Ainda sobre a Fidelidade...

Um assunto prá lá de polêmico que está rendendo mais um artigo, embalado pelo sucesso do anterior "Porque as Mulheres Traem" - recordista absoluto com 119 comentários até o momento. Com ele estou inaugurando a nova seção do PdH – "Banheiro Feminino". Aqui vocês não precisarão olhar pela janela para descobrir os segredos femininos... Entrem e escutem, temos muito a dizer.

Para continuar nosso bate-papo, trouxe este trecho de um comentário do artigo sobre traição feminina, que achei bastante ilustrativo.

"Sentir atração é uma coisa. Consumar uma traição por mera atração é outra coisa totalmente diferente ...O fato de eu amá-la me faz sentir obrigado a respeitá-la."

[Obrigado: imposto por lei, uso ou convenção; coagido; forçado.]

Nesta afirmação ficou a sensação de que fidelidade é um comportamento onde a premissa é a obrigação. Quando, na verdade, fidelidade deveria ser uma escolha natural sem imposição por regras ou convenções morais e sim uma vontade pessoal.

O que incomoda na verdade nesta estória de ser fiel ou não é justamente a negação do desejo, pois a verdade é: deseja-se outra pessoa.

Porque acontece o desejo?

Sentiu algo ao ver essa imagem...
pecado

Para os homens o que comanda é a atração física: bumbum avantajado, pernas grossas, peitões saltando do decote, cabelos longos e bonitos, um corpo cheio de curvas... O start geralmente é disparado desta forma.

A mulher já considera outros atributos além da beleza, ela precisa sentir certa admiração, seja pelo papo cativante, pelo jeito bem humorado, pela inteligência. Para nós atração envolve algo mais que um mero corpo.

Fiz esta abordagem para destacar que mesmo mantendo-se fiel – não transando com outro homem – a mulher sente desejo, com um quê de admiração. E se eu fosse homem refletiria com mais calma sobre o assunto, não partiria impulsivamente, berrando aos quatro ventos que traição é coisa de gente sem caráter, insegura e coisa e talz. Na verdade "o buraco é mais embaixo".

Uma história real para vocês...

Abordar este assunto me lembrou a história real de uma mulher fiel. Casada há pouco mais de 10 anos, tem dois filhos, ama seu marido e vive um casamento feliz e bem sucedido até então. De repente, um dia um homem despertou seu interesse, ele inicialmente sentiu-se atraído por ela e mesmo sabendo do seu casamento abriu o jogo.

Eles trabalhavam no mesmo setor de uma empresa, encontravam-se todos os dias, compartilhavam tarefas e precisavam tomar decisões em conjunto. Fatalmente estavam quase sempre juntos, sozinhos, numa mesma sala. Depois de ouvir as declarações do colega ela se abre com as amigas, envaidecida e feliz, comentando sobre ele muito animada, e afirmando o quanto ele era um homem interessante, bem sucedido e atraente.

Ao final pede discrição pois o assunto deve ficar apenas entre elas, seu marido não poderia nem sonhar aquela situação. Ela deixa claro que não se envolveria com o colega, era casada e precisava permanecer fiel ao marido, mas deixou claro, pelas reações, o quanto a situação a deixara empolgada.

Depois do ocorrido, para quem sabia do fato, ficava claro o quanto aquela situação mexia com a mulher, toda vez que eles se encontravam ou falavam ao interfone na empresa, um sorriso ou uma expressão de satisfação tomava conta do seu rosto. Ficavam cada vez mais próximos, mais amigos, percebia-se claramente uma forte atração e afinidade entre os dois.

paquerando
As mulheres apreciam serem paqueradas, e uma afinidade inicial pode crescer facilmente...

Em várias ocasiões ele a levava em casa, e quando ela não conseguia a sua carona sentia-se certa frustração no seu semblante. Em eventos sociais da empresa sempre estavam juntos e algumas vezes esticavam para um restaurante com outras pessoas.

Depois de algum tempo nesta rotina ela foi questionada pelas amigas se estava acontecendo algo entre eles, a sua resposta foi negativa e seus argumentos baseavam-se nas obrigações como esposa, mas ficava muito claro o quanto ela estava atraída, daquela forma feminina que expliquei inicialmente: uma atração carregada de admiração.

Enquanto isto acontecia, as amigas mais chegadas percebiam o quanto ela mudara o comportamento com o marido, tinha pouca paciência com ele, esquecia compromissos marcados, recusava alguns convites. Não, ela não deixara de amá-lo, mas vivia o dilema da obrigação de ser fiel e sofria com suas conseqüências.

Daí eu me pergunto, até onde é válido um comportamento destes? Reprimindo o desejo que sentia, ela cada vez mais o maximizava, pois ele ia crescendo pela impossibilidade. Nesta hora é que duvido da imposição da fidelidade.

Porque algumas vezes os homens reclamam que sua companheira, do nada, começa a reclamar, falar dos seus defeitos, das coisas que a incomoda, coisas que ele nem imaginava que ela pensava? Fica estranha, mau humorada, briga por tudo? Porque isto, de onde vem este comportamento? Já pensaram sobre isto?

Não acho que a fidelidade deva ser uma obrigação, mas é assim que dita a sociedade católica(*). Ser fiel por uma motivação verdadeira, que vem do íntimo e não ditada pelas convenções e condicionamentos, esta sim é a verdadeira fidelidade, um comportamento para poucos e que não acontece sempre.

A condição humana, nossa imperfeição, faz com que muitas vezes não tenhamos esta motivação verdadeira e daí partimos para duas alternativas: trair ou nos obrigarmos a ser fiel.

(*) Um aparte para refletirmos sobre as obrigações da sociedade católica:

"O que é pecado?

Mais, onde exatamente está o pecado?
desejo
No sentido que apregoa a Teologia Ocidental, todos os homens são pecadores. Mas do ponto de vista da liberdade espiritual, nenhum homem é pecador, mas senhor de si mesmo (Swami) em essência. O pecado é um condicionamento dogmático da Igreja e das Teologias Ocidentais e que não pode ser discutido, apenas aceito.

Na verdade, a palavra DOGMA significa literalmente "o fundamento de qualquer sistema ou doutrina" e não alguma coisa que não possa ser questionado - como as Teologias Ocidentais pretendem afirmar. Então, podemos dizer que o homem é um pecador, se ele transitar da sua consciência, afastando-a cada vez mais do seu centro espiritual, e aproximar-se cada vez mais da periferia do ego humano.

Porém, quando o ser humano atingir o estado plenamente consciente e livre, poderá viver permanentemente em harmonia com todas as coisas. Embora não tenhamos liberdade em absolutamente nada, nem mesmo no pensamento, podemos contar com nossas escolhas que são dirigidas ao nosso próprio bem-estar.

Quando o "caminho" seguido foge ao que achamos certo (como se existisse certo e errado, e em termos sociais têm que existir) nossa consciência nos indica que pecamos, pois vivemos em uma cultura cristã, isso é inevitável.

Todos os que vivem no Ocidente são Cristãos por nascimento rs, mesmo que não aposte na existência de um Salvador chamado Jesus Cristo. Nossa educação é baseada nos parâmetros cristãos. A cartilha que aprendemos é a dos dez mandamentos."

fonte: http://suzucafehu.blogspot.com/2007/03/inveja.html

Ao contrário do que muitos comentaram no meu artigo anterior, não defendo a prática da traição, mas também não acredito que sentir-se obrigado por convenções morais seja a fórmula ideal.

Acho esta medida hipócrita e falsa, e considero que por isto muitos homens e umas tantas mulheres optam por trair, mesmo amando seus companheiros, pois a natureza humana muitas vezes não tolera esta imposição.

A curto prazo pode funcionar, mas fatalmente a repressão dos desejos gera infelicidade e insatisfação que surgirão traduzidos em desentendimentos e crises que superficialmente parecem inexplicáveis.

O amor em sua plenitude só dura em liberdade, como bem disse Raulzito. Atitude realmente eficiente é ser fiel a si mesmo, admitir suas fraquezas e tentar conviver com elas sem muito radicalismo e repressão.

Anais é uma de nossas leitoras favoritas aqui na Papo de Homem. Sempre participa com comentários e deixou muita saudade ao desativar seu blog pessoal. À pedidos de uma legião de fãs, ela está de volta e vai por aqui participar como colaboradora.

Para os curiosos, Banheiro Feminino vai ser uma nova coluna na Papo de Homem onde somente mulheres irão escrever. Será lançada junto com o novo redesign, que sai ainda em Agosto...


publicado em 01 de Agosto de 2007, 13:00
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Anaïs

Anaïs, uma mulher curiosa e questionadora, com opiniões incomuns e desconcertantes sobre sexualidade e relacionamento.


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