8 séries da comédia na TV britânica | WTF #64

A comédia britânica é tida como peculiar, sofisticada, algo que não é para qualquer um. Temos aqui oito indicações para você ter mais contato com esse tipo de comédia

Listo aqui algumas opções que hoje são facilmente disponíveis por torrent ou, talvez, em alguns serviços de streaming. Vou tentar evitar o óbvio, que seria indicar o Flying Circus, Fawlty Towers, Blackadder, ou Father Ted, mas o óbvio parece, em todo caso, ser uma medida difícil de precisar. 

Hoje não

Em todo caso, estão mencionadas aí para que não apareça alguém “ah, mas você esqueceu de Blackadder”...

Do Goon Show (programa de rádio) até Peep Show, a comédia britânica é sem dúvida uma das melhores do mundo. Para alguns pode ser um gosto adquirido, mas nenhuma outra comédia parece tão ligada a um aspecto nacional e universal ao mesmo tempo.

Um detalhe que precisa ser lembrado é que as séries na Inglaterra têm temporadas muito curtas – em geral seis episódios. Isso se deve ao modelo britânico de TV pública e à forte sindicalização das equipes. Assim, uma sitcom seminal como Fawlty Towers pode ter apenas 12 episódios, divididos em duas temporadas – enquanto que a regra nos EUA são temporadas de 24 episódios, multiplicados por pelo menos quatro, e muitas vezes mais do que oito temporadas. 

A pressão de produzir muitos episódios está nas regras de syndication, que só ocorre em países com uma rede de distribuição de afiliados. Esse processo de distribuição só ocorre com um mínimo de sessenta e tantos episódios, e como é aí que está o dinheiro grosso, a tendência é produzir muitas horas. Assim, como na Inglaterra não existe essa pressão, o que ocorre é uma concentração de qualidade em poucos episódios.

Snuff Box, “Caixa de Rapé” (2006)

O absoluto gênio da comédia Matt Berry aqui faz par com Rich Fulcher em uma anárquica série de esquetes que durou meros seis episódios. 

É possível que algumas pessoas conheçam essa série pela pequena viralização das “cenas de namorado” que ocorreu no Brasil alguns anos atrás: 

The It Crowd, “A Galera da TI” (2006-2013)

Supostamente influenciou The Big Bang Theory, mas para meu gosto, infinitamente superior. Os nerds aqui não são acadêmicos de sucesso, mas técnicos de informática numa empresa que lhes impõe uma chefia que é uma moça que não entende nada de computadores, a adorável Jen. 

Chris O’Dowd foi catapultado para Hollywood, onde tem feito muitas pontas em filmes (St. Vincent, com Bill Murray) e séries (Girls). Matt Berry, mais conhecido por sua participação nessa série, recentemente fez um episódio de Community. Já Richard Ayoade e Katherine Parkinson, outros gênios absolutos da comédia, ainda não obtiveram grande projeção. 

It Crowd teve quatro temporadas de seis episódios e um especial de uma hora de duração. TV absolutamente essencial para quem gosta de comédia, e particularmente se você é um “standard nerd”.

The League of Gentlemen, “A Liga de Cavalheiros” (1999-2002)

Tenho certa dificuldade com sotaques pitorescos, e aqui o pessoal carrega na peculiaridade dos rincões menos sofisticados da Anglia. São quatro atores se revezando em dezenas de papéis, mostrando o cotidiano de um vilarejo. 

O humor é negro e absurdo como nada que já foi mostrado na TV. Os canadenses Kids in the Hall, depois de anos fora do ar após seu excelente programa de esquetes, tentaram imitar essa fórmula com sabor América do Norte em Death Comes to Town (2010), mas não deu nada certo.

Black Books (2000-2004), “Livros Negros” 

Uma sitcom de produção barata que se passa quase toda dentro de um sebo – e tem seu atrativo cult. Bill Bailey, um comediante bonachão, frequentemente aparece no programa de Stephen Fry, QI.

Little Britain (2003-2006), “Pequena-bretanha” 

Seguindo a fórmula da trupe de quatro ou cinco comediantes em um programa de esquetes, é difícil dizer se é menos ou mais negro e absurdo do que League of Gentlemen

É sem dúvida mais acessível em termos de sotaque e referências culturais.

Peep Show (2003-2015), “Programa do Voyer” 

Dois “blokes” na Londres moderna – um historiador nerd e um clubber perdidão. David Mitchell e Robert Webb (com o gênio coadjuvante drogadão “Super Hans”, Matt King) no que seria um drama urbano moderno, quase tragédia, cujo gimmick é usar muitas vezes a câmera no ponto de vista do interlocutor – só que para os ingleses, é uma comédia. 

Negro, como quase tudo aqui, muito negro. Mas de rir alto vez após vez. Mitchell e Webb fizeram várias outras coisas juntos, das quais se destaca That Mitchell and Webb Look (2006-2010) – e eles fazem tão bem o tipo loser que quando os vi fora dos personagens, com as esposas, na vida real, quase não pude acreditar.

Miranda (2009-2015) 

Única série aqui listada que você pode ver com sua filha pré-púbere. Aliás, que você está fazendo vendo essa “Chaves” britânica? 

O problema é que Miranda Hart é uma comediante de mão cheia, e não vamos discriminar só porque ela não faz humor negro e edgy. Tão negro, quer dizer, porque humor britânico quase sempre está flertando com esse lado, mesmo em séries praticamente infantis.

Garth Marenghi’s Darkplace (2004-)

Matt Berry aqui de novo, nessa paródia de filmes de terror estadunidenses dos anos 80, de baixo orçamento. 

Se você é aquele tipo que ri com gore, prato cheio.

Outras séries dignas de menção: 


publicado em 25 de Junho de 2015, 00:00
File

Eduardo Pinheiro

Diletante extraordinário, ganha a vida como tradutor e professor de inglês. É, quando possível, músico, programador e praticante budista. Amante do debate, se interessa especialmente por linguística, filosofia da mente, teoria do humor, economia da atenção, linguagem indireta, ficção científica e cripto-anarquia. Parte de sua produção pode ser encontrada em tzal.org.


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