“Imagine se, por algum estranho motivo, a música parasse de tocar e pudesse ser consumida apenas através de partituras. O mundo ia ficar mais triste, bem mais triste. Pois isso aconteceu com a poesia: afastada do corpo e da fala, confundida com a escrita, passou a ser monopólio de um estreito círculo de iniciados. Mas isso está mudando.”
Assim falou Chacal, em uma de suas leituras. Partindo desta provocação, este texto de agora tem duas pretensões: dobrar a meta e se tornar um ponto de retorno.
A duplicação da meta corresponde aos 26 convites já feitos aqui no PdH, que se efetivaram a partir da poesia como presença escrita. Agora, ela decola do papel, encontra uma leitura possível na voz de alguém e a mágica acontece.
Retornar, aqui, é tornar a ver, tornar a escutar. Às vezes nos pegamos, real ou virtualmente, automatizados, acelerados demais quanto ao conteúdo que nos chega. E isso acontece a tal ponto que não é raro perceber que um sem número de diálogos que nos cercam – no elevador, no jantar de família, na página famosa do Facebook – não passam de monólogos intercalados.
Expressas em vozes que as inflamam, as poesias nos convidam a desativar uma escuta mecânica e encontrá-las de um jeito que, a cada repetição, deixa entrever algo de novo. Elas também nos convidam a encontrarmo-nos diferentes: mais atentos, mais intensos, mais gentis.
Isso tudo porque as pessoas que aqui estão mencionadas, emprestando sua voz à materialização do poema, possibilitam nosso encontro com outro tipo de tempo, aquele que derrete o relógio. E, fazendo isso, nos lembram que, antes de responder alguém vorazmente, é possível contar até dez; antes de deixar que qualquer correnteza nos leve, é possível reaprender a nadar; antes de desistir do amor, é possível escutar Matilde Campilho.
Sem mais delongas, vamos aos (outros) 26 convites – viu aí, dobramos a meta. Mais que dobramos. Dessa vez serão 27. Espero que derretam.
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