. Couchsurfing

O couchsurfing segue a mesma lógica do Airbnb mas sem a troca monetária.

Muito popular entre comunidades de mochileiros ele acabou gerando um senso de reciprocidade difusa: eu empresto meu sofá para alguém pois sei que, quando viajar, vou ter um sofá disponível para mim.

14. Vayable

Plataformas como o Vayable permitem que pessoas locais oferecem passeios e experiências aos turistas.

Além da variedade de opções, os viajantes têm a possibilidade de criar uma conexão real com outras pessoas e experimentar a cidade pelo olhar de quem a conhece melhor.

Educação

Equipe por trás do Cinese
Equipe por trás do Cinese

O modelo de educação tradicional tem mostrado sinais de esgotamento. Ao invés de esperar que governos e grandes instituições de ensino se transformem, através da Internet, as pessoas tem se tornado protagonistas do próprio processo de aprendizagem.

15. Skillshare

Plataformas como o Skillshare trazem conhecimentos práticos “da vida real” através de cursos online produzidos por uma comunidade de profissionais de diversas áreas. Todos os cursos possuem projetos colaborativos e o aprendizado, mais do que da “aula” vem do processo de interação.

No Brasil, uma opção parecida é o Beved, que também oferece cursos presenciais.

16. Cinese

Também com foco em processos colaborativos, o que plataformas como o Cinese e o Nós.vc propõe é que a aprendizagem aconteça em todos os espaços da cidade. Com foco em encontros presenciais, a ideia é unir pessoas que queiram ensinar e aprender juntas.

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Pesquisa e conhecimento

Sabe o clichê do mundo na ponta dos dedos? É verdade e a Wikipedia tem significativo mérito nisso
Sabe o clichê do mundo na ponta dos dedos? É verdade e a Wikipedia tem significativo mérito nisso

Estamos cada vez mais próximos do que estudiosos como Pierre Levy chamam de inteligência coletiva. A Internet permite que os conhecimentos individuais se somem e estejam disponíveis e acessíveis a qualquer um, a todo momento.

17. Wikipedia

Apesar de já parecer algo banal, a Wikipedia – e todas as ferramentas wiki – revolucionaram a forma como pesquisamos e produzimos conhecimento. Não há mais conteúdo estático: tudo é produzido, editado e atualizado colaborativamente, em tempo real, por uma comunidade de centenas de milhares de pessoas. Uma delas pode ser você.

18. theSkynet

Uma rede de pesquisa espacial e processamento de dados astronomômicos.

A grande inovação é que o supercomputador usado pela TheSkynet é, na verdade, uma rede de computadores pessoais conectados que “emprestam” suas capacidades sobressalentes de processamento. Para fazer parte dessa rede, basta se cadastrar no site do projeto, baixar um programa e escolher as linhas de pesquisa com que quer contribuir. Quem sabe o seu computador não ajuda a descobrir vida fora da Terra?

Produção

Ele não é um cientista, é um sujeito comum criando protótipos e experimentando
Ele não é um cientista, é um sujeito comum criando protótipos e experimentando

O movimento maker é sinal claro de que, cada vez mais, as pessoas querem fazer coisas. E a tecnologia tem permitido que, cada vez mais, a escala deixe de ser um empecilho para produção.

19. Quirky

Plataforma que traz à vida a ideia de pessoas comuns. Qualquer um pode submeter uma ideia que é votada e desenvolvida pela comunidade e depois produzida e comercializada pelo Quirky. Tanto o “inventor” quanto a comunidade que ajudou no desenvolvimento da ideia são remunerados com as vendas do produto final.

20. Techshop

Uma mistura de Fablab com Hackerspace, as techshops são espaços equipados com impressoras 3D, cortadoras a laser, laboratórios eletrônicos e tudo mais que você possa imaginar. Basta pagar uma mensalidade e começar a produzir.

21. Landshare

Hortas urbanas e produção local de alimentos também são uma vertente do movimento de “fazedores”. O Landshare é uma plataforma que une quem quer plantar com quem tem espaços de terra sobressalentes, de pequenos quintais a sítios. Uma vez conectadas, essas pessoas decidem juntas o que e como plantar e como a produção será dividida.

22. Ponoko

Os usuários do Ponoko podem enviar projetos digitais de produtos para serem produzidos para uso próprio ou vendidos para outros usuários do site. O Ponoko tem uma rede distribuída de fabricantes que está crescendo em todo o mundo. Quando uma venda é realizada o fabricante mais próximo do cliente é acionado para imprimir o produto em 3D, cortar a laser ou em máquinas de usinagem CNC.

Consumo consciente

Eventos de pessoas, como eu e você, se encontrando para consertarem seus produtos velhos ou estragados
Eventos de pessoas, como eu e você, se encontrando para consertarem seus produtos velhos ou estragados

Será que o mundo tem espaço para mais toneladas de baboseiras plásticas da China? Essas plataformas são para quem acredita que não.

23. Freecycle

Movimentos como o Freecycle e o Free your stuff são comunidades de doação de objetos usadas.

Basta se juntar a um dos fóruns locais e começar a doar e/ou receber. Vale de um tudo: roupas, livros e até móveis. A ideia é fazer com que os produtos circulem de quem quer para quem tem, gerando menos disperício de recursos e menos quartinhos do entulho.

24. Repair Cafe

Imagina que transgressor seria se a gente aprendesse a consertar as nossas coisas?

Apesar de parecer óbvio, estamos tão desconectados do fazer manual que qualquer objeto parece algo misterioso, complexo, um trabalho para especialistas técnicos.

A ideia do Repair Cafe é simples: organizar eventos de conserto de objetos. Pessoas com diferentes habilidades dentro de uma comunidade se unem para ajudarem umas às outras a recuperarem seus aparelhos e gadgets, ao mesmo tempo que se conectam e se divertem. No site, existe um guia passo a passo para que qualquer possa organizar localmente a sua própria versão do Repair Cafe.

Trabalho

A casa Lab89, em São Paulo
A casa Lab89, em São Paulo

Trabalhar das 9h às 18h todos os dias para viver nos fins de semana e nas férias é uma opção para cada vez menos pessoas. A colaboração tem se tornado um fenômeno importante para permitir que as pessoas ganhem a vida fazendo o que gostam. Ou pelo menos que não se submetam mais a empregos que odeiem.

25. Laboriosa89

Uma das muitas definições da Laboriosa89 é um espaço onde trabalho, aprendizagem e diversão acontecem ao mesmo tempo.

Sem curadoria, de acesso livre e contribuição voluntária, a casa na Vila Madalena tem se tornado hub de inovação e negócios em rede. A Casa Liberdade, em POA, o Catete92, no Rio, e o Ateliê em rede, também em São Paulo, são outros exemplos de espaços com a mesma filosofia.

26. Taskrabbit

Sabe aquelas tarefinhas chatas do cotidiano, tipo fazer compras ou montar móveis?

O Taskrabbit ajuda as pessoas encontrarem quem esteja a fim de fazer isso por elas. Os usuários postam as tarefas e definem o valor máximo que estão dispostos a pagar para quem fizé-las, como em um leilão reverso. Os “rabbits” fazem propostas e o usuário escolhe a que for mais interessante.

27. TimeRepublik

A ideia de bancos de tempo não é das mais novas, mas com a Internet, ela tem ganhado cada vez mais força. Plataformas como o Timerepublik e o Bliive permitem que pessoas troquem serviços, sem envolver transações monetárias.

28. Freelancers Union

Quem é freela sabe: coisas como seguro saúde, vale alimentação, plano de previdência privada, fazem muita falta. Mas quando vários freelas se juntam, é possível conseguir todos esses benefícios sem precisarem se submeter às amarras de um emprego formal.

Essa é a ideia do “sindicato” dos freelancers, que além de facilitar o acesso a esses serviços, cria uma comunidade de suporte, que se comunica, troca dicas e recomenda (ou não) empresas contratantes.

Lifehacks

Atalhos práticos para o dia a dia
Atalhos práticos para o dia a dia poderia ser uma tradução feijão com arroz pra “lifehacks”

Além de encontrar soluções para problemas complexos, a colaboração também pode ser usada para ajudar a resolver coisas simples, do nosso dia a dia.

29. Occupy.here

Aplicativo criado no contexto dos movimentos Occupy. Os celulares conectados pelo aplicativo criam uma rede local para compartilhamento de arquivos que independe de qualquer conexão com a Internet.

30. Bug me not

Você já ficou com preguiça de criar login em sites que vai usar apenas uma vez? Ou de submeter seu email para um serviço que você sabe que vai te mandar newsletters para todo o sempre? No bugmenot você pode buscar sites pelo nome ou link e encontrar logins e senhas compartilhados por outros usuários para uso livre.

31. 4sqwifi

Aplicativo alimentado pelos próprios usuários usando dados do foursquare que indica quais locais próximos a você possuem wifi gratuito, compartilhando os dados de nome de rede e senha.

* * *

E vocês, quais projetos e apps não viram nessa lista e gostariam de compartilhar conosco?

Camila Haddad

Administradora, mestre em desenvolvimento sustentável e, precisou de duas graduações e uma pós para entender que a gente aprende mesmo é com os outros, as experiências, a ação. Atualmente, se diz em processo de desescolarização. Apaixonada por educação e entusiasta de movimentos colaborativos, juntou os dois no <a>Cinese</a>."