A Festa dos "Arrais"

Recebi um convite para um churrasco que a princípio seria como qualquer outro. O único porém seria que o anfitrião assaria a carne em uma marina na região metropolitana da cidade. Aceitei o convite embora nunca tivesse me interessado em frequentar um marina.

Muitas marinas possuem uma grande infra-estrutura com churrasqueiras, salões de festas, piscinas, todo o tipo de entretenimento e lazer de clubes sociais. Nem todos vão à marina para andar de barco. Pelo contrário, a maioria dos visitantes passam o dia envolvidos em atividades com os amigos ou com a família. Há aqueles que aparecem para ler um livro em baixo de uma árvore, descansar à beira da água e fugir do caos cotidiano das grandes cidades. Também há os que vão até lá para encontrar os amigos, conhecer novas pessoas e passar a tarde bebendo chopp. É, de fato, um clube social como qualquer outro.

Obviamente, também há aqueles que vão para andar de barco. A nossa marina não era uma das maiores. Possuía apenas um iate e uma dúzia de lanchas de médio porte. Haviam também muitas lanchas menores e bastante Jet-Skis.

Ao contrário do que muitos pensam, nem todos os sócios de marinas são milionários. Existem muitos frequentadores de classe média que juntaram um dinheirinho para comprar uma lancha pequena ou um Jet-Ski mais simples.

Após almoçarmos e termos entrado tarde adentro conhecendo outros sócios da marina, resolvemos dar uma volta de lancha. Cada sócio possui uma garagem cuja mensalidade varia de acordo com o tamanho da embarcação. Um trator foi até lá, puxou o nosso barco até as proximidades do deck do pier e começou a manobrar. Com calma, o tratorista vai dando ré e submergindo nas margens do rio. Solta-se as amarras e a lancha está pronta para partir.

Um amigo já aposentado que passa a semana inteira na marina nos deu uma bela dica. A nossa marina ficava em um dos muitos braços de um grande estuário. Alguns desses braços eram endereços de dezenas de marinas. Havia um encontro de três desses braços onde barcos de incontáveis marinas costumavam se encontrar todas as tardes. A idéia pareceu interessante, pedimos as coordenadas, ligamos o motor e partimos para lá.

"Vem pra festa! Só não esquece de trazer a cerveja!"
"Vem pra festa! Só não esquece de trazer a cerveja!"

Rumo ao encontro dos "Três Rios"

Nosso motor não era dos mais potentes, mas a lancha era muito leve. Estávamos nos divertindo ao colocar a propulsão no máximo jogando o barco de encontro a pequenas marolas. Quem não se segurasse onde podia acabava ejetado para a água. Passeios de barco são atividades bastante agradáveis para quem gosta de água e, se aquela tarde acabasse ali, eu já teria ganhado meu dia. Na medida em que nos aproximávamos do encontro dos "Três Rios" o fluxo de embarcações aumentava consideravelmente. Lanchas mais potentes passavam ao nosso lado em alta velocidade, criavam grandes marolas e nos garantiam ainda mais diversão.

Quando avistamos a união dos rios ficamos surpresos em ver inúmeros iates, lanchas de todo o porte, veleiros e todo o tipo de barcos atracados ali. Jet-Skis circulavam por entre os iates realizando manobras radicais ou simplesmente carregando casais de uma lancha à outra. Haviam pessoas praticando Wakeboard, barcos com som altíssimo, mulheres tomando banho de sol nas proas e muita gente bebendo champagne. Eram 4 da tarde e aquilo era uma enorme festa à deriva.

Em um espaço entre o emaranhado de barcos haviam 7 lanchas amarradas umas às outras!

As pessoas pulavam de um barco para o outro, interagindo com todo mundo, como se fosse um grande bar flutuante. Quando a bebida terminava, o barco zarpava em direção à uma ilha de pescadores próxima, reabasteciam o estoque e voltavam para se reagrupar à festa. Em poucos minutos passeando enquanto observámos aquele admirável fenômeno social, ouvimos alguém chamar. De uma lancha, em que algumas mulheres com corpo impecável se brozeavam, uma loira nos pedia fogo. Logo em seguida, nosso pequeno barco também estava amarrado ao delas e por ali ficamos até escurecer. Ao final da tarde, todos voltam para as suas marinas e a festa termina pelo dia. Entretanto, no que dependesse de mim, muitas outras tardes como aquela haveriam de se repetir.

De volta na marina, eu já consultava todos à respeito dos valores de lanchas, Jets novos e usados. Queria passar meus finais de semana me divertindo daquela maneira e procurei saber o que era necessário para colocar uma lancha na água e sair despreocupado por aí.

O que é um Arrais afinal?

Como no trânsito urbano, também existem diversas regras a serem seguidas quando pilotamos uma embarcação. Existem vias náuticas, manobras proibidas, lei seca e até limite de velocidade. Por essa razão, o condutor de embarcações precisa ser habilitado tal como um motorista de automóvel. Logo, se quiser pilotar lanchas médias e pequenas, você precisará da habilitação Arrais Amador concedida pela capitania dos portos de seu estado. Verifique com a Marinha do Brasil onde fica a sua e, caso possua mais de 18 anos de idade poderá agendar a prova para ser habilitado em navegação marítima.

Festinha na praia? Mas de um jeito bem diferente.
Festinha na praia. Mas de um jeito bem diferente.

A prova não é difícil, porém é muito técnica.

Você precisará procurar um curso ou aventurar-se na Internet caso seja um auto-didata. A carteira de Arrais Amador habilita a condução de embarcações para esporte e recreio em águas abrigadas ou de interior de porto, como rios, lagos, canais e praias, em até meia milha náutica (aproximadamente 926 metros) da costa brasileira. A permissão tem o prazo de dez anos, pode ser renovada e é aceita na maioria dos países.

Lembre-se que para não transformar sua diversão em confusão, é preciso ter ciência que para conduzir uma lancha é necessário muita prudência e responsabilidade. Não se engane, acidentes graves causados por inconsequentes acontecem sim a todo o momento. O que é ainda pior, ouvi casos de pessoas abordadas por assaltantes que utilizam lanchas velozes. A Marinha do Brasil fiscaliza grande parte das águas brasileiras, mas zelo nunca é demais.

Com responsabilidade você pode acabar descobrindo que passear de barco é um hobby em tanto. Bons ventos!


publicado em 03 de Fevereiro de 2009, 22:01
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Rodrigo Almeida

Engenheiro, apaixonado pela vida e por qualquer coisa com um motor potente, nostálgico entusiasta de muitas daquelas boas coisas que já não mais se fazem como antigamente.


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