Eu sei o que esperar de homens com guarda-chuva

Todos têm cismas. Homens e mulheres. Quem nunca viu “Seinfeld” e morreu de rir com as bobagens repudiantes que George Costanza descobria a cada namorada nova? Nariz grande demais, risada estranha, dedos tortos: destas pequenas exigências cotidianas eu acho graça; apenas vejo tolice ingênua nestas requisições todas. Em todas, exceto em uma.

Você pode ser baixo. Você pode ser quieto. Você pode ter dentes esquisitos. Nada me abala mais do que a ideia de você, como meu possível pretendente, ter um guarda-chuva.

Eu sei que choveu em boa parte do Brasil neste feriado. Eu sei que para sair de casa você teve que se munir deste escudo do tempo instável. No entanto, minha teoria é a de que não há nada mais inofensivo do que um homem com guarda-chuva.

Num encontro, você pode aparecer com flores, bombons, um canivete ou um guarda-chuva. Flores a gente acha fofo, bombom a gente come, canivete mostra que você pode ter tendência a esquisitices. Mas o guarda-chuva demonstra uma coisa bem específica: que você pensou em quando vai voltar pra casa. Já vislumbrou que o encontro não vai durar ad infinitum e que nada de muito especial pode acontecer naquela noite. Você não vai levar a menina para Bora Bora assim, de repente, carregando uma sombrinha, certo?

Só chove se você carregar um

Um homem com guarda-chuva é um homem previsível. Não vai te convencer a fazer qualquer coisa inusitada, se já planejou o que pode acontecer até mesmo com o clima. Não vai te assaltar porque não há fúria num homem que tem paciência para carregar um guarda-chuva. Assim como ninguém assalta segurando uma sombrinha, ninguém tem medo de quem caminha segurando-a.

É este homem um precavido, tranquilo, previsível, que tem seu dinheiro aplicado na caderneta de poupança, que ainda usa o suéter vinho que a avó bordou em seu aniversário de 17 anos, que é tido como conservador pelas estatísticas do banco e pelas Isabellas preconceituosas que cruzam seu caminho em dias instáveis.

Homem com guarda-chuva tem medo de se molhar. E, ah, meu santo deus!, que coisa mais triste essa. Não para o homem, não para a mulher, mas para a tensão do primeiro encontro, do descabido, do desproposital, da possibilidade daquele ser te levar para perto de um momento WTF.

Sei que faço aqui um bem para a integridade masculina. Imaginem só, meus caros, quantos de vocês não sabiam desta aversão que tantas podem ter por aí? E saibam, pois, que são muitos os que já perceberam: suponho que cada vez que um homem compra um carro, sua real intenção é a de se livrar de vez dos guarda-chuvas, das sombrinhas, da amostra evidente de sua fragilidade perante a vida.

PS: Informo que este Gustavo Gitti que às vezes lhes escreve foi munido de um guarda-chuva em nosso primeiro encontro, há três anos. Confesso que foi um baque, mas superei. Seria isto amor verdadeiro ou a exceção que confirma a regra?


publicado em 02 de Maio de 2012, 10:42
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Isabella Ianelli

Pedagoga interessada em arte e educação. Escreve no blog Isabellices e responde por @isabellaianelli no Twitter.


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