A descrição do trabalho envolve ficar de costas para o gramado durante algumas das partidas mais esperadas do ano, orientar torcedores alcoolizados que não entendem o seu idioma, trabalhar até 10 horas por dia durante 20 dias ininterruptos e, ainda por cima, não ganhar um centavo para isso. Ainda assim, o processo seletivo para se tornar um voluntário da Copa do Mundo da FIFA é concorrido: 152 mil pessoas se candidataram, 14 mil foram selecionadas.
Será que vale à pena?
Paraense natural de Santarém, Paulo Oney acredita que sim. Morador de Manaus há 11 anos e publicitário formado há dois, ele se encantou pela promessa de interagir com outras culturas, costumes e conhecer o mundo sem sair do lugar. Não se decepcionou: escalado para ficar à beira das arquibancadas, teve contato com centenas de espectadores de estados e países diferentes durante o Inglaterra e Itália, primeiro jogo sediado pela capital amazonense.
Mas, apesar da satisfação e de toda a simpatia que faz questão de esbanjar, Paulo também não esconde que, para a dedicada tropa de camisa azul, o resultado mais aguardado do Mundial de 2014 vai acontecer bem longe dos gramados.
Em uma ação civil iniciada pouco antes da bola começar a rolar, o Ministério Público do Trabalho no Rio de Janeiro (MPT-RJ) pediu à Justiça que considere irregular a prestação de serviço voluntário para a Fifa. A entidade possui fins lucrativos – arrecadou 1,386 bilhão de dólares apenas em 2013 – e, sendo assim, deveria arcar com os encargos trabalhistas como qualquer empregador. A audiência está prevista para o dia 10 de julho. Caso o pedido se sagre vitorioso, o tempo de serviço deverá ser registrado em carteira, e só a indenização por dano moral coletivo giraria em torno de R$ 20 milhões.
O sorriso no rosto de Paulo e sua turma poderiam até continuar os mesmos. Mas aí os bolsos também teriam seus motivos para gargalhar.
Imagens do Jogo Inglaterra 1 X 2 Itália
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Uma Copa do Mundo se faz com pessoas.
As que entram em campo, as que viajam para testemunhá-la, as que enchem as ruas, as que se voluntariam, as que torcem e as que veem no evento uma oportunidade para garantir seu sustento ou para extravasar.
A seção “Álbum de Figurinhas” pretende contar, com um microrrelato artesanal e um retrato por dia, a história de algumas dessas pessoas, muitas vezes invisíveis, que povoam os bastidores da Copa do Mundo do Brasil.
Para ler todos os textos, basta entrar no nosso Álbum de Figurinhas.
publicado em 17 de Junho de 2014, 23:47