Chegou a ficar irritante, tanto que a amiga mandou ele parar. Batia com o os dedos no vidro do celular que, esmurrado, jazia moribundo em cima da mesa. Levantava, andava de um lado para o outro. Lá fora, o branco cobria tudo o que pudesse dominar. Era muita neve, neve demais para sair de casa. Trens parados, carros cobertos, aulas suspensas. Todo o estado de Nova Iorque em alerta por conta das nevascas.
No pequeno apartamento, enfeites em rosa e branco. Ele havia até comprado luvas e um gorrinho com desenhos de coraçõezinhos. Era o dia de namorados, todo mundo só falava nisso! Valentine’s Day. Musiquinhas, recortezinhos em papel, cartinhas de amor, mensagens românticas. Foi assim o começo todo de fevereiro, a preparação para o dia do amor, o feriado dos apaixonados!
Isso lá no hemisfério norte.
Aqui, já era carnaval. O suor escorre atrás da nuca por entre os cabelinhos soltos do coque feito às pressas. A praia está cheia, a sensação térmica no Rio de Janeiro beira o insano. Caras gostosos passam na frente dela o tempo todo, correndo e jogando bola, voltando da água, conversando com os amigos também gostosos. Ela ajeita o biquininho, confere a marquinha. Passou a semana toda atrás de blocos de rua que já figuravam pelos bairros cariocas e atraía turistas que tinham a mamata de folgar já na semana que antecedia a festa.
Ela gostava muito dele, mas estava cansativo demais passar a tarde enfurnada debaixo do ar-condicionado para falar com o namoradinho que tinha as manhãs livres nos Estados Unidos. Gostava dele, mas gostava mais ainda de tomar sol na praia e ver os caras gatos. Deu tchau e foi pra rua.
Ele achando que ela tinha o coração de pedra e ela tendo a certeza que estava toda derretidinha. Gelo e fogo.
Foi mais um dia em que o mundo não se entendeu mesmo.
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