Perguntei para vários da Equipe PdH: “O que você fez em 2010 e facilmente repetiria em 2011?”. Como às vezes não dá para repetir, vale deixar a sugestão para que outra pessoa repita por nós.

Antes de ouvir você, leitor PdH, listo as respostas que recebi. Juntando os posts e os comentários, quem sabe não chegamos em 2010 experiências?

Já adianto minha percepção do que li: é impressionante como não são as experiências de pico, inusitadas, intensas, surreais e pontuais que mais nos marcam. Ao contrário do que normalmente se pensa, as grandes felicidades residem no próprio cotidiano, na vida comum, no fluir quase despercebido dos instantes. Às vezes mais em morar do que viajar, mais em casar e cultivar boas relações do que transar com dez ao mesmo tempo.

Ser despejado (Guilherme Valadares)

Fórmula 1, uma pilha de roupas sujas, duas camas e três moradores. Carinhosamente apelidado por nós de Bangu 1.

“No dia 14 de abril desse ano, uma quarta, acordei às 9h com o interfone buzinando. Era o porteiro avisando que um oficial da Justiça estava na portaria me aguardando. Fiquei confuso, naturalmente pensei se tratar de algum engano. Ao descer, cumprimentei o homem. Um sessentão com semblante tranquilo e voz de barítono, que me recebeu com a seguinte frase: “Meu querido, você está sendo despejado”.

Atônito, os segundos seguintes fritaram meus circuitos cerebrais num misto de confusão, dúvida e, finalmente, raiva ao descobrir o motivo. Me esqueci de uma dívida em aberto em relação a um atraso de aluguel do ano anterior. A dívida havia sido negociada com a Porto Seguro. O escritório de advogados deles supostamente tentou me contatar para avisar dos prazos estourados – nunca recebi ligação ou email, em todo caso, deixa pra lá. A moral da história é que quando o tal oficial chegou, a ação de despejo já havia sido julgada e protocolada. Não tinha volta.

Diante do caos ao ver todo o meu apê ser encaixotada ferozmente pelas delicadas mãos dos capatazes do caminhão de mudança, parecia enfrentar “O Fim”. O loft onde moro era também o QG do PapodeHomem, todos se encontravam lá para trabalhar. Sem loft, sem QG. Sem QG, PdH?…

Enquanto me perdia em sinapses confusas, me vi cercado de amigos. Felipe Stocker, advogado, apareceu no prédio em poucos minutos pra discutir com o oficial de Justiça. O Gus fez seu melhor tentando embalar nossos itens essenciais em malas. Felipe Ramos nos conseguiu um quarto de hotel no Fórmula 1.

Corri atrás de documentos e tentei sair dessa, tudo em vão. Ao meio-dia estávamos assistindo o caminhão levar tudo o que tínhamos para um depósito localizado um pouco além da putaqueopariu, na zona desconhecida de São Paulo. Isso enquanto o oficial de Justiça nos pagava um cafezinho (pasmem!) e contava da dificuldade de sua profissão mal paga.

Tinha uma reunião absurdamente importante no trabalho (ainda não era full-time PapodeHomem na época) e precisei me recompor e seguir firme para a labuta.

À noite, chego em minha nova “casa”. Um cubículo com beliche, uma TV, um banheiro e uma pia do Fórmula 1. Rafa Barros estava frenético trabalhando em seu Macbook, como sempre. Felipe e nosso amigo Juan Pablo estavam jogados na cama de baixo, dando risadas e contando histórias. Diante do aparente caos dessa tragédia, estávamos unidos. Descobri ter amigos estupidamente leais. Me esqueci das enormes dívidas, do PdH sem QG e do despejo. Abri um sorriso e abracei meus comparsas.

Upgrade. Após uma semana fomos para um hotel na Augusta, com uma cama pra cada um.

Três dias depois celebrei meu aniversário em uma das melhores festas do ano, junto com os mesmos amigos. Ser jogado no olho da rua me mostrou o quão absurdo é o poder de amizades verdadeiras.

Moramos em hotéis durante um mês, rachando cada despesa e comendo PFs de esquina. Um mês depois, reconquistamos o loft. A celebração foi uma garrafa de vinho quente compartilhada por quatro marmanjos na jacuzzi gelada – estava auspiciosamente estragada nesse dia.

Em 2011, espero ser despejado novamente.”

Um mês depois, voltamos a morar no loft original. QG PdH de volta. Apê *sem nada*.

Viajar bastante (João Baldi Jr.)

“Seja pra Florianópolis pra ver meus tios, pra São Paulo pra ir a shows, pra Londres depois de meses de planejamento, pro interior de Minas pra encontrar meus amigos de faculdade ou pro Espírito Santo pra visitar aqueles parentes por parte de mãe dos quais eu realmente não gosto e com os quais só falo pra evitar alguma cisão grave na família que destruiria os nossos finais de ano pra sempre, uma coisa que eu fiz bastante em 2010 e gostaria de fazer de novo em 2011 é viajar.

Pelo desconhecido, pela sensação de estar fora de casa, pelas experiências novas, pelo aprendizado que apenas se perder bêbado no metrô de Munique sem falar nenhuma palavra em alemão além de “danke” – se me assaltassem ou me batessem tudo que eu poderia dizer é “obrigado” – pode te dar. Pela fuga da rotina, pela liberdade de ser um pouco diferente, pelas pessoas e coisas que você nunca veria em nenhum outro lugar. Ou seja, em 2011 espero que não só eu como todos vocês consigamos viajar mais. E que os vôos cheguem mais nos horários também, seria uma ajuda bacana, admito.”

Eu sou o cara de moleton azul que parece estar sobrando na foto.

Fazer uma tatuagem (Rodrigo Cambiaghi)

“Fazer uma tatuagem pra mim foi mais do que simplesmente ter uma figura cool no meu corpo pra mostrar por aí. Quando decidi fazer minha tattoo foi pra guardar uma fase importante da minha vida e as lições que eu aprendi nela. Assim, sempre que eu olhasse pra minha tattoo eu lembraria daquele momento foda da minha vida pra me motivar.

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Em 2011 quero fazer outra não só pra concluir o desenho esteticamente (é uma tattoo oriental) mas pra agregar outras lições importantes que tive no decorrer do tempo.”

Comprar um apartamento à vista (Bruno Melo)

“A minha maior experiência foi comprar um apê à vista, com as economias que juntei ao longo da vida. Foi uma experiência duca, mas não sei se enquadra na parada porque não é uma coisa que eu vou repetir em 2011. Mas certamente alguém vai.”

Viver experiências comuns (Roberto Del Grande)

“Tive algumas experiências muito fodas… Por mais que pareçam pequenas e comuns, cultivá-las é de grande valia e crescimento:

  • Manter a amizade e além de mantê-la, aumentá-la de toda a galera do QG PdH com quem já tive o prazer de morar e acompanhar grandes marcos.
  • Tornar-me um diretor da área de digital numa das maiores agências do mundo. Foi um grande desafio.
  • Casar (vocês acham que é fácil?)
  • Ter desistido de voltar a morar no Sul.”

Conhecer a Ásia (Junior WM)

“Vivenciar um profundo choque cultural confrontando nossos valores ocidentais ao ver pessoas levando uma vida tranquila sem se preocupar muito se há tempo suficiente, sem nossa típica correria diária, sem se tornar escravas da própria rotina. Passear por um mundo completamente novo e, até então, apenas imaginário brindado com um largo sorriso em cada rosto, por mais pobre que seja, pois o importante é estar em paz consigo mesmo e assim conquistar o mundo.

Trouxe dessa viagem uma mochila cheinha de esperanças e novas formas de ver a vida!”

Organizar meu primeiro MasterMind (Seiiti Arata)

“Em 2010 fiquei muito feliz em organizar meu primeiro MasterMind, conceito que aprendi com Napoleon Hill, no livro Quem pensa enriquece.

Basicamente, um MasterMind é um grupo de pessoas que colabora com harmonia em direção a um propósito definitivo. O nome “mente mestre” é usado para descrever o fenômeno da emergência uma inteligência maior do que a soma de cada parte individual representa.”

Morar em outra cidade e viajar sozinho (Gus Fune)

“Viajar sozinho: na verdade foi em 2009, mas definitivamente vale repetir em 2011. Faça as malas e vá passar férias um lugar diferente, sem conhecer ninguém. Você está sozinho, às vezes nem fala o idioma daquele local e não conhece nada. Vai deixar de se divertir?

Uma das experiências mais fodas que fiz foi viajar nesse esquema. No fim de 2009 passei uma semana sozinho em Nova Iorque. Ao viajar sozinho você acaba se tornando mais sociável, mais ousado e mais aventureiro. Em uma semana você conhece mais pessoas diferentes do que conheceria em um mês, rodeado de amigos. Conhece lugares que nunca imaginou e passa por situações que vão te fazer pensar diferente sobre certas coisas.

Mudar de cidade e morar sozinho: 2010 foi marcante pelo fato de começar o ano e logo de cara mudar de cidade. Novos amigos, outra dinâmica, outra cultura e um lugar totalmente diferente. Mudar os ares faz com que a gente cresça bastante pelas situações que passamos, pelos grandes amigos que fazemos longe de casa e pelos novos desafios que não existiam ao morar com os pais. Se pudesse, eu mudaria de cidade todo ano.”

Nada como viver sem nunca precisar fechar a porta do quarto.

Casar (Thiago Kiwi)

“2010 foi um ano de mudanças na minha vida. Mudei de país, de emprego e de estado civil. Sem dúvida, essa última mudança foi a maior e talvez mais importante que eu podia ter feito. Nunca imaginei que um dia me casaria – muito menos que o faria aos 22 anos. Mas aconteceu. Foi foda. Por mais clichê que pareça, aquelas coisas que se falam em filmes e livros é verdade: foi o dia mais feliz da minha vida.

E o melhor é o que vem depois. Saber que eu e minha esposa somos agora uma unidade, uma família, e saber que um vai estar lá, sempre apoiando o outro no que precisar, são alguns dos sentimentos mais satisfatórios que vêm com o “pacote”. Casar envolve uma puta responsabilidade e maturidade suficiente para aprender com as diferenças do outro, mas cada gota de suor ou ruga de preocupação valem a pena.

Em 2011 não vou me casar novamente: eu quero é continuar casado.”

Taí, eu, casado. | Foto: Aimee Hurst.

Andar de skate (Pedro Jansen)

“Já disse isso muitas e muitas vezes, seja em texto, seja em tweets: uma das melhores coisas que experimentei em 2010 foi andar de skate. Passei pela infância e pela adolescência me concentrando em outras práticas mais seguras e menos desafiadoras para o meu parco equilíbrio. Mas então em 2010 não pude mais escapar da vontade transformar o prazer que sentia vendo a molecada andando de skate na Paulista e comprei meu skate.

Daí, tirei umas manhãs de sábado para dar as primeiras remadas, enfrentei a Paulista cheia numa sexta-feira pra subir e descer a melhor calçada de Sampa e fui apresentado à praça Alexandre de Gusmão, ali atrás do Trianon Masp, bom lugar pra dar uns rolês e praticar remadas, equilíbrio sem precisar desviar de ninguém. Trouxe também o skate para o trampo, para tentar dar rolês durante o almoço…

Vou repetir muito a experiência esse ano, já que no fim de 2010, infelizmente, quase não peguei no skate. Sorriso garantido.”

Fotos: Jucélio Jr.

E você?

Relate nos comentários algo significativo que viveu em 2010 e acha que vale a pena alguém (ou você mesmo) repetir em 2011. Não precisa ser nada grandioso, pode ser algo como “fiz arroz pela primeira vez”.

*A parte 2 será publicada na quarta, dia 12/1.

Gustavo Gitti

Professor de <a>TaKeTiNa</a>