A fantástica jornada de Ed Stafford pelo rio Amazonas

"Todo mundo me disse que era impossível, e isso me fez querer provar que eles estão errados."

O que te faz levantar da cama todos os dias? O que, de fato, faz você ignorar as dificuldades e seguir em frente? Antes que vocês respondam, porém, conheçam a história do explorador britânico Ed Stafford, 34 anos, que se encontra prestes a completar uma das maiores aventuras de que se tem notícia na Idade Moderna.

Stafford, um ex-capitão do Exército Britânico, com passagem pela missão da ONU no Afeganistão, começou no dia 2 de abril de 2008 um projeto considerado impossível por muitos: caminhar ao longo de toda a extensão do Rio Amazonas, partindo da nascente, no Peru, e terminando na foz, no Brasil, mais precisamente no Estado do Pará.

"Cuidado aí que eu acabei de ser mordido, não sei bem pelo quê..."

Pois bem. Hoje, dia 5 de agosto de 2010, Ed Stafford completa o 856º dia de sua jornada e encontra-se atualmente na cidade de Belém do Pará, onde deve ficar mais 1 ou 2 dias. A data prevista para o fim de sua caminhada é 9 de agosto de 2010, quase dois anos e meio após sua partida do Monte Mismi, no Peru. A distância total percorrida ao final da viagem será de aproximadamente 9.500 quilômetros, o equivalente a pouco mais de 22 vezes a distância entre São Paulo e Rio de Janeiro.

Mas afinal, o que a história de Ed Stafford tem a ver com força de vontade? Ora, basta saber as dificuldades atravessadas todos os dias pelo explorador para que se entenda porque essa história, mais do que a jornada em si, tem tudo a ver com superação e força de vontade.

Stafford acorda todos os dias antes do nascer do sol e começa sua caminhada ainda no escuro. Anda cerca de 8 a 10 horas ininterruptas por dia, montando o acampamento onde irá dormir entre 3 e 4 da tarde. Ressalte-se, porém, que cada passo na densa Floresta Amazônica deve ser conquistado através de facão e machada, razão pela qual, em um dia bom, o explorador consegue cobrir uma distância de 7 quilômetros, no máximo.

A foto abaixo, retirada do próprio site onde Stafford conta suas experiências, mostra o trajeto já percorrido pelo britânico:

Uma coisa é viajar de carro ou avião, outra é desbravar um bom pedaço da Terra.

Ainda por cima, como se as dificuldades impostas pela geografia da floresta não fossem suficiente, Ed Stafford tem de lidar com a presença constante da ideia de morte, seja através de ameaças de animais como cobras e sapos venenosos, através de vilarejos e tribos indígenas hostis ou, ainda, por incrível que pareça, pela dificuldade em obtenção de comida e água. Ocorre que, em algumas partes do percurso, o inglês é obrigado a caminhar até 1 quilômetro de distância do rio, o que acaba por dificultar a obtenção de água e, consequentemente, comida, ao ponto de ter vivido durante meses à base de palmito e, pasmem, piranhas.

Por sorte, ou por destino, o filho de advogados londrinos não passa pelas situações acima sozinho. Após perder a companhia de seu parceiro original já no terceiro mês de viagem, Stafford ganhou a companhia de Gadiel “Cho” Sanchez Rivera no quinto mês de viagem. O peruano, que inicialmente seria apenas um dos muitos guias locais a caminhar com o inglês ao longo de toda expedição, continuou a acompanhar o explorador e hoje também considera sua a missão de completar a caminhada. Stafford já inclusive fala em conseguir um visto para Cho e levá-lo para o Reino Unido.

O outro guerreiro: Gadiel "Cho" Sanchez Rivera

Observem abaixo um trecho da reportagem publicada por Mark Barrowcliffe no jornal britânico Daily Mail após ter acompanhado Ed Stafford durante algum tempo (tradução livre):

"No meu tempo com ele eu quase fui arrastado por uma corredeira violenta, peguei uma alergia por todo o corpo que fez parecer com que eu tivesse sido grelhado, tive um par de sapatos desintegrado nos meus pés, escapei por pouco de ser mordido por uma cobra, por menos ainda evitei sentar em um sapo-boi azul, fiquei perdido, fui acusados por locais desconfiados de tentar roubar olhos de crianças e, sim, fui feito refém por cerca de 20 habitantes de um vilarejo com suas espingardas.
Também cheguei no ponto de exaustão física e meu joelho esquerdo nunca mais foi o mesmo desde então. Quanto tempo eu fiquei com Ed na floresta? Três dias. E essa foi a parte fácil."

A pergunta a ser feita depois de se conhecer toda a história é: o que leva uma pessoa a fazer uma coisa dessas, arriscando seu bem-estar físico durante tanto tempo? Segundo o próprio Stafford, a intenção da aventura era chamar a atenção do mundo para a causa amazônica e, de quebra, arrecadar fundos para as instituições elencadas no site da expedição.


Link Vimeo
| Alguns dos problemas enfrentados por Stafford

Mas pensem o quão fácil seria simplesmente desistir frente a imenso número de dificuldades que se apresentavam todos os dias nesses mais de 850 dias de caminhada. Qualquer que seja a motivação de Ed Stafford, a história deste explorador é um exemplo moderno de força de vontade, que deve ser lembrado quando a saídas cômodas e fáceis se apresentam. Ed Stafford apenas segue em frente, até o fim do rio Amazonas.

Em tempo, aqueles que ficaram curiosos sobre a aventura podem obter maiores informações no site www.walkingtheamazon.com, seguir Stafford no Twitter @amazonwalkers e assistir mais vídeos da viagem em seu canal no Vimeo.

"Se liga, saiu um texto sobre a gente no PapodeHomem!"

Atualização: missão cumprida!

Vejam a última mensagem do cara no Twitter:

"Job done. 28 months and Cho and I have finished walking the Amazon. I always knew it was possible. :-) Blog/images in a couple of hours...."

publicado em 05 de Agosto de 2010, 04:26
4433381927e9cf1c678f84678c5e10d2?s=130

Guilherme Pinheiro

Criado para ser engenheiro, acabou se formando em Direito e terminou como produtor de cinema. Não tem a menor ideia de como chegou até aqui, embora nunca tenha parado para pensar nisso.


Puxe uma cadeira e comente, a casa é sua. Cultivamos diálogos não-violentos, significativos e bem humorados há mais de dez anos. Para saber como fazemos, leianossa política de comentários.

Sugestões de leitura