8 razões pelas quais festivais podem transformar sua vida

1. Quanto mais virtuais ficamos, mais rituais precisamos

À medida em que nos tornamos mais dependentes de nossos iPhones e mais "conectados" pelo Facebook, podemos na verdade nos desconectar uns dos outros.

A real conexão é o que buscamos.

Festivais são tão antigos quanto a humanidade, mas na era digital há um novo pico na atração magnética gerada por encontros humanos extraordinários. Há festivais dedicados a transformação...

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E outros, como o EDM...

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Que dobraram de tamanho na última década. Surge um senso de imediatismo quando deixamos de lado nossos smartphones e mergulhamos no momento presente um festival. Porque o que buscamos são experiências "na vida real", apesar de nos afogarmos em um oceano de URLs. Excesso digital pode ser um problema do primeiro mundo, e não uma questão urgente, de vida ou morte. Mas em alguns locais de Bali e no Burning Man, celular e wi-fi são raros ou inexistentes. Vida e morte são imediatos como ritualizados pela comunidade e pelo fogo – longe de algo virtual. Minha transformação pelos festivais foi forjada nas chamas de ambos.

A cultura de Bali tem como base festivais de nascimento e morte – que me trouxeram de volta o apreço por essas experiências e me fizeram voltar lá mais de uma dúzia de vezes. Os balineses honram o fim da vida à luz do dia, com cremações públicas que celebram a partida daqueles que amam, à vista de todos...

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E então são enviados aos céus em grandes piras funerais.

A comunidade deve estar presente para completar a jornada, mas você não precisa morar lá para se sentir em casa. Há liberdade ao enfrentar a inevitabilidade da morte em conjunto, o que dá um senso de conexão significativa nesse teatro compartilhado de nossas vidas.

Larry Harvey, fundador do Burning Man, queimou uma efígie de sua própria imagem em uma praia de São Francisco para transformar seu coração partido. Mais de 25 anos depois, a noite climática de seu festival no selvagem deserto de Black Rock City, coloca em chamas "The Man", em um evento anual que vai receber um recorde de 68.000 pessoas em 2013. E o último a pegar fogo é o próprio Templo...

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Uma enorme estrutura temporária que age como um receptáculo para palavras, fotos e totens, depositados ritualmente durante a semana com um combustível de risadas e lágrimas. O Templo arde em uma fogueira emocional na última noite.

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Qualquer um que já tenha vivido isso vai dizer que, apesar de toda a diversão em um festival desse tamanho, há – e talvez isso seja o mais importante – uma real chance de se conectar profundamente com outros e com você mesmo.

2. Curiosidade cultural = uma vida mais robusta + um planeta mais pacífico

Nos próximos 40 anos, a população mundial vai explodir de 7 para 10 bilhões de pessoas. "Eu preciso de espaço" vai ganhar um novo significado à medida em nossos cotovelos vão começar se trombar cada vez mais. A nossa ideia de segurança mudou na última década e a barragem de mídia negativa em relação "ao outro, aos estranhos" pode induzir medo ao mero pensamento de nos afastarmos do que é confortável, ou em irmos além do conhecido.

Isso pode nos levar a buscar mais controle, ao invés de soltar nossas barreiras.

Festivais são desintegradores naturais dessas barreiras.

Em um primeiro momento, o sagrado Kumbh Mela indiano pode ter pouco em comum com as multidões que vão até a Espanha todos os anos para correr com os touros. E, dentro de um mesmo país, os Dervishes Rodopiantes da Turquia parecem estar mundos distantes dos gladiadores modernos de seu Campeonato de Luta-Livre no Óleo. Mas a curiosidade cultural abre uma janela sobre "o outro" e nós mesmos.

Me juntei à multidão no Maha Kumbh Mela da Índia esse ano. Um Kumbh Mela acontece a cada três anos, com quatro cidades se revezando como sede. O Maha Kumbh Mela acontece a cada 12 anos e cerca de 100 milhões de peregrinos se juntaram em 2013.

O noticiário internacional se focou num acidente numa estação de trem, que culminou na morte de 36 devotos. Trágico, mas não inesperado, dado a quantidade de pessoas presente. O que o noticiário ignorou é como essa congreção de massa humana pode coexistir pacificamente por cinco semanas nas margens do Rio Gânges. Prova de que nós, humanos, não precisamos de tanto espaço pessoal quanto imaginamos.

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Nas ruas de Pamplona, espaço pessoal é atropelado pela sobrevivência enquanto milhares correm para escapar de poderosos e enfurecidos touros – que possuem uma vantagem momentânea nesse cada-um-por-si que testa a consciência e a coragem (mais sobre isso na razão 4).

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Os Dervishes Rodopiantes têm girado anualmente por quase 750 anos, desde a morte de seu amado poeta Rumi. E os lutadores de Kirkpinar têm orgulhosamente competido por mais de seis séculos. O que senti em meus ossos, pois estive lá em carne e osso (até mesmo rodopiei, mas apenas assisti as lutas), foi uma real proximidade entre esses dois distantes rituais e minha própria visão de mundo. Rodopiar é sagrado. Há uma intensidade – física e emocional – que surge em meio à dança.

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Os lutadores no óleo também se levam a limites físicos e psicológicos em exibições de honra e reverência para sua comunidade e para seus ancestrais. Aqueles de nós observando se conectam de imediato com a energia transcendente dos Dervishes na arena e com a intensidade dos homens no campo.

Em ambos, me tornei parte de algo bem distante de meu "seguro" cantinho no mundo. Obviamente, eu era "o outro" curioso. Ainda assim, todas as barreiras desapareceram e lá éramos apenas seres humanos.

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3. Festivais redefinem "férias"

Muitos de nós "ficamos ausentes" durante nosso precioso tempo distante do trabalho, trocando o sofá e uma cerveja por uma espreguiçadeira na praia e um drink colorido com um pequeno guarda-chuva.

Nós nos ritualizamos em tirar férias sem descobertas pois pensamos que o antídoto para exaustão é desmaiar ao lado da piscina. Nós precisamos aposentar os termos "ocupação" ao falar de trabalho e "férias" ao falar de diversão. Nossas quebras da rotina diária deveriam ser transformadoras.

Quando estivermos em nossos 80 anos, as experiências de pico das quais vamos lembrar serão aquelas em que estivemos em novos locais, com o frescor da curiosidade aceso em nossa vida. A verdade é, a maioria das pessoas no mundo vê suas felicidades e vitórias no contexto do grupo ou da experiência em comunidade – o que o sociólogo Emile Durkheim chamou de "efervescência coletiva", cem anos atrás.

Faça um pacto com você mesmo para testemunhar e viver mais alegria compartilhada e ir a pelo menos um festival por ano.

A boa notícia é que não precisa atravessar continentes pra fazer isso. Em muitas cidades, há feiras de arte...

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Carnaval...

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Ou mesmo uma celebraçao do Dia dos Mortos, bem no seu quintal.

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Essas fotos foram todas feitas em meu quintal, em São Francisco. Um autêntico Dia de los Muertos mexicano em Oaxaca poderia estar na lista de viagens a serem feitas. Mas até lá, procure um próximo de você esse ano.

Feiras de arte como a Bay Area's Maker Faire juntam um grande grupo de entusiastas por trabalhos manuais que conseguem fazer praticamente qualquer coisa a partir de um pouco de arame, fita adesiva e imaginação vívida. E o carnaval local de Mission, com suas incríveis fantasias, danças, comida e música, não perde feio para o do Rio de Janeiro.

4. Festivais te permitem ampliar seus limites

Por gerações, status foi definido pelo carro em sua garagem e pelo tamanho de sua piscina. Com os updates de "status" das redes sociais, nós estamos vendo uma grande mudança de orientação – do foco materialista para o foco em experiências.

Já que agora podemos compartilhar nossas experiências num instante, nossos triunfos são menos conectados a objetos tangíveis como uma BMW, e mais conectados ao intangível IMF(in-the-moment feeling, "sentimento do momento") que pode ser visto indiretamente por nossos amigos. Alguns festivais são animadas competições onde você pode entusiasticamente observar e se divertir à distância (Naadam, Concurs de Castells, Il Palio).

Mas as maiores transformações se dão nas experiências imersivas nas quais deixa de ser um espectador passivo para se tornar um participante ativo. Tomar parte nessas competições envolve ir além de seu próprio medo.

Tive o puro prazer de assistir a competição do Queijo Rolante na Colina de Hill em Gloucester, Reino Unido. Testemunhei bravos – ou loucos – homens e mulheres correrem numa colina em absurda inclinação, arriscado seus membros e integridade física.

O primeiro americano a vencer, Kenny Rackers, estava em uma missão para inspirar um milhão de pessoas a seguir seus sonhos...

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Nesse caso, observar foi a escolha certa pra mim, já que sofri uma fratura séria em meu tornozelo antes. No entanto, me conectar com os locais e torcer foi uma alegria.

Mas em Pamplona, joguei a precaução ao vento na Fiesta de San Fermin. Usando um tradicional lenço vermelho e uma camiseta "I Love SF", que funciona pra minha cidade natal e para San Fermin, corri mais dos touros do que com eles. Foi extasiante.

Pamplona

Outro limite foi rompido quando fiquei sabendo do destino dos touros. Eu honestamente não tinha considerado a tourada ao final do dia. Participar da corrida e ver os protestos da PETA e a "Corrida com os Nus" me deu outro ponto de vista que transformou minha visão a respeito desse festival.

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Ver ambos os lados, sem julgamento, não é uma tarefa fácil em nossa vida. Estar no chão e viver rituais de outras culturas nos força a fazer o que a antropologista Angeles Arrien nos lembra ao discutir a origem latina da palavra "respeito", que é : olhar novamente.

5. Festivais permitem se conectar com novas pessoas com as quais tem afinidade ou viver a efervescência coletiva junto a seus amigos

Claro, você pode ficar online 24/7 e encontrar pessoas para conversar sobre interesses em comum. Mas nada se compara com a intensidade de estar com elas ao vivo, quer seu foco seja a prática de yoga no Wanderlust...

Wanderlust

Ou andar de moto no Sturgis Motorcycle Rally

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Sair de sua zona de conforto significa exatamente isso. A maioria de nós gosta bastante de nossos confortos e tribos escolhidas. Festivais podem trazer o melhor, e, às vezes, o pior nas pessoas. Apesar de buscarmos por novas experiências e saberes locais, nossas expectativas podem impedir de apreciar o que encontrarmos por lá. Alguns festivais são inerentemente mágicos, com serendipidade e encontros de novos amigos e locais interessantes a cada esquina.

Mas se estiver viajando sozinho, isso pode ser esperar por circunstâncias fortuitas demais.

Viajando sozinho, fiz novos amigos de todas idades, formas e cores usando línguas compartilhadas e intérpretes, como no festival Kumbh Mela, na Índia...

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E no festival saltador de bebês El Colacho, na Espanha.

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Se você preferir um companheiro para sua viagem, isso pode estar a um click de distância. Frequentemente busco no Facebook por amigos quando viajo a um festival. Ano passado, um amigo a negócios no Paquistão se juntou a mim na última hora, para irmos ao festival dos Dervishes Rodopiantes Mevlana, na Turquia. E um amigo antes virtual das Filipinas se juntou, também na última hora, para irmos a uma série de festivais em Bali.

Dica pé no chão: o parceiro errado para sua viagem pode acabar com o festival. Seja claro sobre suas motivações para ir ao festival. Quer esteja buscando por uma experiência de vida transformadora ou apenas querendo paquerar, o melhor é viajar com alguém que tenha intenções similares.

6. Festivais te colocam cara a cara com as maiores manifestações do espírito humano

Em seus últimos anos, Abraham Maslow expandiu sua icônica hierarquia de necessidades humanas:


  • Física/Fisiológica (comida e abrigo)

  • Segurança

  • Social (amor, relacionamento, pertencimento)

  • Estima

  • Realização pessoal

Ele adicionou:


  • Estética

  • Transcendência

Arte transcende barreiras culturais. Se sentir parte de algo maior do que você mesmo é palpável em vários festivais. Em nenhum local senti isso mais profundamente do que em meio às dezenas de milhares de pessoas, de todo o mundo, escrevendo suas esperanças e sonhos em grandes lâmpadas de papel que se tornam luminescentes tochas espirituais no Festival da Lanterna em Pingxi Sky, Taiwan

A efervescência coletiva (há algo sobre ver em conjunto) de soltar essas lanternas no céu é inspiradora, gera um profundo senso de que nossas aspirações estão todas conectadas.

Ver arte no dia a dia nos dá novos pares de olhos para enxergar o mundo. Em sua palestra no TED, sobre a revolução dos festivais de artes, David Binder nos conta sobre o Minto Live Festival da Austrália e outros de grande exuberância:

Esses festivais nos mostram como as artes fundem o local e o global de modo único. Arte remove qualquer noção de "um outro", especialmente quando as linhas entre os artistas e a audiência é eliminada.

Dois coloridos festivais que expressam o luminoso e exuberante espírito humano estão em pontos opostos da escala de temperatura. O festival chinês Harbin Ice & Snow Sculpture é uma mostra impressionante de habilidade artística e resistência humana, a congelantes -30c...

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E o indiano Holi (que recentemente inspirou festivais similares pelos EUA) transforma barreiras culturais em calor por meio de um fantástico arco íris humano de risadas e conexão.

holi

Em ambos, o coletivo é necessário para inspirar e ser inspirado.

7. Às vezes necessitamos um marco no tempo ou um evento que nos facilite a mudança

Transformação é um termo subjetivo.

A metamorfose de uma pessoa pode ter um sabor hedonista em uma pista de dança em Ibiza, enquanto outros podem emergir em uma peregrinação em um monastério na montanhas. Experimentei o todo o leque, momentos profundos que moveram grandes rochedos em minha vida, assim como conexões intensas, de momento, que foram pura diversão e frivolidade.

Também já vi numerosas mudanças nas vidas de outros. Um amigo estava no topo de sua carreira e financeiramente estável, com uma bela mulher ao lado. Olhando de fora, tinha tudo. Você provavelmente conhece alguém assim. Ou talvez seja assim. Está se sentindo miserável? Meu amigo estava.

Quando ele chegou no Burning Man, estava tão habituado a ver pessoas como possibilidade financeiras que havia perdido sua conexão com o humano. O que se deu ao longo dos dias não foi menos do que milagroso. Quando fomos embora ele estava, e ainda segue, outro homem. Ele necessitava tempo, espaço e um habitat completamente novo – um baseado na economia solidária e não nosso mundo cão usual – onde pudesse deixar tudo de lado e olhar para quem realmente era naquele momento de sua vida. E quem gostaria de ser.

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Isso pode acontecer com casais que perderam sua conexão – viajando para o Festival de Tango de Buenos Aires para recuperar seu romance. Ou, para alguém lidando com uma doença física, viajar ao Festival Mundial de Pintura Corporal na Austrália, para recuperar sua conexão com o corpo.

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Ou, talvez alguém vá a um Festival do Orgulho LGBT após viver uma vida dentro do armário por muito tempo.

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Timing

é tudo. Encontre um festival que o permita dar boas-vindas a alguma transformação em sua vida. Marcus Aurelius escreveu:

"O universo é mudança, a vida é uma opinião."

Não seria hora para um pouco de mudança em sua vida?

8. A jornada a um festival pode gerar surpreendentes efeitos colaterais

Muitos festivais acontecem em algumas das cidades mais fascinantes do mundo ou em espetaculares cenários naturais. Quando viajei para o maluco festival saltador de bebês na Espanha verão passado, recebi um delicioso bônus no meio do caminho. El Colacho acontece numa pequena vila em Castrillo de Murcia, onde "demônios" encapuzados literalmente saltam por cima de colchões lotados de bebês, para salvar suas pequenas almas.

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Esse ritual católico/pagão sobreviveu ao teste do tempo por quatro séculos, mas enquanto planejava meu caminho de Madrid para o norte da Espanha, tive dúvidas sobre viajar tanto para chegar a um pequeno festival numa vila, que atraía muita atenção no YouTube, mas não mais do que algumas dúzias de visitantes. Mas assim que cheguei na charmosa, livre de carros e medieval cidadezinha de Burgos, próxima ao festival, me dei conta de que El Colacho era a entrada e de que Burgos, a capital gastrônomica espanhola, seria o prato principal.

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O mesmo aconteceu em Siena, indo para o Il Palio:

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E em Fes, Marrocos, no Festival Mundial de Música Sagrada:

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E nas cavernas de Batu, em Kuala Lumpur, para o Thaipusam:

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Agora estou imaginando que posso viver algum benefício colateral em breve, indo para o Heiva, no Taiti!

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Por debaixo de nossas aparências exteriores, há uma vasta paisagem humana que nos conecta. Meu desejo em me tornar o maior expert do mundo em festivais e criar o Fest300 pode ter tido um tanto de arrogância e excesso de confiança, quando assim pensei em 2012. Mas ambos foram ultrapassados pelos aspectos humanos envolvidos.

A bela epígrafe do escritor E. M. Forster em seu livro Howard's End resume, sucinta: "Apenas conecte".

Nota do editor: texto originalmente publicado no blog do Tim Ferris e traduzido mediante autorização do autor. Agradecemos.

* * *

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Depois de ler esse texto, a vontade de viajar deve ter se aguçado por aí. Aproveita a cancha que os amigos da Nordweg nos deram com essa promoção, vai lá na página deles participar.


publicado em 07 de Setembro de 2013, 09:39
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Chip Conley

Parte viajante e antropólogo cultural, é o fundador e ex-CEO da rede Joie de Vivre Hospitality. Autor dos best-sellers do New York Times Emotional Equations e Peak. Palestrante no TED. E criador do Fest300, site dedicado aos mais incríveis festivais do mundo.


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