Aplicativos de meditação funcionam?

Existe muita curiosidade a respeito da meditação e algumas barreiras para serem vencidas por quem quer começar, será que os apps de meditação ajudam?

Se você já parou procurou dicas sobre qualidade de vida, é bem possível que tenha esbarrado em conselhos sobre meditação no meio do caminho.

Meditação tem sido recomendada para vários aspectos da vida, uma interminável coleção de benefícios, tudo ali, por apenas poucos minutos ao dia.

Mas se uma atividade tão simples é tão poderosa assim, por que as pessoas simplesmente não adotam e melhoram suas vidas?

Ao pesquisar um pouquinho, descobrimos que meditação pode significar muitas coisas diferentes em diversos contextos. São práticas utilizadas por tradições e religiões antigas, frequentemente envolvendo um esforço interno como forma de treinamento da mente. Mergulhando mais além, entendemos que meditação exige um certo nível de instrução. Não é simplesmente fechar os olhos e não pensar em nada, como a maioria das pessoas gosta de acreditar. É neste momento que as pessoas desistem e acabam deixando de lado.

Recentemente surgiram alguns aplicativos que buscam reduzir a barreira inicial e transformar o processo de aprendizado em pequenos passos simplificados. Resolvi testar o aplicativo de meditação mais popular, o Headspace, anotando todos os detalhes para ver se de fato traria algum benefício.

Compartilhei as informações de forma mais detalhada em minha página de experimentos no Facebook, mas as conclusões importantes seguem neste texto para vocês.

Aplicativos são rasos

A prática de meditação vem acompanhada de lições importantes, ensinamentos que são transmitidos através dos mestres em suas tradições. Quando simplificamos a forma como aprendemos a meditar, é impossível não sofrer com a falta de alguns entendimentos.

Ao longo dos 10 dias que o headspace oferece gratuitamente, algumas animações ajudam a nos aprofundar sobre o tema, mas surgem diversos momentos onde sentimos que a coisa se torna um pouco repetitiva, e que uma meditação guiada por um ser humano poderia ir muito além do transmitido pelo aplicativo.

É claro que devemos relevar isso quando lembramos que é um aplicativo e que são apenas 10 minutos ao dia, mas este ponto precisa ficar muito claro por qualquer um que queira aprender meditação.

Não fiquei entediado

Uma das críticas que mais ouço vinda de pessoas que tentaram meditar, é o tédio durante a prática. É muito comum quando estamos começando a meditar acabar perdido em pensamentos como: “quanto tempo será que falta?”, “será que falta muito?”,”será que posso olhar no relógio?”.

Em todos os 10 dias, não existiram momentos onde eu parasse para me preocupar com o tempo restante. As práticas aconteceram de forma fluida e sempre me surpreendia quando o exercício acabava.

A ausência desse ruído significa que consegui imergir na experiência, o que é bem positivo para um simples aplicativo e talvez fosse minha maior preocupação desde o início dos testes.

Disciplina continua sendo um problema

Apesar de facilitar bastante o caminho, o aplicativo não consegue fazer tudo. Acho muito difícil que uma pessoa com problemas de disciplina consiga manter uma rotina de meditação apenas com o aplicativo.

É fácil substituir a meditação por outras atividades de beneficio mais imediato, empurrando a prática cada vez mais para o fim do dia. Existiram dias de meditar próximo às 3:30 da manhã, simplesmente para não dormir sem cumprir com meu experimento. Não imagino pessoas se submetendo à mesma rigidez. Eu mesmo não o faria se não fosse o peso do experimento.

Quando praticamos em grupo ou com um guia, nossa rotina acaba determinada pelo compromisso assumido, mas quando tudo o que temos é uma notificação no celular, acho bem possível que a pessoa deixe para depois e acabe esquecendo.

Alguns benefícios foram perceptíveis

Pude perceber uma boa mudança no humor e na ansiedade com o passar dos dias, sendo o que melhor pude observar nos 10 dias em que utilizei o aplicativo.

Os indicativos de humor foram de 6 para 9, e os de ansiedade foram de 8 para 3, tudo em escalas de até 10 pontos.

Outra impressão que tive, é que não tive sonhos ao longo do período em que meditei, mas não sei dizer se é algo fruto da meditação ou influenciado por outros fatores.  

Existiram momentos muito interessantes durante a prática, momentos de completa imersão onde parei de sentir o peso do meu corpo e notar o ambiente ao meu redor, foram em apenas duas ou três sessões, mas serviram como grande incentivo para continuar meditando.

É um bom aperitivo, mas é preciso aprofundamento

O Headspace pode ajudar quem tem vontade de descobrir a meditação, mas deixa a sensação de que precisamos de mais. O app é bem eficiente em sua proposta de simplificar a meditação e indico para quem tem vontade de tentar, mas fica clara a necessidade de mais aprofundamento no assunto logo após alguns dias.

É uma pena também que o aplicativo só esteja disponível em inglês, limitando bastante a experiência para quem possui curiosidade.

Para ajudar quem tem interesse de experimentar, os áudios de meditação guiada da Jeane Pilli, todos em português, seguem a mesma linha utilizada pelo Headspace, e podem ser ouvidos pelo Soundcloud.

Para os que possuem interesse em aprender mais sobre meditação, o Papo de Homem já produziu um vídeo muito interessante para quem quer começar:

Link Youtube

E se você possui experiências boas ou ruins com meditação, testou aplicativos ou outros métodos, compartilhe conosco nos comentários e enriqueça nosso aprendizado.


publicado em 20 de Junho de 2016, 00:10
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Alberto Brandão

É analista de sistemas, estudante de física e escritor colunista do Papo de Homem. Escreve sobre tudo o que acha interessante no Mnenyie, e também produz uma newsletter semanal, a Caos (Con)textual, com textos exclusivos e curadoria de conteúdo. Ficaria honrado em ser seu amigo no Facebook e conversar com você por email.


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