Desde pequeno amo música erudita. Frequentei uma igreja que possui uma grande orquestra, e aquela sonoridade sempre me encantou. Aos 11 anos, aprendi a tocar flauta e um pouco mais tarde comecei a tocar trombone também. Infelizmente a vida adulta chegou e eu acabei escolhendo cursar economia primeiro e deixar música pra depois. Mas esse depois há de chegar.
Na minha adolescência minha irmã comprou diversos CDs da Coleção Folha de Música Clássica e o encanto virou amor.
Quando falo nesse estilo as pessoas tendem a achar que é chato. Mas o que elas não sabem é que as músicas clássicas são um poço de sonoridade e sentimento. Há algumas que são ótimas para ouvir quando se está na bad, outras são pra momentos de euforia extrema, algumas pra você acordar e ficar alegrinho (que nem ouvir passarinhos na janela, sabe?) e tem também aquelas pra momentos em que você quer apenas se distanciar do mundo.
Vou compartilhar com vocês as minhas 19 músicas preferidas, nas minhas versões preferidas. Digo versões preferidas porque dependendo do maestro, ou da orquestra, a interpretação pode variar bastante e mudar todo o sentido da música. Tentarei passar pra vocês um pouco do que elas representam pra mim também. Vamos lá?
1. Sinfonia da Despedida – Sinfonia nº 45 em Fá# – Haydn
Essa é uma das mais interessantes que eu já vi. A Sinfonia é uma obra política.
Havia uma regulação no império húngaro para que os músicos fossem ao palácio de Esterhaza no início do verão, mas sem suas famílias. Por esse motivo eles ficavam o verão inteiro sem ver os familiares. Após um verão longo, os músicos, inconformados, pediram que Haydn intercedesse de alguma forma ao príncipe. Haydn fez então uma obra magnífica como protesto político.
No quarto movimento da peça, as luzes se apagam, a música muda totalmente e os músicos vão, um à um, parando de tocar e saindo do palco. Até que o próprio Haydn, que regia, sai do palco deixado apenas dois violinos pra finalizar a obra num som quase inaudível.O príncipe entende o recado, “Meu caro Haydn, entendi a mensagem! Os músicos têm saudades de casa… Muito bem! Amanhã fazemos as malas…” e libera os músicos.
O vídeo é da obra completa, mas o quarto movimento começa por volta do minuto 20.
2. The Flight of the Bumble Bee – Rimsky Korsakov
Como flautista que sou, não podia faltar essa na lista. Uma das músicas que mais exige habilidade que eu conheço, “o vôo da mosca”, é daquelas que causam um negócio estranho no corpo. A sensação de ter realmente uma mosca no seu ouvido é ao mesmo tempo fascinante e incômoda (de um jeito bom, se é que isso existe). E não existe versão que eu goste mais do que a do lendário Sir James Galway, um dos melhores flautistas contemporâneos.
3. Ode To Joy – Sinfonia nº 9 – Beethoven
Se tem alguém que sabe colocar sentimentos em músicas, ela se chama Beethoven (o compositor, não o cachorro).
As 9 sinfonias de Beethoven estão, com certeza, entre os maiores feitos da humanidade. Existem relações de cada uma das suas sinfonias com a psicologia, mística, magia e outras paradas. A 9ª é a que me chama mais atenção, a que me dá o maior sentimento de potência. Uma parte muito conhecida dessa sinfonia é o “hino à alegria”. Também muito conhecida na versão dos Muppets, é sob a regência de Leonard Bernstein que ela atinge o ápice nos meus ouvidos.
4. Can Can – Offenbach
Ok. O Can Can não é uma música, e sim uma dança francesa. Eu sei. Mas o “Galop” da obra “Orphée aux enfers” de Offenbach é A Música quando o assunto é Can Can. Muito lembrada em novelas de época, principalmente em cenas de bórdeis, Can Can é um resumo da palavra ‘farra’ em música. Sem contar que não dá pra esquecer a dancinha.
5. Pas de Deux – O Quebra Nozes – Tchaikovsky
Se tem uma coisa que eu gosto são balés. Nossa, como eu amo balés. Não necessariamente a dança. Eu gosto da música dos balés, elas são muito bonitinhas, fechadinhas, fofinhas.
E O quebra Nozes é o balé mais que eu mais amo. Talvez porque tenha sido o primeiro que eu ouvi, no filme do Tom e Jerry. Mas principalmente por esta composição.
Pas de Deux é a música que eu ouço quando quero sumir, me afastar completamente do mundo. Seu início suave, sob o dedilhar das cordas de uma harpa, é um alívio completo pra mente. A continuação com o oboé e o clarone são a volta à terra depois de um passeio no céu. E a ascensão com as cordas (violinos, violas e violoncelos) rompendo numa linda harmonia de metais é o que há de mais sublime numa música. Um encontro de dois mundos, o terreno e o sublime. Sem contar que o final soa pra mim como um “vai ficar tudo bem”.
Não por acaso é a música mais tocada no meu Spotify.
6. O lago dos Cisnes – Tchaikovsky
Se tem alguém que soube fazer balés foi o russo Tchaikovsky. O lago dos cisnes deve ser o balé mais conhecido da história da humanidade. E não é pra menos. É uma das coisas mais bonitas que alguém já produziu.
Como a obra inteira é linda fica difícil escolher uma parte, por isso compartilho a introdução, e te deixar com vontade de escutar mais e mais e mais.
7. Nocturne – Sonho de uma noite de verão – Mendelsshon
Saindo do paraíso e voltando à terra temos Sonho de uma noite de verão. Sonho de verão é uma peça de teatro de William Shakespeare que foi musicalizada por Mendelsshon. Ele iniciou essa produção quando tinha 17 anos e só foi finalizada mais de 15 anos depois.
Eu costumo dizer que Nocturne é a música que vai tocar na minha festa de casamento, se houver uma. O que é em si, uma contradição, visto que faz parte da mesma obra a famosíssima marcha nupcial (aquela mesma, que toca em 150% dos casamentos existentes).
A música é a expressão de beleza e controle, já que tem como instrumento “principal” (na minha visão, Mendelsshon nunca disse isso, pelo amor de deus) a Trompa, um dos instrumentos que mais exige controle próprio. Sem contar, com o dueto que as flautas fazem durante a música, que é divino.
É aquela música que eu falei no comecinho, pra colocar quando acordar, com os passarinhos cantando, cheiro de café de vó…
8. Imperial March – Jonh Williams
Essa você conhece vai. Não precisa ser nerd para lembrar da famosa Marcha Imperial que toca toda vez que Darth Vader entra em cena. E se ela for regida por ninguém menos que Palpatine? Com a presença ilustre dos StormTroopers e do Vader em carne e força?
Além de ser uma composição linda, como toda a trilha sonora de Star Wars, ter elementos da própria cultura nerd na apresentação faz com que essa seja a minha versão preferida.
9. Hedwiges Theme – Jonh Williams
A música tema de Harry Potter também não podia faltar. De uma leveza impressionante, representada muito bem pela Celesta, a música me encantou a primeira vez que ouvi, lá em Harry Potter e a pedra filosofal. Ela foi sendo adaptada nos outros filmes, mas essa versão é a que acho mais completa.
Dava pra fazer uma lista só de John Williams. O cara sabe o que faz. Além das trilhas sonoras de Star Wars e Harry Potter, ele fez também as trilhas de Jurassic Park, ET – o Extra Terrestre, A lista de Schindler, Indiana Jones, Superman (o bom, com Christopher Reeve), Guerra dos mundos, A menina que roubava livros e O resgate do Soldado Ryan.
10. Piratas do Caribe – Hans Zimmer
É um dos meus filmes preferidos. Como não rir do patético Jack Sparrow? “Capitão! Capitão Jack Sparrow”. E como não amar a trilha de Hans Zimmer? Eu mesmo fiz um vídeo em que toquei parte dela na flauta (tá no meu Facebook). É difícil escolher qual das músicas é melhor. Além de serem todas bem dançantes, não tem como escutar e não pensar no pirata mais trapaceiro dos 7 mares (e até do outro mundo). Sigam com um tributo ao filme.
11. A cavalgada das Valquírias – Die Walküre – Wagner
“A Valquíria” é uma das quatro óperas que compõem “O anel do Nibelungo”. Inspirada em mitologia Nórdica ela é uma das minhas preferidas exatamente por misturar música com elementos culturais tão específicos.
A sua parte mais conhecida é a Cavalagada das Valquírias que, apesar de fazer parte da ópera, costuma ser lembrada pela versão puramente instrumental. Com seus potentes trombones, a obra é uma das que mais me chama atenção no quesito força.
As Valquírias são deidades da mitologia nórdica responsáveis por levar os guerreiros mortos em batalha ao salão dos mortos, Valhalla, à presença de Odin. Detalhe, elas cavalgam corcéis de fogo.
Bom, deidades cavalgando em corcéis de força, só podia ser representado por força bruta mesmo.
12. O Fortuna – Carmina Burana – Carl Orff
Continuando nas óperas, Carmina Burana é um conjunto de mais de 200 poemas e textos dramáticos escritos em latim medieval e alto-alemão dos séculos XI e XII. Orff musicou 24 deles, sendo O Fortuna o mais famoso. É incrível a habilidade do compositor em musicar versos do século XI em 1937 e fazer com que se encaixem de uma maneira perfeita. Parecem que as duas obras foram feitas em conjunto.
O Fortuna fala sobre a sorte, sobre como ela é volúvel, por vezes aliviando, por vezes oprimindo nossa vida.
Não consegui uma versão boa que tivesse apenas “o Fortuna”, então segue Carmina Burana inteiro. “O Fortuna” vai até os 6:20.
13. L’habanera – Carmén – Bizet
Habanera é um estilo de música cubana. Na peça a Habanera é cantada por Carmén, uma cigana que tenta seduzir Don José por mais que ele resista aos seus encantos.
14. Dance of Kinghts – Romeu e Julieta – Prokofiev
Prokofiev é um dos maiores compositores do século XX, e talvez o maior compositor Russo. Romeu e Julieta é um balé (eu disse que amo balés) baseado na obra homônima de Sheakspeare.
Dance of Knights além de ser a minha parte preferida da obra, foi a que me apresentou ao regente que mais gosto: Valery Gergiev. De longe é o que consegue colocar expressar os sentimentos que a música pode trazer. Só há uma obra que eu não gostei da sua regência: O Quebra-Nozes, que por incoerência do destino é o meu balé preferido.
15. Scheherazade – Rimsky-Korsakov
Scheherazade é a narradora da coleção d’As Mil e Uma noites. A mulher conta ao rei persa uma história por noite, para que ele fique curioso pra ouvir o restante e não a mate. Tentei por horas separar uma parte pra vocês ouvirem, mas assim como na história original, você tem que ouvir tudo.
E novamente soba a regência magnífica de Valery Gergiev.
16. Eine Kleine Natchmusik – Mozart
Mozart está entre os maiores nomes da história da música. Produziu mais de 600 obras, entre sinfônicas, corais, pianística e outras. Um dos maiores nomes em violinos, na minha concepção, rivalizando com o próximo da lista.
17. Primavera – As quatro estações – Vivaldi
A obra magna de Vivaldi “As quatro estações” é uma das coisas mais bonitas que já fizeram pra violino (instrumento que eu nem sou muito fã). É dividida em Primavera, Verão, Outono e Inverno que podem ser escutadas tanto juntas quanto separadas.
E aqui temos Julia Fischer, eleita melhor violinista do mundo na década passada e com certeza a melhor que eu já vi, interpretando com toda a emoção possível essa linda obra. Vale a pena ouvir as quatro estações, mas fique pelo menos com a Primavera.
18. Badinerie – Suíte nº 2em Sí menor para flauta – Bach
A suíte nº 2 é uma obra linda para quem gosta de flautas. Sua parte mais conhecida, a Badinerie, é de uma leveza e ligeireza de causar inveja. É de tirar o folego.
19. Tocata e Fuga em Ré Menor – Bach
Bach é o maior compositor que já existiu.
Não consigo explicar muito sobre a tocata, é muito complexa pra minha cabeça simples. Mas fique com essa interpretação magnífica e com esse órgão que dá inveja de tão bonito.
Pra quem tiver interesse, também fiz uma playlist com todas essas músicas.
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