4 histórias inspiradoras que nasceram em lugares onde você não esperava

O Brasil constantemente busca inspiração nos países desenvolvidos. Miramos nos Estados Unidos e na Europa quando procuramos formas de crescer e tornar o país um lugar melhor. No entanto, muitas vezes nos esquecemos de que existe muita coisa boa acontecendo em lugares da Terra jamais imaginaríamos.

A garra e a persistência de pessoas que lutam para estabelecer a paz e a democracia em um país destruído pela guerra ou para levar luz elétrica para a própria casa também têm muito a ensinar aos brasileiros.

Veja agora quatro histórias inspiradoras de pessoas que souberam lidar com as situações mais adversas possíveis e acabaram realizando grandes melhorias nas sociedades onde vivem.

O médico  de Burundi

Doutor Deogratias, o “Deo”

Gusimbura é uma palavra Kirundi, idioma falado no Burundi, que se refere à dor de reviver acontecimentos ruins por meio da memória. Tendo crescido em um dos países mais pobres da África, o estudante Deogratias já era bastante familiar ao gusimbura quando embarcou em um avião com destino aos EUA, deixando para trás sua família, amigos e um futuro promissor na carreira médica.

Deo, como é conhecido, fugia das guerras civis que estouram no Burundi e na Ruanda envolvendo as etnias Hutu e Tutsi. Antes de partir, ele quase se tornou mais um número entre os mortos de um dos piores conflitos do século 20. Em Nova Iorque, onde desembarcou com apenas U$200 e sem saber falar inglês, lutou para sobreviver em um emprego que pagava U$15 por dia e chegou a dormir no Central Park.

Com algum esforço e ajuda de desconhecidos, Deo conseguiu terminar o curso de medicina e retornou ao seu país com o objetivo de construir clínicas médicas que ajudassem a tornar a vida das pessoas ali um pouco mais fácil. Para isso, projetou centros comunitários que extrapolassem a barreira dos cuidados básicos com a saúde e se tornassem pontos de referência para a comunidade. Ele acredita que a saúde é apenas um veículo de mudança, o real objetivo é empoderar as pessoas e ensiná-las a tomar conta de si mesmas.

O primeiro centro foi inaugurado no ano passado e já conseguiu eliminar a desnutrição infantil em um raio de um quilômetro, um feito memorável em um país onde milhares de crianças passam fome. O próximo passo de Deo é construir um centro de cuidados com a saúde da mulher.

Israel ama o Irã

Link TED

Pode ser que os governos dos dois países não concorde com a frase acima, mas centenas de cidadãos resolveram contar ao resto do mundo que, ao contrário do que muita gente pensa, existe amor no Oriente Médio.

Preocupado com a eminência de um conflito armado, o israelense Ronny Edry, de 41 anos, resolveu compartilhar uma foto no Facebook com uma frase:

“Iranianos: nós nunca vamos atacar vocês. Nós amamos vocês.”

A imagem logo se tornou viral e gerou milhares de compartilhamentos, vídeos e imagens. Não demorou para que os vizinhos iranianos também enviassem suas mensagens de amor correspondido e a campanha “Israel loves Iran” ganhasse as ruas. Hoje, o website conta com dezenas de vídeos de pessoas que resolveram se manifestar contra a histórica animosidade entre os dois países.

A iniciativa talvez não impeça que um conflito armado aconteça algum dia, mas ajudou a mostrar que o discurso de ódio propagado há décadas por ambos os governos não afetou o senso de respeito ao próximo do cidadão comum.

Uma Somália diferente

A bandeira de um novo país

“Estado falido” é o termo usado para designar países nos quais o governo é tão fraco e ineficiente que não consegue manter um controle sobre seu território ou prover os direitos mais básicos para parte significativa da população. Esse é o caso da Somália, que está há cerca de duas décadas sem um governo que seja reconhecido pela maior parte dos próprios somalis.

Na ausência de um Estado, as cidades foram transformadas em campos de batalha nas disputas entre tribos rivais e o país foi imerso no caos e na destruição. No entanto, na porção noroeste do território, a situação é bem diferente.

Em 1991, líderes locais declararam independência das terras ao sul e criaram a República da Somalilândia. O novo país possui constituição, moeda própria, passaporte e governo eleito democraticamente, embora nada disso seja reconhecido pelas outras nações. Nas ruas de Hargeisa, a capital, a paz reina. Por lá, é possível encontrar lan houses, escolas, polícia, hospitais, casas de câmbio, consultórios dentários e até vendedores de sorvete, coisas impensáveis do outro lado da fronteira. O governo eleito funciona tão bem que conseguiu até mesmo controlar a Al Qaeda.

Apesar de não existir oficialmente como Estado, a democracia na Somalilândia serve de exemplo para boa parte do continente africano, que sofre com governos totalitários.

Luz elétrica e moinhos de vento

Link TED

Na casa de William Kamkwamba não havia luz elétrica, assim como em tantas outras casas no Malauí. Um dia, quando tinha 14 anos, ele resolveu ir até a biblioteca estudar por conta própria, pois seus pais não podiam mais pagar os 80 dólares anuais exigidos para efetuar a matrícula na escola. Lá, encontrou o livro Using Energy e leu sobre os moinhos de vento.

Se ele conseguisse construir um, poderia ter luz para estudar em casa durante a noite, bombear água para ajudar nas plantações e para a sua própria casa. Willian não tinha dinheiro nem para comprar porcas ou parafusos. Então, Munido apenas de duas chaves de fenda e de sucata que ele encontrou nas casas de seus vizinhos, como restos de canos de PVC e pedaços de bicicleta, o menino conseguiu construir o seu primeiro gerador de energia eólica.

Logo, sua casa ganhou lâmpadas e dois rádios, além de interruptores que ele mesmo fez com a borracha de uma sandália velha. Preocupado com o fato do telhado ser de palha, ele instalou um disjuntor para evitar incêndios. Seus feitos chamaram a atenção do mundo inteiro e logo apareceram convites para palestras.

Hoje, o jovem inventor estuda na Universidade de Joanesburgo, uma das mais renomadas do continente.


publicado em 11 de Maio de 2013, 07:00
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Natália Becattini

Natália Becattini é jornalista e uma das autoras do blog de viagens 360meridianos. Quando não está escrevendo, gosta de se aventurar por destinos exóticos e de descobrir as excelentes cervejas locais nos lugares por onde passa.


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