Os amigos deste glorioso, bem desenhado e bem editado site composto única e exclusivamente pela nata masculina da sociedade mundial talvez gostem muito de Fórmula 1. O grande problema, no entanto, é conseguir boas informações sobre o tema na internet tupiniquim.
Para sair do óbvio – ou seja, ir além dos colunistas em grandes jornais do mundo que só falam “fulano fez a pole”, “fulano está com problemas no pneu”, “fulano ganhou a corrida”, o sujeito acaba sendo obrigado a ler a parte gringa da internet. Não mais, pois tentarei regularmente fazer por aqui a coisa que melhor sei fazer na vida: ler sobre F1 em sites que ninguém conhece e falar como se eu fosse mestre no assunto.

O chefe Guilherme me deu a excelente idéia de, num primeiro texto, abordar os maiores mitos da F1 atual:
1. “Piloto não faz nada hoje em dia, é só computador nessa porra agora!”
Essa é a frase lugar comum, por excelência. Sujeitos assumindo que piloto não precisa fazer mais nada hoje em dia só porque temos computadores nos carros. Pior, só mesmo a galera que solta:
Hoje tá fácil, até eu piloto carro de F1.
O carro de F1 só tem um computador, no motor. Não tem controle de tração, ABS, diferencial eletrônico, nada.
Para esclarecer, pinto-lhes o seguinte cenário. Você é um grande piloto e está lá no grid, esperando as luzes verdes. É dada a partida e todos aceleram loucamente para a batalha. Depois de algumas voltas, as posições começam a ficar definidas e seu engenheiro, olhando nos computadores lá no box, com todos os tipos de informação do seu carro, te passa um rádio:
Bicho, é o seguinte. Seu pneu está gastando muito, nesse ritmo estamos ferrados, você vai parar no box e perder uma pancada de posições, manera aí.
Você, gênio da F1, já sabe o que isso quer dizer, não? Como são componentes de altíssima performance, os pneus só trabalham bem em uma faixa de poucos graus de temperatura. Precisamente entre 98 e 101 graus. A 94 graus seu pneu tem 17% menos aderência, a 105 graus ele dura 25% menos(!). Um pneu de carro normal funciona de 20 a 100 graus na boa, troca-se a performance pela durabilidade. Então você precisa maneirar nas curvas e não ser tão agressivo (ou seja, diminuir algo na casa de milésimos) para diminuir a temperatura dos pneus e economizar. Ah, e ainda tem que segurar o seu adversário grudado atrás de você.
Dirigir um bólido desses e mantê-lo estável durante a corrida é uma arte. Se os freios estiverem frios simplesmente perdem a eficácia – componente pra alta performance é assim, meu querido. Dirigir fora da parte emborrachada da pista pode acabar com seus pneus.
Hoje em dia até a faixa de uso do motor precisa ser gerenciada pelo piloto. Explicação: os gases que saem do escapamento ajudam a estabilizar o ar em alta velocidade que passa pelos pneus, mas isso só tem uma boa performance funcionando numa faixa constante de temperatura. A Renault diminuiu em 10% o consumo de gasosa pro piloto poder deixar o giro do motor um pouco mais alto durante a corrida – ou seja, queimar gasolina à toa – e conseguir deixar a saída de gás ali mais constante.
2. “Carros de F1 não são tão diferentes dos outros…”
Carros comuns são feitos para obter performance mediana em todas as condições. Um F1 é construído para performance máxima em UMA situação, sem margens para cima ou para baixo. Imagine conseguir gerenciar tudo isso, a 350 km/h, sabendo que a diferença entre economizar e acabar com o seu carro é de no máximo 200 milésimos por volta. E sabendo também que tem uma fila de maníacos atrás de você, buscando a ultrapassagem.
Uma diferença de 0.2km/cm2 na calibragem do pneu já muda por completo a performance. O piloto lida com tudo isso enquanto tenta superar seus oponentes.
Para se ter uma noção da dificuldade de se pilotar um F1 desse e de como um piloto faz a diferença, deixo-lhes com este vídeo de Richard Hammond, apresentador de um dos programas sobre carro mais assistidos no mundo, o britânico Top Gear. Além de dirigir os veículos mais rápidos do planeta, o cara também corre turismo na Inglaterra:
Não tem legenda. Resumindo: Richard explica que o carro mais forte que já pilotou foi uma Bugatti Veyron com uma relação de potência de 500cv por tonelada. A F1 tem 1000 cv e pouco além de 600kg.
Começaram dando um carro porcaria e ele não conseguiu sequer sair do lugar. Aumentaram o carro para ele ir se acostumando. Com o carro de F1 tiveram que esquentar os pneus pra dar aderência, e enfim conseguir sair do lugar. Porém ele estava sem freio, não conseguia ir rápido suficiente para freiar e os freios precisam ser utilizados para alcançarem a temperatura adequada e começarem a funcionar corretamente. Pegou?
3. “F1 não tem mais emoção!”
Brasileiro tende a usar a frase “fórmula 1 não tem graça”, quando na verdade querem dizer “não tem mais brasileiro ganhando, então não tem mais graça”. Uma coisa aprendi sobre nosso país: só torcemos para quem ganha. Lembra do Guga levando tudo no tênis? De repente nos tornamos o país do tênis! E o vôlei, nas Olimpíadas? Mesma coisa. Quando o Senna ganhava 99% das corridas do ano de ponta a ponta a F1 era linda. Agora que os gringos fazem isso ela é chata. Aparentemente só gostamos da modalidade quando nos favorece.
Porém, se é um real fã de corridas, é impossível não apreciar as últimos temporadas.
Comecemos com 2010. Loucura o ano inteiro. Seis pilotos – SEIS, inédito na história da F1 -, disputando as primeiras posições até as últimas etapas. Na última, três pilotos chegaram com chances de ganhar o campeonato. Sebastian Vettel, o azarão, venceu numa corrida marcada pela burrice extrema da Ferrari. Foi emoção automobilística até o instante final.
Vamos para 2009. Inesquecível. Corridas sempre disputadas e recheadas de ultrapassagens. Durante toda a temporada tivemos pilotos diferentes alternando posições. Fechando com o término de temporada mais emocionante da história. Se Massa ganhasse e Hamilton chegasse em QUINTO, Hamilton seria campeão. Massa ganha e na última volta Hamilton estava em sexto numa chuva torrencial:
Hamilton leva. Épico!
Alguns dizem que a falta de acidentes tirou parte da emoção. Como já dizia o mito Nelson Piquet, se bem me recordo, “todo mundo assiste corrida pra ver a desgraça”. Infelizmente para muitos, é uma verdade. E após a morte do Senna, a modalidade ficou bem mais segura, eliminando as batidas.
Não me incomoda nem um pouco, gosto mesmo é da disputa. Essa está melhor do que nunca!
Oferecimento: Pirelli
Às vésperas da primeira prova da Pirelli como fornecedora exclusiva de pneus da Fórmula 1 em Melbourne, na Austrália, a marca promoveu um movimento em prol da volta da emoção à competição. As ações aconteceram em diversos pontos e culminaram com a execução de um arranjo inédito do Tema da Vitória pela Orquestra Furiosa, no Viaduto do Chá.
Absolutamente imperdível para fãs do automobilismo e do Ayrton Senna.
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