9 dicas para curtir o carnaval sem deixar rastros de lixo

Os quatro dias de carnaval geram centenas de toneladas de lixo. Algumas práticas individuais ajudam a reduzir o impacto ambiental da folia

Pronto. O ano começou e no final desta semana o Carnaval começa real oficial! Mas vamos lá, não são só as fotos e as histórias que ficam depois que esses dias passam… Afinal, mesmo que a gente não veja, o lixo que a gente gera vai ficar na natureza por um bom tempo. 

No carnaval de 2019, o saldo da bagunça foi o seguinte: 1,1 mil toneladas de lixo em Salvador, segundo dados da Empresa de Limpeza Urbana de Salvador (Limpurb), 649 toneladas em São Paulo, pelos dados da Prefeitura, e 541,3 toneladas no Rio de Janeiro, pelos dados da Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb). Muita coisa, né? 

Foto por FolhaPress

Há um conceito chamado biocapacidade, que segundo a organização WWF Brasil, mede a capacidade dos ecossistemas em não só produzir recursos úteis, mas também em absorver os resíduos gerados pelo ser humano. Este é um número que vem caindo a cada ano que passa, ou seja, cada vez mais o lixo que é gerado pelo ser humano perdurará na natureza. 

É por sentir que este é um assunto que merece ser discutido que estamos aqui, para apresentar soluções sustentáveis pros próximos dias de folia. Não queremos apontar o dedo pra ninguém, responsabilizando as pessoas individualmente, mas a gente precisa repensar os nossos hábitos de queremos para deixar um mundo bom para se viver para as gerações que virão. 

É triste pensar que está ficando tarde para lidar com problemas que são cada día mais presentes e só aumentam. São enchentes mortais, rios que invadem as cidades, a fauna e flora que estão sendo extintas.

Antes que a gente chegue em um ponto irreversível, são com as nossas pequenas atitudes que, de alguma forma, vamos conseguir mudar o macro. Isso pode levar anos? Sim. Mas, pra tudo, um começo sempre ajuda. 

1. Prefira as latinhas

As latinhas são a melhor opção para quem está querendo ser mais sustentável. A lata de alumínio é 100% reciclável.

Quando você recicla uma lata, além de fazer com que menos alumínio seja produzido (no Brasil, ele é encontrado principalmente pela exploração da Bauxita), você acaba ajudando o trabalho de pessoas que são muito importantes para que as festas acabem mais limpas: os catadores.

Foto do Bloco da Reciclagem, em ação conjunta com SP Invisível.

No Brasil, segundo Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis, cerca de 800 mil pessoas trabalham nessa função. Uma forma de ser mais sustentável e empático nesse carnaval, é entregar a sua latinha na mão dos coletores, ao invés de descartar no lixo. Isso garante que a lata vai ser reciclada e evita que catadores tenham de revirar o lixo.

Mas ó, só pra lembrar: lembre-se sempre de higienizar as latas antes de beber, nem que seja com um álcool gel! 

2. Leve o copo pro bloco

Copo do Menos1Lixo.

A primeira dica é pra você levar um copo seu para curtir os blocos. E aqui vale de tudo, viu: dos copos de silicone até aquele caneco velho da faculdade! O que importa aqui é não gerar mais desperdício de copo descartável. Por mais que eles só pesem 1,8 gramas, pensa só no rolê com você e 10 amigos. Se cada um toma uns 10 copos ao longo do dia, já seriam 180 gramas de resíduos potencialmente recicláveis … que vão pro lixo. 

3. Glitter só se for biodegradável

Sim, eu sei. Eu também uso o glitter como forma de diferenciar as roupas do dia a dia das roupas do carnaval. Mas a questão aqui é que os glitters, tão brilhantes, são microplásticos e por mais que a gente tente tirar o glitter de toda a forma, eles geralmente conseguem passar pelo esgoto e chegam até o fundo dos nossos rios e mares. O problema não é “só” esse: no oceano, ele atrapalha a fotossíntese das algas e os peixes e tartarugas podem confundir com alimento e ingerir. O glitter. Que durou um único dia de Carnaval. Pois é.

 

A solução para quem não quer deixar de brilhar são os glitters biodegradáveis! Tem desde os que são feitos com mica (que é o nome dado a grupo de minerais), algas marinhas e até os que são feitos com polímeros biodegradáveis. Vale a pena pesquisar :). 

4. Faça sua fantasia ou compre de quem faz!

Quem aqui não tem uma peça de roupa que pode ser transformada?

Sei que muita gente já está consciente e aderindo às tendências minimalistas (menos é mais), cortando o consumo excessivo e que talvez nem todo mundo tenha roupas de sobra para transformar.

Se este não for o seu caso, você poderia, sim, dar uma olhada no armário e fazer alguma roupa interessante com uma antiga calça que está lá, ou com uma blusa que não faz mais sentido no cotidiano, mas que não deixa de ser linda e super descolada. (O Rodolfo Kanematsu deu dicas de como criar looks de carnaval)

Que tal reproveitar uma camiseta velha para vestir uma piada?  "Erro 404: Fantasia não encontrada" 

O ponto aqui é que a gente nem sempre precisa comprar algo novo para entrar na onda do Carnaval. A ideia é colocar cor, um pouco de brilho e um sorrisão na cara pra curtir os blocos por aí.

Se você quiser comprar, a dica é a seguinte: compre de um brechó, que dá uma nova vida para as roupas já "descartadas", ou de um pequeno produtor — da amiga está costurando pra melhorar a renda, da vizinha que faz uns acessórios bonitos ou daquela marca pequena que você viu no Instagram.

A sustentabilidade é ambiental, claro, mas ela também deve ser social e econômica. Por um lado, evitar aquele consumo superficial (no qual compramos algo que se usaremos apenas naqueles dias e que se descarta em seguida) e, por outro, quando for caso de comprar, podemos contribuir com pessoas e negócios que não compactuam com trabalho mal remunerado e/ ou análogo a escravidão, por exemplo. 

5 - E confete, serpentina e espuma?

Não tem segredo! Se quiser, o GreenMe te ensina a fazer!

Se o papo é pensar no impacto que a gente gera no meio, o que dizer de pedaços de papeis que são usados, unicamente, pra jogar pro alto e/ou nas outras pessoas? E se ao invés de comprar um confete já pronto, você não pegar algumas folhas (das árvores) no chão e usar um furador para ter um efeito semelhante?

E sabe aqueles sprays de espuma? Então, ele é um aerosol e estes costumam soltar um gás (o CFC) que é um dos principais responsáveis pelo efeito estufa... sendo assim, será que vale a pena inclui-lo na diversão?A intenção do texto é dar alternativas para algumas coisas que já não podem continuar do jeito que estão, né :P 

6- Bitucas nas bituqueiras

Bituqueiras da Somar & Multiplicar

As bitucas, que tão facilmente vemos pelas ruas, são altamente prejudiciais ao meio ambiente. Elas têm contato com todas as mais de 4000 toxinas que o cigarro tem e, além de contaminar o solo com suas toxinas, elas não foram feitas para se degradar na natureza. Ou seja, a bituca que está pelas ruas hoje, enquanto ninguém recolher, vão continuar por ali por um tempo.

A bituca é, sozinha, responsável por uma grande parte da poluição (e mortes de alguns animais) dos oceanos. Elas também contribuem para entupir bueiros e tubulações e, em épocas de seca, podem causar princípios de incêndio. Sendo assim, se for fumar no meio do rolê, leve um bituqueiro portátil com você.

(E se quiser mais informações sobre esse tópico, veja no mundosembitucas.com

7. Leve uma sacola retornável com você

Essa dica aqui é para você se atentar sobre a sua produção de lixo. Leve uma sacola com você e coloque ali todo o lixo que foi produto do seu consumo.

Quem nunca andou pelas ruas da cidade e viu lixeiras transbordando em dias de evento? Nem sempre você vai encontrar uma lixeira vazia e cuidar da destinação correta do seu lixo também é uma forma de você cuidar do meio em que você está inserido.

Se cada copo plástico pudesse parar nas coletas seletivas da vida, talvez a quantidade de lixo destinado aos aterros seria consideravelmente menor. 

8. Recuse o que não for necessário

Essa dica é um convite para você repensar sobre o que você aceita por aí ou não. Por exemplo, se um comerciante te dá um canudo sendo que você já tem o seu copo, você pode recusar o canudo.

Ou por exemplo, se você tá no meio do bloco com o seu boné e uma marca começa a distribuir viseira, pense se realmente vale a pena pegar mais uma coisa para juntar em casa e, depois, descartar. 

A partir do momento que você já pensa no “será que eu preciso disso?”, você já está refletindo sobre as suas ações e evitando excessos. Isso já é válido demais!

9. Transporte público no rolê

Foto do arquivo Hojeemdia

Eu sei que nem sempre é fácil embarcar nos ônibus e metrô em dias de folia, mas, com as ruas bloqueadas, aqueles que se aventuram a ir de carro podem se dar mal. Além disso, um carro com uma única pessoa emitindo poluentes não é uma forma muito sustentável de andar pela cidade, não é? E ainda por cima, de transporte público você fica livre para tomar sua cerveja sem preocupação.

Vai com os amigos? Marquem pontos de encontro, comprem bilhetes antecipadamente e pensem em rotas para voltar pra casa. Se na prática não der pra chegar de ônibus, tente ao menos dividir o carro com algumas pessoas. 

* * * 

Essas aqui são as principais dicas para que possamos refletir sobre a nossa postura de cuidado com o espaço e curtir a folia sem causar tanto impacto no meio ambiente. Juntos podemos construir um carnaval melhor para nós e para o mundo.

Boa folia! 


publicado em 21 de Fevereiro de 2020, 07:00
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Ana Beatriz Barbosa

Jornalista que está se especializando em meio ambiente. Direitos humanos são pra toda gente. E eu luto por isso!


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