Apreço pelo passo apressado que não dei

Pensamentos que surgem quando estamos andando na rua

Alguém pisa na minha sombra e isso me incomoda mais do que deveria. Os passos são apressados. Estou já na esquina. Cruzando pela terceira pessoa desconhecida que vai passar ao meu lado antes de avistar a primeira. Desvio do cachorro que está na porta do supermercado e ainda nem atravessei a rua. Estou atravessando a rua e nem saí de casa. Saindo de casa antes de levantar da cama. Adiando o despertador para mais cinco minutos quando levanto na madrugada para mijar. Servindo dois bifes, o dobro de salada e menos arroz. Antes das oito, quando bato o ponto no trabalho.

Hora de sair. Antecipo o ônibus lotado. E nesse caso as expectativas são superadas. Demora o dobro do tempo. Que aproveito pra pensar na janta. Na comida do cachorro que tá quase acabando. A janta sobra. Coloco num pote para levar amanhã de almoço. Economizo. Acabo, na verdade, dando pro cachorro o resto de comida. No momento em que estou servindo o segundo bife no almoço do dia seguinte que o ônibus chega. Pronto.

Desligo o despertador. Saio de casa. Sinto o calor do sol nas minhas costas. Uma sombra comprida se estende dois metros a frente. A sombra é maior do que eu e antecede meus passos. Aí alguém pisa nela. Isso na semana que vem.


publicado em 10 de Maio de 2015, 09:00
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Sergio Trentini

Cursou psicologia, administração e jornalismo. Não terminou nenhuma das três. A última já passou da metade, e essa, jura que vai acabar. Assim como todas as histórias que começa a escrever. Escreve lá no Medium


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