Um dia, em uma pequena ilha, os escravos se rebelaram contra os senhores, tomaram controle de suas vidas e o mundo nunca mais foi o mesmo. É impossível exagerar a influência da Revolução Haitiana nos rumos da História ocidental.
![Battle of Vertières in 1803](https://cdn.papodehomem.com.br/wp-content/uploads/2013/06/Battle-of-Verti%C3%A8res-in-1803-620x458.jpg)
O Haiti foi a segunda nação do hemisfério ocidental a se tornar independente.
A Revolução Haitiana não ser parte do currículo obrigatório de História é um absurdo. Ela foi um dos acontecimentos mais decisivos e marcantes da história mundial. Sem conhecer a Revolução Haitiana, não dá pra entender NADA sobre a História das Américas no século XIX.
Aliás, não dá pra entender nem mesmo a Revolução Francesa e as fraturas internas do projeto liberal-iluminista. Tudo o que se tentou e (mais importante) se deixou de tentar politicamente nas Américas foi em função da Revolução Haitiana.
Em cada discussão, em cada conversa, em cada debate no Plenário, no Chile e no Brasil, em Cuba e nos Estados Unidos, depois de muito hesitar, alguém sempre mencionava o grande bicho-papão:
"Mas... e o Haiti?"
Sem ler a literatura da época, fica difícil de quantificar o quanto a simples existência da revolução haitiana mudou tudo no curso da história política e econômica das Américas.
Durante as guerras de independência latino-americanas, e durante os posteriores debates abolicionistas, o Haiti era o grande bicho-papão:
Como fazer a independência sem haitizar o país? Como dar liberdade aos negros de modo que não saíssem queimando tudo e degolando os brancos? Na dúvida, melhor ser conservador, fazer a coisa aos poucos. É bom não facilitar com essa negrada bárbara.
A política brasileira do deixa-disso, do não fazer nada, do esperar pra ver, que fez com que fôssemos a última nação livre do Ocidente a abolir a escravidão, é consequência direta do medo que nossa elite tinha do Haiti.
![toussaint l'ouverture](https://cdn.papodehomem.com.br/wp-content/uploads/2013/06/toussaint-louverture-400x568.jpg)
Toussaint de L'Ouverture, chefe da revolução, foi um daqueles grandes líderes que só aparecem de séculos em séculos. Derrotou os exércitos da Grã-Bretanha, Espanha e França - algumas vezes lutando juntos contra ele. Unificou e libertou seu país. Foi inteligente, sensato, conciliador, decisivo. E, como tantos grandes homens (penso em Viriato, outro grande líder esquecido), foi morto à traição, pois não conseguiam derrotá-lo no campo de batalha.
Infelizmente, depois de sua morte, as coisas saíram do controle, houve massacres indiscriminados e destruição extensiva de propriedades - justamente os engenhos de açúcar que, por um lado, simbolizavam a escravidão mas, por outro, representavam a riqueza do Haiti.
O país mergulhou no caos e na pobreza e, hoje, duzentos anos depois, continua pobre e instável.
Mas livre.
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![Os jacobinos negros](https://cdn.papodehomem.com.br/wp-content/uploads/2013/06/110911_150155_os_jacobinos_negros___capa_baixa-519x800.jpg)
O melhor livro sobre o tema, disparado, ainda é o clássico Os Jacobinos Negros, de C. L. R. James.
publicado em 09 de Junho de 2013, 06:00