Cada um dos pelinhos do meu braço se arrepia como se estivesse numa competição de levantamento sincronizado. Minha perna direita parece a de uma costureira no pedal da máquina e não para de mexer. Tem dias que eu encosto a cabeça na janela do ônibus e viro atriz principal daquele clipe dramático que tá passando só na minha cabeça. Eu não consigo deixar as mãos paradas. Meu coração fica quentinho, fica gelado, bate mais rápido e quase para. Depende do tom de voz. Outro dia aquele agudo me paralisou. Mas pelo menos um lugarzinho do meu corpo, meu amor, sempre estremece quando ouve você.

Eu queria muito começar essa lista explicando o que a música provoca em mim. Depois dessas primeiras linhas do rascunho, eu percebi que a descrição batia com aqueles textinhos bestas que a gente faz pra primeira (segunda, terceira, quarta) paixão das nossas vidas. Bem no auge do sentimento.

Mas, ein… música é isso, né? Uma paixão no auge. Um primeiro amor. O toque de pele que combinou. Uma notícia boa.

E como toda notícia boa, merece ser compartilhada. 

Já faz um tempo que venho percebendo o quanto minhas influências musicais foram viciadas naquele kit artistas brancos + americanização. Acho que todo mundo tem essa fase, até porque é esse o esquema do bombardeio de cultura de massa. Pensando nisso, eu comecei a expandir o leque e cada play tem sido um mix de sentimentos. Daí veio a ideia de compartilhar essa lista com vocês.

A proposta é trazer rostos não tão familiares, sair um pouco do Nina Simone, Beyoncé e Rihanna. Pode acontecer de algumas pessoas já terem ouvido a lista toda, outras não vão conhecer nenhum desses nomes, mas o que vale é a intenção de troca.

No fim eu deixei um convite pra vocês. E aqui eu deixo outro: não esquece de compartilhar suas indicações nos comentários, por favor?! Porque não tem coisa melhor nessa vida do que ouvir música nova.

[Na verdade tem algumas coisas melhores sim, mas para efeitos de dramatização do texto a gente deixa quieto].

Vem escutar esse compilado de coisa boa 🙂

 

1. Y'Akoto

Eu não consegui começar por outra voz. Dá play que você vai entender.

2. Akua Naru

Akua é, de longe, a cantora que tornou mais difícil o processo de escolher uma única música pra colocar aqui. Ela é uma das referências femininas do hip hop e do meu coração também, devo confessar.

3. Tássia Reis

Não é só a capa do disco que é bonita. A Tássia é uma das maiores representantes do rap nacional e veio pra abalar nesse álbum, que foi lançado mês passado.

4. Janelle Monáe

Não contente em ter uma voz potente, ela também dança divinamente. Olha esse clipe e me diz se não dá vontade de dançar junto?!

5. Kessidy Kess

Continuando na onda de ver além de ouvir: eu já perdi as contas de quantas vezes assisti esse clipe e mostrei a música pra galera. Vale!

6. Jojo Abot

A primeira vez (e todas as outras) que eu escutei Jojo, me transportei pra um lugar que até hoje eu tô procurando. Dá play e sente.

7. Lay

Lay é causadora. De Osasco pra cena no rap, ela lançou o último álbum 129129 e meteu não só um, mas os dois pés na porta de uma vez.

8. Esperanza Spalding

A Esperanza é estadunidense, cantora de jazz e faz parecer que o contrabaixo nasceu pra voz dela e a voz dela nasceu para o contrabaixo. 

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9. Drik Barbosa

Mais uma representante importante do rap nacional. Drik Barbosa tem uma voz de peso, bagagem foda e, além de tudo, marcou presença em uma das músicas favoritas da minha vida.

10. Aretha Franklin

Ela já foi considerada a maior cantora de todos os tempos pela Rolling Stone; quando a gente escuta essa voz dá pra entender totalmente o porquê.

11. Dona Ivone Lara

Como não escutar essa mulher até o sol raiar? Dona Ivone Lara, mais conhecida como a rainha do samba, tem uma discografia de encher os olhos e uma voz que faz pulsar o coração de alegria.

12. Lianne La Havas

Lianne esteve em terras brasileiras esse ano, abrindo o show do Coldplay. Ela é cantora de folk, soul, compositora, multi-instrumentista e leva a gente pra um outro nível de experiência musical.

13. Ellen Oléria 

Ela é do vocal, da percurssão, da guitarra e do violão. Daquelas pessoas que já te ganham no primeiro sorriso, imagina no primeiro cantarolar.

14. Lenna Bahule

Moçambicana, Lenna veio morar no Brasil em 2012 e se inspirou na cultura popular do nosso país, além de Bobby McFerrin e gospel. Seu álbum Nômade é uma fusão do que há de melhor aqui e em Moçambique.

15. Teresa Cristina

Essa carioca tem uma discografia extensa e seu último álbum, Teresa Cristina canta Cartola, é especialmente encantador.

16. Rokia Traoré

Essa aqui eu dedico ao Jader, editor da casa. Quando ele me apresentou a Rokia eu já me apaixonei logo na primeira música (que, inclusive, foi essa).

17. Juçara Marçal

Ela apareceu no Convoque seu Budamas chegou no mundão bem antes. Professora e cantora, a Juçara tem uma voz firme e um papo reto; dá um play!

18. Solange

A Solange tem o rosto igual ao da Beyoncé (não tem?) e não é por coincidência. Além de DJ, dançarina, modelo e atriz, a irmã da diva também canta; e como canta!

19. Sara Tavares

A Sara é portuguesa com ascendência cabo-verdiana. Um dos seus álbuns, o Balancê, foi considerado um dos melhores do ano em 2005, e conquistou o globo de ouro.

20. Elza Soares

Ela dispensa apresentações e foge do propósito de trazer nomes não tão conhecidos, mas eu não tinha como terminar essa lista com outra pessoa e outra música.

Vale deixar registrado também, pra quem ainda não ouviu, a minha indicação pro o último álbum dela. Ele foi lançado ano passado e marcou presença na lista dos melhores discos de 2015 feita pelo PdH.

***

Eu quero aproveitar essa lista pra propor uma continuidade no papo que eu comecei lá no início. E se trocássemos mais artistas entre nós? O número de cantores norte-americanos que eu consigo citar em dois minutos é muito maior do que de cantores colombianos ou uruguaios, por exemplo. O de paulistas é infinitamente superior ao de qualquer outra parte do país.

Há um mundo de músicas pra ouvir.

Tem muita coisa boa  que você não conhece e tá perdida por aí, mas também tem muita coisa incrível que você conhece e pode indicar. O que acham de algumas listonas musicais individualmente focadas em certos países/regiões do Brasil/estilos?

Me contem o que pensam da ideia aqui nos comentários! Abraço 🙂

Carol Rocha

Leonina não praticante. Produziu a série <a> Nossa História Invisível</a>