8 sinais de que seu relacionamento precisa de novos ares

O sofrimento nem sempre é óbvio. Ninguém se isolaria numa ilha de dor se ela parecesse ameaçadora logo de cara. O sofrimento vem embalado numa pacote bonito no qual há uma promessa de felicidade.

Pense no emprego dos sonhos. Se de cara ele surgisse como uma sequência interminável de noites mal dormidas, pressão por desempenho, estresse crescente e menos momentos com a família ou com quem se ama, as pessoas iriam com mais cautela, menos apego. É na ideia de tentar sustentar uma vida permanentemente agradável e sem rachaduras que mora o perigo. Sem notar, estamos brigando para manter o bem estar passageiro.

Resolvi listar uma série de situações deliciosas em que juramos de pé junto que vai tudo bem, mas podem conter a semente de problemas futuros se conduzidos como uma busca inadiável pela felicidade.

1. Quando se refugiam um no outro

Sabe aquela sensação aconchegante de olhar a pessoa amada como o abrigo pessoal? Nesse momento cada adjetivo ou conselhos lançados descem suavemente e dão confiança. Essa sensação de proteção cresce a tal ponto que as rotinas se fundem e certo constrangimento surge quando alguém quer eventualmente fazer outros planos, conversar com alguém de fora da relação, enfim, sair um pouco dos limites do relacionamento.

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A cerca psicológica, depois de algum tempo, pode transformar o aconchego em prisão. Todo ciúme vem disfarçado de cuidado, de declarações e demonstrações de afeto públicas que demarcam uma mensagem: esta pessoa é minha.

É claro que pode vir contentamento ao ver a pessoa brilhar, crescer, avançar e borbulhar na vida, mas em muitos casos só há uma opção: ser feliz do jeito que convém a uma das partes.

2. Quando estão em sintonia

Ele gostava de rock, mas ao conhecer Fernanda começou a apreciar a batida inteligente do MPB. Com o tempo foram descobrindo coincidências ocultas como a cidade natal de alguns primos de segundo grau e logo já tinham afinidades filosóficas pré-socráticas.

O tempo revelou uma sintonia bonita de ver, estavam em tons de roupa que se completavam como uma aquarela. Nas tardes de domingo torciam bravamente pelo time favorito dele – que já era também o dela. Não havia problema em usar as mesmas expressões e quase o mesmo sotaque.

Essa sintonia era tão ajustada que se surpreendiam quando um completava o pensamento do outro. Era quase telepático!

O chato era quando o compasso nem sempre se sincronizava e ele precisava ficar até mais tarde para terminar a tese de mestrado e ela ficava chateada. Nem sempre suas aspirações políticas batiam, pois ele acreditava piamente numa sociedade mais igualitária enquanto ela não se importava em incentivar os bens de consumo.

No supermercado isso ficava evidente, com ela despejando os melhores produtos e ele devolvendo as coisas na prateleira. O desejo de filhos era velado, ela queria e ele escondia que não queria. Ninguém tocava no assunto, afinal com tantas similaridades, coincidências e predestinações pra que deixar que isso atrapalhasse?

3. Quando a vontade de estar juntos não passa

– O que você vai fazer no fim de semana?
– Poxa, vou ficar com minha namorada.
– ?

É tão delicioso ficar com o outro, né? Muito gostoso e tão magnético que passar o tempo com mais alguém parece perda de tempo ou distração. Se um amigo chia e fala que já não o vê mais pelas redondezas, diz que está ocupado. Nada disso, está mergulhado nesse mar de autocentramento. O começo do namoro foi tão atribulado né? Porque não aproveitar cada minuto juntos, agora é hora de curtir cada viagem, passeio e cinema numa total intimidade, sem intrusos. Família nem pensar.

Mas um comichão vai cutucando por dentro, aquela roupa macia vai ficando apertada e bate uma saudade de visitar com mais frequência a casa dos pais e bater aquele papo cara a cara com o amigo. Depois de tanto tempo tentando diluir os outros papéis na vida para incorporar o de namorado já não é tão simples escapar de cobranças sutis como "você já não passa mais tanto tempo comigo".

Talvez venha daí a sensação de perda de liberdade que muitos alegam quando o casamento chega. Casado ou namorando, parece-me que o fantasma da fusão pode rolar sem que se perceba.

Estar com o namorado(a) não deveria ser um estilo de vida ou hobby favorito.

4. Quando o entendimento parece perfeito

Comunicação quase telepática, basta um olhar e tudo está entendido. Surgem até brincadeirinhas quando amigos estão por perto e diante de um comentários eles se olham e se entendem, riem e ninguém saca aquela maldade brejeira que rola nas entrelinhas do casal.

Essa paranormalidade toda vai perdendo a graça quando alguém não capta a mensagem direito.

Quando ele diz na parte da manhã que está cansado de tudo e vai para o trabalho, é bem provável que ao final do dia o cenário seja bem problemático. Na aparente capacidade de se ler, mil crivos surgem, frutos de inseguranças e variações de humor, e criam ruídos entre a afirmação original e o que se entende ao término do telefone sem fio.

Nossa mente acessa narrativas tão particulares (e perturbadoras) que chegamos a acreditar cegamente que ouvimos a realidade gravada em vídeo. Nem desconfiamos que nossas alucinações criam projeções distorcidas do que ansiamos, tememos ou rejeitamos encontrar no outro.

Essas conexões aparentemente prodigiosas são a própria linha tênue entre a comunicação entre adultos e crianças. Um olhar para um pequeno é uma ordem, mas será que entre adultos é assim também?

5. Quando os dois se conhecem por completo

"Conheço cada sigilo dela", ouvi isso de um rapaz que se orgulhava de já ter arrancado todas as confissões mais indiscretas da namorada. A lista cheia de orgulho continha de senhas a transas detalhadas com o ex. Ela, do outro lado, se entusiasmava em pedir a ele "quero que seja verdadeiro comigo". Nada mais curioso que esse pedido.

O impasse dessa deliciosa dança é quando um dia vai mal ou algo falha na expectativa mútua. O impulso, em geral, é de evocar verdades arqueológicas para ferir sutilmente um ao outro. "Com ele era melhor, né? Não foi isso que falou aquele dia?"

Nós mal conseguimos ouvir os nossos pensamentos mais terríveis ou assistir um vídeo nosso cantando num karaokê. Mesmo frases honestas e despretensiosas dos outros como "hoje só quero uma rapidinha" ou "acho você lindo quando conversa com minha avó meio surda" são capazes de nos chocar. Como podemos achar que conhecemos toda a verdade sobre o outro?

Seria libertador se pudéssemos escolher sair de nossas cascas de encenações sociais e viver uma vida pautada pela autenticidade. Mas o que realmente estamos querendo ao arrancar confissões da a pessoa amada? O que fazer depois com as revelações?

6. Quando o sexo é perfeito

Apague a luz ou mantenha-a acesa, não importa, o show vai começar. Sexo gostoso, ardente, tesão e orgasmo garantido. Essa delícia orgástica irresistível pode se transformar sem que se perceba na gaiola do prazer que com o tempo exigirá mais habilidades e inovações.

As performances são sempre ajustadas, mas ao mesmo tempo a espontaneidade começa a ficar escassa e criar uma tortura inconfessável. Como recusar um sexo tão bom e ficar apenas de papo "furado"? O que fazer da próxima vez para continuar atendendo às expectativas?

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Pode parecer delicioso, mas eu teria calafrios ao pensar que diante de mim existe uma fogueira que precisa ser alimentada para sempre.

Será que o sexo é bom o suficiente a ponto de abrir espaço para formas mais sutis de interação que incluam até a falta de sexo? Como criar contextos em que se possa desdobrar o tesão ou outra forma de expressão pessoal que vá além dos genitais. Que prazer sem gemidos poderia surgir daí?

7. Quando os planos estão alinhados

Nada mais tranquilizador que saber exatamente o tom das palavras que virão num dia de desconforto profissional. Ele vai sorrir delicadamente e emitir duas ou três frases reconfortantes que de imediato reacenderão as esperanças abaladas. Como é bom saber que o destino está todo traçado sem nenhum terremoto emocional, não é?

Imagine que você acorda e sabe exatamente o que acontecerá nos dias que restam do seu ano. Saberá com quem vai cruzar na esquina da rua em que mora, quando será mandado embora do seu emprego dos sonhos e inclusive quando levará um pé na bunda. Se isso soou minimamente asfixiante para você, imagine uma vida a dois em que cada plano se torne uma coluna de verdades a serem sustentadas pela vida, sem nenhum improviso ou surpresa?

Se desde a fase de paquera a certeza de que o outro não sairia do cercadinho era o balizador da relação, uma semente de dúvida pode ter surgido, pois a cada vez que tudo dá certo, uma nova prova deve ser aplicada.

"Ele nunca deixou dúvida de que gostava de mim!", ela se refere ao marido satisfeita. Poderia inclusive descrever com exatidão cada próximo passo dos dois pelos próximos 10 anos. Se quisesse predizer, até poderia adivinhar como ele gaguejaria diante de uma pergunta específica ou quando ficaria relaxado completamente.

Essa previsibilidade carinhosa pode conter um fantasma sem nome. Uma certa paralisação psicológica para que nada quebre expectativas ou crie insatisfações. Nessa hora já não existe mais duas pessoas que se beneficiam, apenas esforços conjuntos para reforçar expectativas.

8. Quando sentem prazer em agradar um ao outro

Ela não suporta a ideia de comer sashimi. Mesmo assim para agradar o "benzuco", faz o sacrifício e come sem fazer cara feia. Ela jamais vai confessar que praticamente se contorce para agradar a seu amado e vai declarar: uma delícia!

Há uma lista interminável de desagrados incorporados a pretexto de arrancar um sorriso. Cada um cede um pouco mais na tentativa e agradar e terminam sem saber o que fazer para recompensar tanto sacrifício.

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O tempo pode revelar algumas mágoas e renúncias ineficazes, afinal ele não se mostrou tão grato assim. Logo que pôde, afrouxou a atuação e passou a se comportar como sempre, sem nenhuma consideração por tudo o que ela fez ao longo de anos.

Agradar nem sempre é a fórmula do sucesso. Aliás, pode acontecer o contrário, pois a tentativa de acomodar os desejos em meia dúzia de seguranças pode estrangular a criatividade. Essa tentativa de satisfazer os desejos superficiais do outro em grande parte das vezes soa como uma forma sutil de exigir a recíproca.

Estabelece-se um acordo silencioso, uma lei que determina como um pecado sair do personagem de sempre e experimentar a vida de maneiras não pré-combinadas. O casal incapaz de se comportar de maneira natural, seguindo aos seus próprios crivos e limites, pode desenvolver uma mania de mimar um ao outro de forma doentia. Pobre daquele que se arriscar a sair do cercado de sacrifícios mútuos.

* * *

Ganhar novos ares, ao contrário do que se pensa, não é uma necessidade dos dias finais em que um relacionamento já fraqueja de pernas bambas e mostra sinais de falência. É importante lembrar que o rosto endurecido do divórcio já se anuncia nos gestos amáveis e confortavelmente previsíveis dos primeiros dias. O tesão caloroso que motivava as noites tórridas já se mostra como uma batuta invisível na necessidade de aumentar os decibéis dos gemidos para fugir de uma relação fria.

Quando a alegria caminha associada à rigidez, se transforma num inimigo silencioso que dorme no colo do casal afetuoso, ingênuo e cheio de esperança.

Toda vez que o casal se fecha numa forma caricata de relacionamento e se desencontra da dimensão de liberdade é hora de chacoalhar as seguranças e tomar novos ares.

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Nada como uma viagem em casal para se cercar de novos ares e novas perspectivas.

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publicado em 13 de Junho de 2013, 21:00
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Frederico Mattos

Sonhador, psicólogo provocador, é autor do Sobre a vida e dos livros Relacionamento para Leigos" e "Como se libertar do ex". Adora contar e ouvir histórias de vida no instagram @fredmattos. Nas demais horas cultiva a felicidade, é pai de Nina e oferece treinamentos online em Fredflix.


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