A AIDS não existe! As malfadadas teorias.

A AIDS e o vírus HIV são lendas segundo certos "cientistas". Cuidado.

Questionar um conhecimento, quiçá um dogma, é uma faculdade admirável de um ser humano, afinal, através dos questionamentos é que se criam hipóteses e modelos que, em última análise, nos guiarão ao conhecimento.

Porém a ânsia de querer provar ao mundo o seu orgulho acaba tornando algumas pessoas meros teóricos da conspiração. Assim classifico os papas da “negação do fato que o HIV causa a AIDS”. No meu entender, é pura birra. Fui motivado a escrever esse artigo após ver a dúvida de um leitor daqui da PdH, que classificou os argumentos desses cientistas como “bons”.

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Alto lá!

O que ele chamou de bons, eu chamaria de “aparentemente bem elaborados”. Mas caem por terra frente às evidências a favor do conhecimento atual sobre o HIV que trago aqui.

O HIV não existe?

A guerra começa na própria comunidade científica, um antro de vaidades e orgulhos pessoais. Após a descoberta do vírus HIV em 1984 por Robert Gallo, um grupo de cientistas liderados por Casper Schmidt publicou trabalho acusando a doença de ser apenas um “surto histérico”, comparando com casos semelhantes já registrados, tentando provar que a origem da AIDS não era infecciosa como Gallo postulava.

Ironia do destino, Schmidt morreu de AIDS em 1994.

Em 1986, Peter Duesberg, um dos maiores ativistas do movimento de negação do HIV como causa da AIDS começou o seu bombardeio, concentrado principalmente no AZT, o primeiro quimioterápico contra a doença. Duesberg sustentava que o AZT era o que causava as alterações que levariam à doença, o que poderia até ter fundamento, visto que a efetividade do AZT como monodroga na terapia da AIDS era realmente pequena.

Porém em 1988, as evidências que o HIV era mesmo o causador da AIDS foram consideradas cientificamente relevantes. No ano seguinte, Duesberg escreveu um artigo sobre seus pontos de vista, mas este não tinha fundamentação e tampouco revisão de colegas, algo que era necessário para sua publicação. O editor da revista "Proceedings of the National Academy of Sciences" relutou, mas acabou aceitando a publicação, fazendo a seguinte ressalva :

“Se você quer fazer essas afirmações sem fundamento, vagas e prejudiciais no seu impresso, faça. Mas eu não consigo ver como isto seria convincente para qualquer leitor cientificamente treinado”

O orgulho chegou a fazer alguns “cientistas” cometerem loucuras. Um médico chamado Robert Willner, que teve sua licença revogada por, entre outras coisas, tratar um paciente HIV positivo com terapia de ozônio, infectou-se publicamente com sangue que dizia ser contaminado, em 1994. O que ele queria provar jamais será conhecido, pois Willner morreu de infarto naquele mesmo ano.

Contra fatos não há argumentos

Em meados da década de 90, trabalhos científicos deram um duro golpe na hipótese que o AZT era a causa da doença. Isto deveu-se à descoberta dos chamados esquemas múltiplos de terapia.

Primeiro: foi comprovado cientificamente que a sobrevida dos pacientes que recebiam duas drogas (AZT e outra) aumentava em 50%.

Segundo: surgiram os esquemas tríplices, que elevaram a taxa de sobrevida para entre 50 a 80%.

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Anúncios franceses de prevenção à AIDS. Tá vendo a quantidade de bocas na versão masculina? Sempre soube que o boquete era campeão! fonte

O que prova a improcedência da teoria que a droga causa a doença. Sem falar que a descoberta de tais drogas foi motivada pelo estudo do mecanismo de infecção do vírus, e através disso, as drogas atuais combatem a infecção. Não há como discordar.

Na sanha de comprovar outras hipóteses absurdas, os “denialists” postularam que a alta mortalidade entre gays era proveniente de hábitos promíscuos. A comprovação da inviabilidade da tese foi simples. Apenas os gays que TINHAM o HIV morriam, e não aqueles que não o tinham.

Tentaram a mesma coisa com o uso de drogas, e – surpresa – somente aqueles infectados pelo HIV desenvolviam a doença. No caso dos hemofílicos, que a doença advinha de outras deficiências dos fatores de sangue ou alto consumo de fatores da coagulação, e só aqueles com o virus adoeciam.

A equiparação gradual da relação homem : mulher infectados pelo HIV também jogou por terra outro argumento, que seria da doença exclusiva dos gays e seus hábitos promíscuos. Na África, mais mulheres são HIV-positivas que homens.

Outro argumento usado pelos “HIV-denialists” é o fato de algumas pessoas não desenvolverem infecções pelo HIV. Fato aliás que sempre existiu na natureza e possibilitou a sobrevivência das espécies, estando inclusive na teoria da seleção natural de Darwin. Contrapondo tal argumento, o que os “denialists” não explicam é que esses casos são poucos, aliás, ínfimos, comparados aos milhões que morrem justamente pelas complicações causadas pela doença. Usar a exceção para negar a regra?

Tal insistência em negar a existência do HIV como causa da AIDS pode ter conseqüências desastrosas. E um país inteiro descobriu isso da pior forma possível.

O Caso África do Sul

As pessoas estão focando na coisa errada. Estão focando em conspirações ao invés de se protegerem, ao invés de se testarem e procurarem terapia e cuidados apropriados.”

Os argumentos dos “denialists” tiveram profundo impacto político, social e econômico na África do Sul. Tudo porque o governo do presidente Thabo Mbeki era simpático a estas teorias. Esta influência é considerada pelos críticos a causa da resposta lenta e ineficaz do governo sul-africano à epidemia massiva de AIDS no país.

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Thabo Mbeki. Esse homem ignorou a AIDS. O preço foi alto.

Em 2000, na Conferência Internacional de AIDS realizada em Durban, na África do Sul, Mbeki liderou um painel contendo um número de “denialists”, advogando que os testes anti-HIV deveriam ser banidos. Em discurso posterior no Congresso, Mbeki reiterou sua opinião que o HIV não era a causa da AIDS, o que levou centenas de ouvintes e delegados a abandonar sua palestra. A resposta foi uma declaração de toda uma comunidade científica, a Declaração de Durban, assinada por mais de 5000 pessoas, entre médicos e cientistas, e ratificada pela Sociedade Sul-Africana de Medicina, que o HIV era a causa da AIDS.

Mas a ministra da Saúde local, Dra. Manto Tshabalala-Msimang conseguiu fazer pior. Referiu-se aos medicamentos anti-HIV como venenos, e promovia o tratamento dos pacientes com alho, beterraba, limões e azeite. Tal arbitrariedade infundada gerou um movimento de mais de 80 personalidades científicas, exigindo a imediata demissão da ministra.

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A ilustre Dra. MantoTshabalala-Msimang tinha opiniões peculiares sobre a doença...

O governo de Mbeki é acusado de retardar o desenvolvimento de programas que distribuam medicamentos para pessoas com doença avançada e mulheres grávidas. Sendo que, se tratadas entre a 14ª e a 34ª semana de gravidez, a criança tem ENORMES chances de não nascer com o vírus.

O programa de distribuição só começou após os ministros do governo serem processados pela responsabilidade na morte de 600 pessoas por dia, que não tinham acesso à medicação. A África do Sul foi um dos últimos países a desenvolver tal programa, e seu desenrolar ainda é lento.

Em 2002, Mbeki solicitou aos “denialists” que não utilizassem mais o seu nome em sua literatura, bem como parassem de assinar como “Participantes do painel do Presidente Mbeki”. E em 2005, o ex-presidente Nelson Mandela anunciou que seu filho havia morrido em consequência da AIDS. Tal anúncio foi visto tanto como uma mensagem contra o preconceito em relação à doença, como um recado político para forçar o presidente Mbeki a alterar sua posição de negação.

Finalizando

Deixo aqui uma frase publicada na Declaração de Durban, que ilustra bem a questão:

“O HIV causa a AIDS. É lamentável que algumas pessoas neguem as evidências. Esta posição causará a perda de incontáveis vidas.”

Muitos dos “denialists” eram portadores do vírus HIV. Em 2007, o site AIDS Truth publicou uma lista destes ativistas que ironicamente morreu de AIDS. Uma revista “denialist” chamada Continuum teve que fechar após *todos* os seus editores, ativistas e portadores do HIV, morrerem de AIDS.

E outros tantos foram ridicularizados, quando, ao desenvolverem a doença, procuraram o tratamento medicamentoso anti-retroviral.

Dr Health, Eliot Ness de denialists


publicado em 12 de Setembro de 2008, 10:57
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Mauricio Garcia

Flamenguista ortodoxo, toca bateria e ama cerveja e mulher (nessa ordem). Nas horas vagas, é médico e o nosso grande Dr. Health.


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