Provavelmente, os passos foram dois para chegarmos até o texto deste artigo:
Primeiro, a chapa das livrarias esquentou. A FNAC tá fechando as portas. A Livraria Cultura, sua administradora e uma das mais importantes do país, não está pagando mais quem deveria e já está ameaçada de nem receber livros para o natal.
A Saraiva, então, fechando dezenas e pedindo recuperação judicial.
A crise no mercado editorial tá braba. Juntas, as livrarias devem R$ 325 milhões para as editoras. Se já é complicado para uma grande Companhia deixar de receber, imagina como fica para as pequenas editoras e para os autores e autoras independentes, que precisam desse lucro para produzir mais, para pagar as contas, para fazer com que a coisa siga acontecendo?
Eu escrevi, sobre essa crise, nas minhas redes:
"Não compre livros de grandes redes de livrarias.Vá nas livrarias do seu bairro, no bairro do seu trabalho, naquela livraria linda que seu amigo disse que tem no caminho.
Compre livros direto das editoras. Mais ainda, veja se dá pra comprar o livro direto com o escritor, com a escritora! Eles ganham mais assim.
Ajude quem produz este tipo de conteúdo. Ajude boas editoras. Parece um trampo a mais, mas você não faz ideia da ajuda, da independência, do tanto de problema que você vai ajudar a evitar.
“Suport local business”, compre local, consuma local.
Enquanto grandes redes estão fazendo e acontecendo, devendo tudo o que se pode dever, querendo pagar nada como já se poderia imaginar, e ainda fazendo pressão: “quem não aceitar o que quero pagar, nem precisa mandar mais livros”.
O mercado editorial brasileiro tem uma AVENIDA pra crescer. Ótimos autores, escritoras incríveis, muitos projetos lindos saindo de forno. Mas a gente precisa dar uma pequena chance, uma atenção pra que a grana vá para as pessoas certas: as editoras legais, os autores que trabalham pra cacete, para as livrarias pequenas que querem ver pessoas lendo.
Ajude. Vai ser lindo demais."
E daí, o segundo passo foi um texto da Martha Medeiros, que virou uma ideia, e saiu circulando por aí, que é dar um livro de presente neste natal.
"Livro tem valor, ao contrário de bugigangas. Livro é conhecimento, diversão, passatempo, cultura, terapia, conteúdo, filosofia, verso, ideia, pensamento, rebeldia, transgressão, emoção, conforto, catarse, vício, salvação, lucidez, espelho, fantasia, exorcismo – e enrascada, no meu caso: estou citando escritores de cabeça, sem nenhum compromisso ou critério além do meu afeto e admiração, imagine a reação dos amigos esquecidos, que seguem lendo esta crônica apenas para verem seu nome, ai de mim, mas pago o preço, esta coluna sim é que vai me custar caro, livro é de graça em comparação."
Parece que a ideia é batida. "Porra, descobriram em 2018 que é legal dar livro". Mas junta o início do papo aqui, de crise, muito mais administrativa do que qualquer outra coisa, claro, mas também a velha conversa de que brasileiro não lê, de que não nos importamos com livros, coma cultura em nosso país. Um milhão de pontos.
Se é para aproveitar então, e pra fazer jus ao meu discurso de ajudar livrarias pequenas e autores independentes, vou fazer uma pequena lista aqui de livros para quem quiser presentear as pessoas no natal e, de quebra, ajudar quem tá no corre pra vender seus livros.
Beleza?
Começando pelo jabá honestíssimo…
Jader Pires
Jader Pires é escritor. Largou a publicidade, a experiência de sete anos em um banco e foi escrever. Começou a ler livros depois dos vinte e teve que correr atrás do tempo perdido. Nunca precisou usar óculos.
Foi, por seis anos, editor do site PapodeHomem, além de atual colunista do site, com a querida coluna Do Amor, que já passou dos 2.5 milhões de acessos em quase cem edições.
Já lançou dois livros, o Ela Prefere as Uvas Verdes, livro com treze contos sobre perdas e encontros, e o Do Amor, compilado da coluna que, depois de dois anos, virou este livro com cinquenta e três histórias sobre as loucuras e certezas do amor.
Agora, lança o seu primeiro romance, Deserto Negro, já disponível para compra.
Cristiane Lisbôa
Ela é demais. Dá seus cursos amanteigados no Go, Writers! e já tem uma penca de livros lançados. Mas, desses tempos, ela botou no mundo o lindo "Tem um coração que faz barulho de água".
Só vai.
Aline Bei
Sente só o peso desse título.
A Aline tá rodando com seu livro, "O peso do pássaro morto", um romance escrito de forma incomum, que conta uma história de uma mulher, dos oito aos cinquenta e dois anos.
Pesado.
Alex Castro
Autor da casa, que dispensa apresentações, e que tem seus livros publicados, como o "Mulher de um homem só" e o "Outrofobia".
Mas agora ele está com esse projeto foda. "A autobiografia do poeta-escravo", fazendo a edição, tradução, introdução e notas:
A longa e terrível história da escravidão nas Américas tem poucos relatos diretos. Os senhores, naturalmente, não tinham interesse em registrar seus horrores. Os escravos não tinham condições de fazê-lo. A autobiografia do poeta-escravo é agora publicada pela primeira vez no Brasil – um dos países que mais tarde aboliu o horror narrado com enorme vivacidade nestas páginas.
Existem algumas autobiografias de escravos norte-americanos (como o famoso 12 anos de escravidão, de Solomon Northup). Porém, na América Latina e, particularmente, no Brasil, isso não aconteceu. A exceção, única narrativa autobiográfica latino-americana escrita por uma pessoa escravizada durante seu cativeiro, é Juan Francisco Manzano.
Esta edição inclui duas versões da autobiografia: uma tradução para o português padrão e uma transcrição direta, colada nas particularidades e idiossincrasias do original, acompanhadas por mais 300 notas explicativas e um conjunto de textos que torna esta edição um marco incontornável na memória da escravidão.
Mailson Furtado Viana
Este livro ganhou o Prêmio Jabuti de melhor livro de poesia. E o cara fez tudo sozinho, dos textos à campanha de financiamento e a ilustração da capa.
Uma beleza só.
Vítor Barreto | Lúcida Letra
A Lúcida também é da casa. Tem diversos artigos publicados aqui que saíram de trechos dos livros que ela publica. Por trás, o Vítor Barreto, um baita cara que tá puxando na unha traduções que possam beneficiar as pessoas.
Agora, ele tá colocando na rua o "Guia do coração partido: conselhos budistas para as dores de amor", um guia de primeiros-socorros pra quem se deu mal no amor.
É uma delícia! E muita gente vai se identificar.
Ale santos
"Ai, Jader, mas é na Amazon". Mas o artista é independente até o osso. o Ale Santos é especialista em narrativas africanas. Escreve, de uns tempos pra cá, na Super Interessante, na Vice, no The Intercept Brasil.
Esses dias ele foi entrevistado pelo Ivan Mizanzuk no Anticast, sobre as narrativas africanas e ficou bom demais. Ouve e, se o cara te convencer, ajuda o cara comprando seu livro e dando para outras pessoas ler.
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