Nota editorial: estamos em busca de Bom dias com homens e com mais diversidade de corpos e peles — aqui explicamos em mais detalhes o contexto atual da série, suas origens, obstáculos e nossa visão de futuro para ela. Se você é fotógrafo(a) ou tem um ensaio que deseja publicar, fale conosco pelo jader@papodehomem.com.br.

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O amor pelo meu corpo demorou um pouco pra chegar. Apesar do meu contato com o feminismo ter me mostrado cada vez mais que correspondo ao padrão de beleza esperado e que quase não tenho direito de reclamar por isso, essa reflexão não foi sempre presente.

 

 

 

 

 

Lembro de, aos 14 anos, escutar do meu primeiro namorado que eu não era gostosa. Eu tinha as pernas finas e os seios pequenos (que me acompanham até hoje) e nas primeiras descobertas sexuais não me sentia à vontade nem para tirar o sutiã. Aos 16 anos fui parada no centro da minha cidade por olheiros de uma agência internacional de modelos e na busca cega por conhecer outros países, fui me tornando cada vez mais crítica com a minha aparência.

Precisava caber nas exigências desse mercado e para isso perdi 8kg e 5 centímetros de quadril, alcançando a medida de 93, mas era insuficiente. Percebi que meu corpo me pertence, que não seria feliz disponibilizando ele como um cabide e insatisfeita com a falta de empatia desse meio, cai fora. Comecei cada vez mais a buscar a organicidade do que me rodeava até perceber que a descoberta mais interessante seria encontrar a mim mesma. Passei a perceber meu corpo de forma diferente, parei de me depilar, abri mão dos hormônios que me modificavam e limitavam cotidianamente e fui entendendo meu funcionamento natural.

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Quando recebi o convite do Rodrigo, já me encontrava muito mais segura e feliz. Mesmo tranquila com a minha aparência, me surpreendi com o resultado. Percebi que posso, apesar de medir 1 metro e 75 centímetros, ser delicada. Pensei que essa seria a oportunidade de tornar real várias imagens que eu já tinha criado na minha cabeça a maioria das vezes que me olhava no espelho. Compartilhar elas aqui significa reafirmar que a nudez não é necessariamente opressora, a exposição do nu feminino vai muito além disso.

Com o tempo fui entendendo que o meu corpo era muito mais do que os olhos alheios enxergavam. Ele é o meu lar.

As fotos são do Rodrigo Ricordi.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Boa semana a todos.

sitepdh

Ilustradora, engenheira civil e mestranda em sustentabilidade do ambiente construído, atualmente pesquisa a mudança de paradigma necessária na indústria da construção civil rumo à regeneração e é co-fundadora do Futuro possível.