70 anos da bomba de Hiroshima | Para não esquecer

Tyioshi Tanimoto, Robert Lewis, Shinzo Abe e Bun Hashizume relembram as dores de 6 de agosto de 1945

Na noite de 11 de maio de 1955, o show da TV estadunidense This Is Your Life recebia Kyioshi Tanimoto em seus estúdios. O sobrevivente da primeira bomba nuclear lançada, que matou 140 mil pessoas na cidade de Hiroshima ao final da 2ª Guerra Mundial, foi ao programa contar sua experiência.

Qual foi sua surpresa ao encontrar, ali, entre outros convidados, Robert Lewis - co-piloto do B29 Enola Gay, aeronave que lançou a bomba. O aeronáutico declarou, naquela noite fatídica, sua primeira reflexão sobre o que havia executado: “e eu escrevi: ‘Deus, o que fizemos?’”.

Link do vídeo | Kyioshi Tanimoto reconta sua história e a de tantos outros japoneses. A declaração de Robert Lewis acontece entre os minutos 15:39 e 18:18

A expressão visivelmente emocionada de Kyioshi toca minha consciência, tanto quanto a de Lewis. As hesitações na fala e o tremelique na sua voz são evidência de uma memória que dói quando encarada. Mas a polidez do sobrevivente diante de quem poderia ser ressentido como o inimigo é inspiradora. Não posso dizer se Kyioshi o perdoa, mas posso afirmar que seu olhar para Lewis transmite compassividade para com o ser humano que está ali, e também sente.

Fica na memória o episódio, e a vontade de que todos possamos olhar do mesmo jeito para quem está ao redor.

No mundo todo, notícias e eventos retomam uma dor inestimável. Shinzo Abe, o primeiro ministro do Japão, compareceu a uma cerimônia simbólica no Parque do Memorial da Paz, onde pediu a remoção de uma nova legislação que permite que os militares do país entrem em conflitos no exterior - o que não acontece desde o fim da guerra. O pedido vem em tempo oportuno, já que, em suas devidas proporções, o nacionalismo anda rondando imaginários por aí.

É também marcante o relato de Bun Hashizume, sobrevivente do atentado que aconteceu quando tinha apenas 14 anos. Traduzido e transformado em animação, Bun dá lição de compaixão ao nos contar que “apesar de tudo, não odeio as pessoas que lançaram a bomba. Posso dizer que pude testemunhar o quão maravilhosos os humanos conseguem ser mesmo depois de terem perdido tudo. Mas nunca vou esquecer o fato de que os seres humanos lançaram uma bomba atômica sobre outros seres humanos”.

* * *

Pra aprofundar nos impactos que a bomba causou sobre os japoneses e o mundo, vale dar uma olhada no mangá Gen, pés descalços, a história de um menino de seis anos lidando com as consequências do ataque. O simulador NukeMap também é bem interessante - calcula os possíveis desastres que aconteceriam caso a bomba fosse lançada, hoje, sobre outros lugares.

Gen, pés descalços:

"A série começou em 1945 em Hiroshima arredores da cidade, onde o garoto de seis anos de idade, Gen, vivia com sua família. Depois que Hiroshima é destruída pela bomba atômica, Gen e outros sobreviventes são obrigados a lidar com as consequências da destruição."

Site simula impacto de bomba de Hiroshima em cidades brasileiras

Se caísse sobre o centro de São Paulo, a explosão de uma bomba com as mesmas características da de 1945 mataria mais de 170 mil pessoas e quase 190 mil ficariam feridas, também segundo o cálculo aproximado do Nuke Map.


publicado em 06 de Agosto de 2015, 18:02
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Marcela Campos

Tão encantada com as possibilidades da vida que tem um pézinho aqui e outro acolá – é professora de crianças e adolescentes, mas formada em Jornalismo pela USP. Nunca tem preguiça de bater um papo bom.


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