Um amigo me chamou para o meu primeiro ensaio. Ele não me conhecia pessoalmente, só pelas redes sociais. Ele mora em outro estado e disse que viria fazer um workshop com um fotógrafo famoso daqui e queria que eu posasse junto com a namorada desse outro fotógrafo que também era ruiva.
Pedi opinião pro meu namorado da época e ele disse que ficou preocupado em serem aproveitadores ou coisa do tipo, quase desisti, avisei pro meu colega que eu não era nenhuma modelo e muito tímida, e que meu corpo não era de uma mulher magra e etc… Ele disse: você é linda, vai dar tudo certo.
Eu meio que fui sem pensar… cheguei lá e a outra menina já tinha experiência. Já eu, nenhuma.
Um deles começou a tirar as fotos e eu achei que era um tipo de teste, mas já era valendo. Fiquei com muita vergonha, mas ele foi falando como eu tinha que fazer, fui tirando o vestido aos poucos e não sabia muito bem como fazer com o rosto. O lugar era lindíssimo e ao final do ensaio eu já estava bem à vontade.
Quando vi o resultado, não gostei, fiquei com vergonha do meu rosto e das poses… Mas fui recebendo um retorno bem positivo de amigos e alguns seguidores.
O fato é que nós crescemos com uma visão muito perfeccionista do corpo de uma mulher pelos motivos óbvios que todos conhecemos. Os editoriais são bem exigentes diante de padrões. Apesar dessas adversidades relacionadas a como eu me via nas fotos, algo dentro de mim mudou.
Parece fútil ir lá e tirar foto nua, ainda mais sendo anônima, pela exposição e pela objetificação do nosso corpo, já que vários homens vêm falar inúmeras coisas no direct… Porém, aquilo ativou uma outra ideia dentro de mim.
Na verdade, vários questionamentos vieram à tona, sobre eu ser mãe, professora e feminista… moralmente, eu sentia tão errado e ouvi tantas críticas, fui até demitida de um emprego por conta das fotos, fiz um Instagram só pra publicá-las.
Voltando ao que mudou, quando uma pessoa comum como eu posta foto pelada, várias coisas acontecem. A primeira: a vergonha. Depois, você olha tanto a foto que começa a achá-la bonita, daí você posta e tem feedbacks vindos de vários lugares… os amigos homens dizem que está bonita mas que você está se expondo, algumas amigas mulheres elogiam e dizem que também têm vontade de fazer fotos assim. Outras dizem que eu sou muito corajosa e que jamais fariam algo do tipo. Homens desconhecidos rasgam elogios.
Bom, voltando ao que mudou em mim. Eu comecei a pensar que existiam tipos diferentes de belezas e corpos e que tinha gente que admirava isso.
Parece óbvio em tempos de aceitação, mas não é. Um botão liga dentro de nós e começamos a enxergar outras belezas em filmes, novelas, revistas. De repente, você procura seus pares, numa busca por identificação. Por isso, faz todo sentido quando muitos grupos sociais pedem representatividade.
Quando você vive algo assim, a luta dos outros faz sentido. Quando a gente passa por todas essas fases, vem a próxima que é tentar de novo. Eu queria tirar mais fotos. Achei no Instagram o cara mais profissional que já conheci na vida. Fiz meu segundo ensaio com ele e vi que melhorei um pouquinho nas poses, só não melhorei mais por que ele era bonito e eu fiquei tímida. Depois disso, fiz mais um, dessa vez com uma mulher. O que faz toda diferença, ali a gente se sente em casa. Além disso, já me sentia mais madura e preparada. Agora, já estou em busca de outro. Tirar foto pelada vicia. Meus amigos riem e dizem "você é doida, Mônica!"
Talvez seja mesmo.
Ensaio 1 – Maicon Silveira
Foi feito pelo Maicon Silveira, fotógrafo de Porto Alegre, fiquei sabendo que ele viria para Brasília e me candidatei à oferta de ensaio.
Fiz esse ensaio porque eu tinha feito a página no Instagram, os seguidores cobravam mais fotos e me senti motivada. O Maicon é super profissional, um fotógrafo maravilhoso, apesar de ter ficado tímida nas fotos, foi o trabalho que eu mais gostei.
Ensaio 2 – Andressa Anholete
Realizado pela Andressa Anholete fotógrafa de Brasília, indicada por um amigo. Fotografar com uma mulher é diferente, fiquei muito mais à vontade.
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