Quando ele nasceu, em 1911, não havia sequer dados compilados sobre pessoas centenárias no Japão. Quando o governo local começou a organizar os números em 1963, eram apenas 153 indivíduos. Hoje, porém, já existem mais de 65 mil japoneses com três dígitos de idade essa porcentagem que já representa 0,05% do total não para de crescer.
O médico Shigeaki Hinohara infelizmente já não é mais um desses exemplos. Ele faleceu no ano passado, aos 105 anos, mas deixou pra trás 12 lições de longevidade através de uma entrevista dada quando tinha 'apenas' 97 anos.
Depois disso, o médico que dedicou mais de 80 anos de vida à medicina e foi um dos defensores do trato mais humano com os pacientes e de tratamentos alternativos aos medicamentos e intervenções cirúrgicas, seguiu trabalhando até os 102 anos de idade já que desfrutava de saúde mental e física impecáveis.
Abaixo, os conselhos de quem fez da própria vida um exemplo do que defendia e viveu (muito) pra contar:
1. Coma direito
A primeira dica de Shigeaki Hinohara você já deve ter ouvido falar muito por aí: se alimente bem. Como especialista e pesquisador do tema, ele tem propriedade ao falar que:
"Todo mundo que vive uma longa vida, independente de nacionalidade, raça ou gênero, compartilha uma coisa: ninguém está acima do peso."
É verdade que "só" ser magro, não garante nada, mas é quase um pré-requisito para conseguir viver mais.
Sobre isso, a Débora Navarro já deu a dica: "A gente consegue melhorar nossa relação com a comida."
2. Não pegue atalhos
Ainda de acordo com a dica número 1, o médico japonês recomendava que você não pegasse atalhos. E, segundo ele, não é necessário pagar uma academia caríssima ou comprar uma série de equipamentos pra sua casa, basta aproveitar as cosias do dia a dia:
"Para permanecer saudável, carregue suas próprias coisas e sempre suba de escadas. Eu, por exemplo, escolho subir sempre de dois em dois degraus para exercitar meus músculos."
Sobre isso, o Alberto Brandão pode te ajudar: "Malhando sem academia: como se exercitar em qualquer lugar."
Ou esta tradução do David Cain: "A vida é mais fácil quando você escolhe a escada."
3. Redescubra sua energia juvenil
Mas pelo tom das dicas até agora, você pode ter ficado com a impressão de que o Dr. Hinohara era defensor de uma rotina rígida. Aí é que você se engana. Nessa dica ele revela se permitia mudar a hora de comer e de dormir desde que fosse para fazer algo que lhe desse mais energia(!). Veja só:
"Energia vem de sentir-se bem, não de comer bem ou dormir muito. Todos nos lembramos quando éramos crianças e estávamos nos divertindo e simplesmente esquecíamos de comer ou dormir. Aquilo nos fazia mal? Pelo contrário. Eu acredito que podemos manter essa atitude enquanto adultos. É melhor não cansar o corpo com regras demais como hora de comer e hora de dormir."
Dessa vez eu recomendo a tradução do Brett McKay: "A arte perdida da diversão barata."
4. Mantenha-se ocupado
Lembra daquele ditado popular "cabeça vazia, oficina do diabo"? Pois é, segundo este senhor centenário, a dica para driblar o tempo é não ficar parado, mantendo as engrenagens sempre em funcionamento:
“Sempre se planeje com antecedência. Minha agenda já está completa pelos próximos cinco anos, com palestras e meu trabalho usual, no hospital.”
Aqui, acho que cabe mais uma tradução famosa, desta vez do Wisdomination: "Foda-se a motivação, o que você precisa é disciplina".
5. Mantenha-se trabalhando
A dica número 5 é bem parecida com a de número 4, mas ela diz respeito mais especificamente ao seu trabalho. Se manter-se ocupado pode se referir apenas a atividades que você gosta de fazer, manter-se trabalhando reforça que você deve continuar fazendo mesmo as coisas não tão legais, mas necessárias.
“Não há necessidade de se aposentar jamais, mas se for preciso, deve ser bem mais tarde do que aos 65 anos. Cinquenta anos atrás, haviam somente 125 japoneses com mais de 100 anos. Hoje, são mais de 36 mil”.
Mas lembre-se que existem trabalhos e trabalhos. Uns mais exigentes (física e mentalmente) do que outros. De qualquer forma, para chegar mais perto de conseguir seguir o conselho, duas dicas:
Mais uma de Alberto Brandão: "Construindo uma relação mais saudável com o trabalho."
E outra tradução, agora de Danielle Small: "A importância da criação de uma cultura de cuidado consigo mesmo no ambiente de trabalho."
6. Siga contribuindo com a sociedade
Ouvindo relatos de pessoas idosas, uma das principais queixas é o sentimento de solidão. O médico reforça essa preocupação e afirma que para combatê-la, o melhor método é se sentir útil de alguma forma. Por isso, ele defende que todos façam trabalho voluntário:
"Depois de uma certa idade, devemos nos esforçar para contribuir com a sociedade. Desde os 65 anos que trabalho como voluntário. Hoje, eu ainda trabalho 18 horas, 7 dias por semana e amo cada minuto."
Sobre isso, acho que cabe um texto do Eduardo Estellita chamado: "As vezes que o voluntariado me salvou."
7. Espalhe seu conhecimento
Ainda no sentido de tentar se manter útil, o médico recomenda que você repasse seu conhecimento. Além do valor de retornar à sociedade algo que a sociedade te deu, você pode assimilar melhor o que sabe.
“Divida o que você sabe. Eu dou 150 palestras por ano, algumas para 100 crianças do ensino médio, outras para 4.500 empresários. Eu normalmente falo por uma hora, uma hora e meia, de pé, para permanecer forte.”
Aqui, a tradução de Andrea Ayres-Deets cai como uma luva: "Você devia ensinar o que sabe (mesmo não sendo um especialista)."
8. Entenda o valor de diferentes disciplinas
E se o assunto é ensinar, a dica número 8 tem tudo a ver. Mesmo sendo um homem da ciência, Dr. Hinohara defendia que disciplinas como arte, música e história são tão ou mais importantes do que conhecer os fatos objetivos das ciências exatas e biológicas:
“A ciência sozinha não consegue curar ou ajudar as pessoas. A ciência trata a todos como uma coisa só, mas as doenças são individuais. Cada pessoa é única, e as doenças estão conectadas com seus corações. Para entender as doenças e ajudar as pessoas, precisamos de artes livres e visuais, não somente de medicina.”
Neste outro artigo meu, amplio um pouco a discussão sobre as matérias escolares: "29 coisas úteis que poderiam ser ensinadas nas escolas."
9. Siga seus instintos
Ainda nessa toada de buscar métodos alternativos para curar as pessoas das doenças, o médico defende que o hábito de levar uma vida mais simples e o contato com a natureza pode ser fundamental para evitar/combater doenças:
“Ao contrário do que se imagine, os médicos não conseguem curar tudo e todos. Então pra quê causar uma dor desnecessária com, por exemplo, uma cirurgia, em certos casos? Eu acho que a música e a terapia animal podem ajudar pessoas mais do que os médicos imaginam”
Neste tópico, acho que cabe o texto do Ismael dos Anjos sobre: "O que a natureza nos ensina sobre ser mais humanos."
E também este Redação PdH recente sobre "Qual a função da música na vida? (e como os homens podem se beneficiar disso)."
10. Resista ao materialismo
Já a dica de número 10 é muito simples e direta:
“Não enlouqueça pelo acúmulo de coisas materiais. Lembre-se: você não sabe quando será sua vez, e nós não levaremos nada daqui.”
Nesse caso, Alberto Brandão, de novo, nos explica como um mestre porque essa conta fica cada vez mais difícil de fechar em: "Devolvendo a simplicidade da vida."
11. Tenha modelos de vida e inspirações
Assim como o anterior, este tópico também é bem auto-explicativo, Hinohara acreditava no poder de ter mentores e conselheiros:
“Encontre alguém que te inspire para procurar ir ainda mais longe. Meu pai veio para os EUA estudar em 1900, foi um pioneiro e um dos meus heróis. Mais tarde encontrei outros guias de vida, e quando me sinto paralisado, me pergunto como eles lidariam com o problema.”
Bem no estilo "o que ele faria se…", recentemente fizemos um artigo que perguntava: "O que Bill Gates faria se só ganhasse $2 por dia?"
12. Não subestime o poder da diversão
Para encerrar, o médico volta a falar sobre a importância de ser feliz:
“A dor é algo misterioso, e divertir-se é a melhor maneira de esquecê-la. Se uma criança está com dor de dentes e você começa a brincar com ela, ela imediatamente esquece a dor. Hospitais precisam oferecer as necessidades básicas dos pacientes: nós todos queremos nos divertir. No St. Luke’s [hospital que dirigiu e trabalhou até o fim da vida] nós temos música, terapia animal e aulas de arte.”
E sobre isso, só posso deixá-los com a mensagem do Jader Pires: "Sorria."
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