
Fui presenciar Airto Moreira na choperia do SESC Pompeia, ao lado do pianista dinamarquês Jacob Anderskov, fechando o festival “Jazz na Fábrica”, que trouxe também o grande Avishai Cohen.
Já tinha visto o show dele com a Flora Purim em uma Virada Cultural. Para quem não conhece, é um dos maiores percussionistas do mundo. Brasileiro de SC, vive nos EUA desde 1967, é professor de Etnomusicologia na UCLA, já tocou com Miles Davis, Chick Corea, Wayne Shorter, Herbie Hancock, Stanley Clarke, Carlos Santana, Bill Evans, Reinhard Flatischler…
Logo após a primeira música, ele disse algo assim, bem calmo, sem pressa:
“Somos todos irmãos. A música nos conecta assim… Agora ninguém aqui está sentindo orgulho, inveja, ciúme, raiva, aversão, indiferença, preguiça, ansiedade.”
Parecia que eu estava projetando aquilo. Chorei na hora, sem querer. Depois vi outras pessoas chorando também, do nada, no meio do show, tamanho o ambiente que ele criou.
Ele está velhinho, com mãos tremendo, mas sua presença é impressionante. Nitidamente não está ali para agradar, entreter, divertir, animar as pessoas. Solta alguns sons muito graves com a voz, outros muito agudos. Se você olha bem, não vê um músico, mas um pajé. Se fecha os olhos, está no meio do mato ou embaixo da terra ou acima das nuves, imediatamente.
As pessoas que foram para ouvir musiquinhas saíram desnorteadas com tamanha benção, reza brava, macumba, feitiçaria.
O YouTube não mostra nada disso
Para quem perdeu o Airto ao vivo, sobra o YouTube, que não mostra picas. É dois passos para se distanciar e pensar “Que cara malucão!”. Presencialmente você é puxado para dentro daquele mundo, como faz um curandeiro assoprando em você, um xamã batendo no seu corpo ou qualquer processo de impacto assim.
De qualquer forma, aqui uma obra-prima, um sambão em 7:
Ele ao vivo:
E uma entrevista com cenas do Airto tocando para o Miles:
Sejam felizes.
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