A beleza importa: uma verdade inconveniente

Quando o belo se faz irremediavelmente importante, precisamos saber qual o seu contexto e benefícios

Cá estamos outra vez, hasteando o bastião da sabedoria nas pilastras da galhofa. A nossa querida coluna de imagem e estilo masculino de hoje analisará um assunto um tanto polêmico: a beleza. 

O assunto é beleza, então não preciso explicar a imagem. Monica.

Como já é usual, nosso objetivo não é emitir um veredicto ou estabelecer se algo é bom ou ruim, mas sim estimular a reflexão por meio do conhecimento pleno dos mecanismos estéticos, fazendo com que você, nobre truta, tenha mais controle sobre sua própria imagem.

Do começo: 

— Err, claro que beleza importa, mas não deveria, pois beleza é só a casca das coisas.

Amigão, volta lá e lê o segundo parágrafo deste texto. Pronto. 

Agora vamos buscar algumas informações na ciência, assim pareceremos mais sérios e inteligentes. Foi feita uma pesquisa em Londres, em que os voluntários tinham que escutar música e ver obras de arte monitorados por uma máquina que detectava as áreas do cérebro que estavam sendo ativadas naquele instante. Era pedido aos participantes que atribuíssem aos quadros e as músicas uma destas três características: feio, bonito e indiferente.

Sempre quando a escolha era “bonito”, uma região específica do cérebro (a OFC) era ativada, a mesma região associada à recompensa, ao prazer e, muito importante, à curiosidade. Esta mesma região também é ativada quanto achamos um rosto bonito e, provavelmente, reaja assim a tudo mais que caracterizarmos como tal.

E daí?

Pois bem. A beleza se manifestar na mesma região que a curiosidade e que o sistema de recompensas pode ser uma tremenda pista de como ela age em nossa mente. Talvez a beleza, com seu caráter quase hipnótico, interaja conosco mais do que somente com a pura contemplação. Quem sabe ela não seja também um gatilho para o conhecimento? Lembre-se que nosso cérebro nunca trabalha de maneira randômica e, ao observarmos algo que julgamos belo, ele nos diz "continue olhando, fera". 

E se este for o sinal para percebemos que, à nossa frente, existe algo a ser decifrado? A contemplação como finalidade não tem lógica alguma, portanto, é muito provável que ela se trate do meio, não do fim do processo. Neste caso, a beleza seria um incentivo à curiosidade, uma dica da nossa mente para ficarmos atentos ao que temos diante de nós, e aprendermos com este algo.

Pode ser que grande parte da evolução humana se deva à percepção do belo. Pense bem, quando estamos em frente a alguma coisa bonita, mas que já vimos inúmeras vezes, ela parece perder um pouco da beleza, se tornar entediante, óbvia.... e por quê? Já a conhecemos, já a deciframos, não existe mais nada de curioso ali, então, aos nossos olhos, seu status se altera, ela perde seu encanto, se torna indiferente, quem sabe até comecemos a achá-la feia. 

É esta a grande sacada da beleza. Ela está intimamente ligada à resolução de um mistério. Por meio da harmonia ou de um padrão, percebemos que se trata de algo compreensível, embora ainda sem resolução, e este desejo de montar o quebra cabeça é a força que nos move na direção dela. Talvez por isso a beleza seja a característica mais arredia de todas, pois ela só existe de maneira plena quando é inatingível. Será sempre perseguida, mas nunca conquistada, sua condição de existência é a dúvida, a curva, o logo ali que nunca chega, embora sempre esteja do outro lado da calçada.

"Ah, que paraíso!". Pro cara que mora lá, é só mais uma terça-feira. 

— Bacana, poeta, e o que minha lata estragada tem a ver com isso?”

Ah moleque diabólico, não se aflija. Agora que compreendeu o funcionamento, é hora de aplicar o conhecimento: saiba que a beleza não é um fator físico, mas um fator perceptivo. Boa parte dela é transmitida e sofre variação quando nos expressamos, portanto, nem feiúra nem beleza são razões absolutas.

— Ah, entendi, então eu ter um buraco do nariz arreganhado de um lado e um parecendo um furicó do outro, não é necessariamente feio, né?

Putz, fera, sinto muito, é feio e não é pouco não. Deu até um calafrio aqui quando você falou furicó.

A primeira coisa que devemos fazer quando falamos sobre beleza é parar de acreditar no mantra do marketing atual de que todos somos igualmente belos. Eu vejo as propagandas de cosméticos anunciando que eles acham bonito tudo que é real e, na sequência, enchem a propaganda de diversos tipo de pessoas “reais” usando seu produtos. Tem baixas, altas, gordas, magras, velhas, novas. Ok, isso é diversidade de biotipo, o que não se trata exatamente de pessoas reais, ou melhor, são reais, mas ainda assim, costumam ser as mais bonitas dentro de seus biótipos.

Me diz, tem lá alguém cheio de olheira inchada e roxa, como vemos no mundo real? Tem com a pele toda manchada e irregular de sol, com é comum em qualquer região do brasil? Ah, não tem, né? Por que? Porque a pessoa “real” que usar o cosmético vai ganhar uma bunda de neném no lugar das bochechas, correto? Acho que não.

Veja bem, não somos e nunca seremos igualmente belos. A grande questão aqui é que isto não deve ser um problema, mas sim uma porta para o autoconhecimento e, com ele, o aprimoramento. 

Lição do dia: Bruno e o Queixo roubado

Quem não tem problemas relacionados a beleza?

Durante grande parte da minha vida me incomodei em ter o queixo pequeno e o nariz grande (um acentuava o outro). Na escola, caçava a carteira que ficasse perto da parede, assim eu ficava sempre meio de lado e evitava que me vissem de perfil. O tempo passou e veio uma barba densa, minha primeira reação foi virar um profeta, 3 dedos de pêlos na cara e agora eu tinha um queixo, um queixão! 

Então, quase um ano depois de adotar o estilo, notei, ao ver fotos de antes/depois, que ela me deixava com umas bochechas toscas, imensas e nada atraentes. Pensei logo “opa, vou mandar aquele cavanha rasputin e problema resolvido, bochecha normal de novo e queixo presença.”

Num primeiro momento estava tudo ótimo, até que, novamente, vi fotos de antes/depois e percebi que eu parecia um bode, com aquele rabicó vasto embaixo da boca, ainda menos atraente que antes! 

Que cacete!

Foi então, que fiz mais uma tentativa, desta vez assumindo o queixo pequeno, apenas deixando um pouco de barba para aumentá-lo de maneira discreta. Acompanhei esta barba com um bigode e pêlos curtos nas laterais do rosto, de modo que não ficasse outra vez bochechudo e nem com aquele aspecto de bodinho de outrora. Resultado? Entendi que tentar eliminar aqueles meus defeitos poderia acarretar em ganhar outros ainda maiores e vi que a melhor solução era aceitá-los como parte de mim, tentando apenas que eles se encaixassem melhor no todo. 

Deu certo. Dentre as três tentativas, com certeza, esta foi a melhor. Ainda permaneço assim e é meu estilo mais duradouro, mas, pensando bem, será que eu não estou com uma cara de cansado?

E por hoje é só pessoal! E pra quem não quer refletir e ainda está a procura de uma solução mágica, taí a dica:

Como sempre, espero que tenha sido útil ou, ao menos, divertido!


publicado em 23 de Junho de 2015, 10:19
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Bruno Passos

Pintor. Ama livros, filmes, sol e bacon. Planeja virar um grande artista assim que tiver um quintal. Dá para fuçar no Instagram dele para mais informações.


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