A gente gosta de falar que vive num mundo conectado, de que as pessoas nunca estiveram tão próximas e que a internet ajuda a superar as fronteiras que existem por aí. Tudo isso pode até ser verdade, mas também é verdade que tem muita coisa atrapalhando o desenvolvimento pleno desse mundo novo.
Editor aqui da casa, o Jader passou um tempinho na Alemanha mês passado e voltou contando suas experiências. A mim ele presenteou com um cartão postal de crianças jogando bola ao lado do Muro de Berlim, foi então que eu perguntei:
— E aí? Qual a sensação lá?
Ele deu uma de Jader e respondeu:
— Cara, a cidade é bem grande, então tem lugares que você simplesmente se esquece disso, o que só torna mais chocante quando você está numa estação de metrô, numa praça ou numa avenida e de repente repara que um muro passava por ali. Nos trechos onde ainda há pedaços do muro preservado, você consegue ouvir as pessoas do outro lado, sentir a presença delas, mas não consegue vê-las. É bem louco.
A fala não poderia ser mais tocante e se eu estava com um pé atrás sobre incluir Berlim na minha próxima viagem, não estou mais. Mas o relato também deu o impulso que faltava para essa pauta sair do papel.
Desde quando Donald Trump começou a falar sobre a construção um muro na fronteira dos Estados Unidos com o México, a gente ficou se perguntando: de onde será que ele tira essas ideais? Numa pesquisa rápida pela internet, descobrimos que, dos mais populares aos mais esquecidos, existe muito muro espalhado pelo mundo separando cidades, culturas, histórias, vidas...
1. Muro de Berlim
Atualmente restam apenas alguns trechos do muro que já teve 155 quilômetros de extensão. Dispostos a conter o fluxo migratório de pessoas que atravessavam da parte oriental para a parte ocidental da cidade, os soviéticos ergueram o muro em apenas duas noites: 12 e 13 de agosto de 1961.
Além da construção em si, o muro também consistia numa faixa de terra cercada por arames farpados com corrente elétrica de alta tensão, valas e mais de 300 torres de vigilância. Estima-se que mais de 100 mil pessoas tentaram atravessá-lo durante os 28 anos pelo qual ele ficou de pé e mais de 150 morreram.
A queda só veio em 9 de novembro de 1989 e representou além de reunificação da Alemanha, o fim da cortina de ferro que separava a Europa entre a zona de influência norte-americana e zona de influência soviética.
2. Muralha da China
A Muralha da China é uma das edificações mais famosas, maiores e mais antigas das quais se têm notícia. Começou a ser construída durante a dinastia Chin na primeira metade do século 2 a.C. e só foi finalizada no século 15 d.C. após alternar interrupções e grandes avanços.
Sua construção atribui-se a um desejo megalomaníaco do imperador Chin Shih-Huang Ti já que historiadores dizem que nunca houve ameaças de invasão suficientes para tal investimento na época. Por isso, a versão mais aceita é de que a muralha serviu para ocupar os soldados ociosos após a unificação da China e mantê-los longe da capital política (evitando qualquer tentativa de golpe).
Feita de pedras, a muralha varia de 4,5 a 12 metros de altura e 9,5 de largura média. Ela envolveu mais de um milhão de operários ao longo dos séculos, dos quais 80% morreram e acidentes ou por conta da má alimentação e do frio. Entretanto, o que mais intriga admiradores é o seu comprimento. Sabe-se que ela delimita a região setentrional da China, ligando o golfo Liao-Tung ao Tibete numa construção estimada em 8851 quilômetros ainda de pé diante dos quase 22 mil km originais.
3. Muralha de Adriano
Também com o objetivo de proteger e delimitar um território, uma outra grande muralha foi erguida muito tempo depois na Grã-Bretanha. A Muralha de Adriano já teve 118 quilômetros de extensão e é considerada a mais extensa obra feita pelo poderoso Império Romano.
Ciente das dificuldades de continuar expandindo o território sob seu domínio, o imperador Adriano ordenou que os próprios soldados erguessem a muralha que se localiza ao norte da Inglaterra, próxima da atual fronteira com a Escócia. Hoje, grande parte da muralha foi destruída e seus materiais reaproveitados para outras construções, só em 1987 a muralha foi considerada patrimônio histórico da humanidade pela Unesco e passou a ser preservada com o dinheiro do turistas que podem conhecê-la realizando um passeio chamado Hadrian's Wall Path ("Caminho da Muralha de Adriano").
A obra foi feita de pedra e madeira começou em 122 d.C. e, ao contrário da Muralha da China, foi finalizada em apenas quatro anos com 4,5 metros de altura e 2,5 metros de largura, intercalada por torres de observação e quarteis, como era de costume nas fronteiras do Império Romano.
4. Muralha de Antonino
Mas, com a morte de Adriano, um novo imperador ainda mais ambicioso assumiu o comando e resolveu expandir as fronteiras do Império para além da Muralha de Adriano. No ano de 138, Antonino Pio deu um papel secundário a essa e ordenou a construção de uma nova muralha batizada com seu nome a cerca de 16o km ao norte da original.
Quatro anos depois, a Muralha de Antonino já estava de pé com seus 63 km de extensão desde o estuário do rio Forth, na costa oriental da ilha, no Mar do Norte, até ao estuário de Clyde, na costa ocidental, sobre o mar da Irlanda, na região que hoje é conhecida como Central Belt ("cinturão central" da Escócia).
A muralha é o símbolo mais claro da fronteira mais adiantada do Império Romano, mas durou muito pouco tempo. Construída de turfa e pedra, ela foi mais bem equipada do que a Muralha de Adriano, mas não durou nem 20 anos. As tribos do norte logo conseguiram reconquistar a região "empurrando" os romanos de volta à muralha anterior. Lá eles permaneceram de 164 até o início do século 5 quando finalmente foram expulsos da Grã-Bretanha.
Por ter ficado muito pouco tempo sob comando de seus criadores, a Muralha de Antonino tem bem menos trechos preservados. Tombada pela Unesco em julho de 2008, a muralha possui apenas um terço de seu comprimento total visível, cerca de 16 km são de propriedade ou de tutela pública e estão aberto à visitação do público.
5. Muralhas Romanas de Lugo
Numa outra fronteira do Império Romano, também para conter a invasão dos bárbaros, ergueu-se o que se chama de Muralha Romana de Lugo.
Sob ordens do imperador Augusto, e muito antes das construções na Grã-Bretanha, a muralha com 2217 metros de extensão foi construída em 13 a.C. e delimita a zona história da antiga cidade romana de Lucus Augusti, ao nordeste da península Ibérica, na atual Espanha. Porém, não se sabe explicar porque mesmo com o formato irregular, a muralha não contemplou núcleos residenciais da antiga cidade ao mesmo tempo em que protegia zonas desabitadas.
Ao que se sabe, a muralha construída com granito, lousa, pedra e terra tinha muros que variavam entre 4,2 e 7 metros de extensão continha até 86 torres das quais 71 seguem preservadas e foram conjuntamente tombadas pela Unesco em 2000 como Patrimônio da Humanidade.
6. Muralha de Constantinopla
Ainda se tratando de Império Romano, a Muralha de Constantinopla começou a ser construída pelo Imperador Constantino em 321, após este rebatizar o império para Bizantino e mudar sua capital.
Com o novo aspecto importante que lhe cabia, Constantinopla, que já tinha outras muralhas no histórico (a de Bizâncio e a de Severo), ganhou reforços com a imponente construção na tentativa de se proteger de ataques bárbaros.
Sabe-se que ela começava no Chifre de Ouro, próximo à atual Ponte Atatürk, indo a sudoeste, ao sul, passando a leste das grandes cisternas abertas de Mocius e Aspar, e terminando na costa da Propôntida, em algum lugar entre as posteriores portas marítimas de Santo Emiliano e Psamathos. Constatinopla, porém, continuou expandindo para além das fronteiras da muralha (na região chamada de Exokionion) e exigiu novas fortificações mais adiante. Ainda assim, o que se pode ver hoje ao redor da atual Istambul são resquícios da construção original de Constantino.
7. Muralhas de Cartagena
Além de Istambul, existem muitas outras cidades que ainda hoje são protegidas por muralhas. Cartagena das Índias é uma delas.
Importante entreposto comercial para os espanhóis no século 16, a riqueza de Cartagena foi ganhando fama e virando presa fácil para piratas e corsários. Sabendo disso, o Rei Filipe II ordenou ao marechal Luis de Tejada e ao engenheiro militar italiano Bautista Antonelli que construíssem uma muralha de pedra com 11 km de extensão para a defesa da cidade.
A construção só foi terminada em 1796 pelo engenheiro espanhol Antonio de Arévalo e incluía guaritas, armazéns de alimentos e armas, além de túneis subterrâneos para ligações entre o Castelo de San Felipe de Barajas com as fortificações. Após este período, Cartagena ainda chegou a sofrer uma série de ataques que exigiram a reconstrução de trechos inteiros da muralha, mas até hoje, o centro histórico de Cartagena, conhecido como a cidade fortificada, é preservado por ter sido declarado Patrimônio Nacional da Colômbia em 1959 e Patrimônio Mundial pela Unesco em 1984.
8. Muralha de Ávilla
Talvez a inspiração para o Rei Filipe II tenha vindo da muralha na cidade de Ávila, na própria Espanha. Ele mesmo chegou a ter que restaurá-la em 1596, cinco séculos depois da construção original por ordem do rei Alfonso VI.
Situada a cerca de 100 km de Madrid e considerada Patrimônio Mundial pela Unesco em 1975, a muralha foi erguida para proteger a cidade numa intenção de repovoar regiões como as de Ávila, Segóvia e Salamanca.
Considerada a maior e mais preservada construção deste tipo na Europa, a edificação tem 2,5 km de extensão, nove portões, 87 torres e paredes com três metros de espessura e 12 de altura. Anexo à ela, edificações foram pouco a pouco sendo acopladas, entre elas a Catedral de Ávila – considerada a primeira catedral gótica da Espanha, tornando o passeio quase obrigatório para quem visita o local.
9. Muralhas de Plasencia
Não muito longe dali, uma muralha quase contemporânea foi erguida pelo rei Afonso VIII, tataraneto de Alfonso VI, na cidade de Plasencia logo que a região foi conquistada dos mouros.
A obra que circundava a cidade começou em 1186 mas só foi finalizada em 1201 por conta da invasão de califados reconquistaram as terras por cerca de dois anos. Quando novamente em posse do rei, este ordenou que as muralhas fossem reforçadas e finalizadas imediatamente o que custou o esforço de 10 mil homens num tempo recorde de 9 meses.
Feita de alvenaria e pedras unidas com argamassa e cal, a Muralha de Plasencia tinha originalmente 74 torres, mas hoje só restam 23. Além disso, a edificação contava com um sistema defensivo duplo com um pano grosso e uma barbacã, separados entre si por um fosso, tornando-se quase impenetrável para a tecnologia disponível na época.
10. Muralha de Óbidos
Também ligada a presença dos mouros na Península Ibérica, destaca-se uma cidadezinha medieval portuguesa murada chamada Óbidos. Mas nesse caso, a muralha foi construída pelos próprios mouros no topo de uma colina ainda no século 8.
A barreira, porém, não foi suficiente para protegê-los para sempre e acabou passando para a mão do governo português. Primeiro rei do país, Afonso Henriques invadiu o local no século 12 e já no século 14, os portugueses remodelaram as muralhas de calcário e mármore para reprimir os aspectos da cultura anterior.
Pelo bem ou pelo mal, Óbidos se tornou um dos pontos turísticos mais procurados de Portugal e, com sorte, você ainda pode encontrar um guia disposto a mostrar as características remanescentes dos mouros na muralha.
11. Muralha de Avignon
Longe de ser a construção mais conhecida de Avignon, na França, a Muralha foi construída assim que a cidade passou a ser residência papal em 1309.
Assim como a famosa Ponte de Avignon, presente numa canção infantil francesa, a Muralha e toda a cidade foram tombadas pela Unesco como Patrimônio Mundial.
A construção com cerca de quatro quilômetros de comprimento e estética gótica, tem torres que chegam a cinquenta metros de altura, mas só uma parte disso está aberta ao público. De qualquer forma, é a nossa porta de entrada para grandes muros construídos por motivos religiosos.
12. Muralha de Carcassone
Também na França, mas com um tempero ainda mais medieval, fica a cidade de Carcassone onde pode-se conhecer uma muralha dupla entremeada por um fosso que posteriormente foi aterrado e transformado em boulevard.
A construção é uma das mais bem preservadas do mundo e a melhor da Europa. Entre idas e vindas, as muralhas foram destruídas e reconstruídas apresentando hoje diferenças notáveis quanto ao material e a forma.
Destaca-se ainda uma sequência de torres anexas à muralha, algumas das quais foram utilizadas pela Inquisição para interrogatórios, castigos e prisões por parte da igreja a partir do século 13.
13. Cidade Fortificada de Neuf-Brisach
No limite da França com a Alemanha, uma cidade murada foi construída para preservar as fronteiras de ataques externos. Estamos falando de Neuf-Brisach.
Olhando de cima é possível ver uma cidade cercada por uma fortaleza octogonal construída em 1697 pelo famoso engenheiro militar francês Marquês de Vauban sob ordens do rei Luis XIV.
Estrategicamente localizada na região de Alsácia, próxima do rio Reno, Neuf-Brisach passou das mãos francesas para as alemãs várias vezes, a última delas após a segunda guerra mundial e assim permaneceu, sendo hoje tombada por inteiro como Patrimônio Histórico pela Unesco.
14. Cidade Murada de York
Do outro lado do Canal da Mancha, uma cidadezinha bem mais antiga já ostenta orgulhosamente um muro desde o século 1. Construído pelos romanos a partir do ano 71, o muro ao redor da cidade fortificada de York era inicialmente feito de madeira.
Mas a cidade foi conquistada pelos anglos, capturada pelos vikings e finalmente incorporada pela Inglaterra em 954, passando por diversas transformações, assim como seu muro. Ele foi reformado e ampliado sobretudo na era medieval entre os séculos 12 e 14, mas nos séculos 17 e 18 teve partes destruídas para a ampliação de algumas construções da cidade.
Sobre ele há alguns caminhos estreitos e outros mais amplos, repleto de escadas, passagens, portões e guaritas que dão complexidade a este que é considerado o muro mais bem preservado do país.
15. Muralhas de Conwy
Cruzar a fronteira com o País de Gales é quase como que atravessar um portal do tempo e se deparar com centenas de construções de arquitetura medieval. Aqui escolhemos a Muralha de Conwy para representá-las.
O monumento foi construído entre 1283 e 1287 por ordens do rei Edward I para proteger a cidade e o famoso castelo local. A construção ostenta 1,3 quilômetro de muros projetados para formar um sistema integrado de defesa com 21 torres e três portarias.
Juntos, castelo e muralhas, custaram algo em torno de 15 mil libras esterlinas, o que pode não parecer muito hoje, mas era uma quantia absurda pra época. Hoje, porém, assim como a maioria das grandes muralhas, a de Conwy está tombada pela Unesco como Patrimônio Mundial e serve de turismo.
16. Linhas de Paz
Ainda na Grã-Bretanha, damos um salto no tempo e vamos parar na capital da Irlanda do Norte: Belfast. Ao contrário da maioria das muralhas citadas onde o homem luta para impedir que caiam, lá um muro só aumenta. Trata-se das "peace lines", barreiras de concreto, alvenaria e, mais recentemente, placas metálicas e cercas de arame farpado.
Construídas a partir dos anos 1970, as barreiras também chamadas de "muros da vergonha" servem para separar as comunidades católicas e protestantes. Em pequisa recente, os cidadãos consideraram esse muro "indispensável".
É bem verdade que há uma dezenas de passagens no muro que permitem que as pessoas acessem a outra parte da cidade mas - detalhe - apenas durante o dia. À noite, a polícia fecha todas as portas, e protestantes e católicos têm que voltar para seus respectivos lados antes de escurecer.
17. Muralha de Dubrovnik
Bem longe dali voltamos a falar de muralhas medievais. No sul da Croácia, na região chamada de Dalmácia, encontramos a cidade de Dubrovnik, apelidada de "Pérola do Adriático", por ser banhada por esse mar.
Durante a Idade Média, a cidade fundada no século 7 foi capital da República de Ragusa e se transformou num importante entreposto comercial. Mas, após sofrer com saques e ataques de piratas e corsários, a exemplo de Cartagena, ergueu-se pouco a pouco uma muralha entre os séculos 12 e 17. Hoje, ainda muito conservada, ela também é considerada Patrimônio Histórico da Unesco.
18. Muro da Vergonha
Em Lima, no Peru, um muro que começou a ser construído em 1980 e hoje já tem mais de 10 km separa um dos bairros mais ricos da capital peruana de um dos mais pobres.
Ao longo da construção, podemos ver de um lado mansões que chegam a custa até US$ 5 milhões e têm uma bela vista da cidade, enquanto do outro lado, ocupações e favelas onde um barraco custa menos de US$ 300 e, claro, não conta sequer com saneamento básico.
Para quem está na margem pobre, o muro é chamado de Muro da Vergonha e funciona como exemplar da discriminação dos pobres no país. Já para quem mora na margem rica, trata-se apenas de uma questão de segurança, a fim de evitar que as ocupações que cresciam sem parar nos anos 80 invadissem as propriedades particulares.
19. Muralha de Ston
Bem perto dali, precisamente a 55 quilômetros, uma segunda edificação nem tão bonita, também fazia parte da República de Ragusa, atualmente parte da Croácia.
Construída entre a partir do ano de 1333, a Muralha de Ston teve 7 km de extensão em forma de um pentágono irregular. Ao contrário da maioria, ela não foi construída ao redor de uma cidade, mas de um morro na intenção de proteger as salinas da cidade, já que, nessa época, um quilo de sal valia o mesmo que um quilo de ouro.
Com 41 torres, 7 bastiões e dois fortes, ainda restam 5,5 quilômetros dessa fortaleza pela qual você pode caminhar e que é considerada uma das maiores estrutura defensivas do mundo.
20. Muralha de Rodes
Próximo dali, mas já voltada para o mar Egeu, a ilha grega de Rodes também é considerada uma das mais belas cidades medievais muralhadas do mundo.
A apenas 17 km do litoral da Turquia, Rodes era constantemente atacada e passou de mãos várias vezes até que, os Cavaleiros de São João a tomaram no século 14 e resolveram fortificá-la.
Usando restos de muralhas existentes desde a época do Império Bizantino, os cavaleiros criaram paredões de 8 a 10 metros de altura e 2 metros de largura com grandes torres de vigilância para inibir ataques. Hoje, a cidade inteira é considera Patrimônio Histórico pela Unesco.
21. Barreira Anti-Imigrantes
Mas olhando assim parece até que a treta entre Grécia e Turquia é coisa do passado. Engano. As ferias entre os dois países permanecem abertas e, na contramão das negociações por tratados de paz, uma barreira foi construíra recentemente na fronteira dos dois países para impedir que imigrantes clandestinos vindos da África, acessassem à Europa, pela fronteira dos dois países.
São mais de 200 km de fronteira entre os países, mas a maior parte dela conta com a barreira natural do rio Evros. É justamente no trecho restante de cerca de 12,5 km que cerca de 250 pessoas tentam passar diariamente. O número aumentou drasticamente desde 2008 quando Espanha e Itália assinaram acordos para evitar a imigração irregular de seus vizinhos africanos em direção a Europa. Sem a contribuição da Turquia, a Grécia não viu outro alternativa que não construir tal barreira.
Trata-se de uma cerca metálica com quatro metros de altura, reforçada com arame farpado que se estende ao longo de 10,3 km, custou cerca de €$ 3,2 milhões aos cofres gregos e demorou um ano até ficar pronta em dezembro de 2012.
22. Linha Verde
Acha que acabou? Não acabou não. A treta entre Grécia e Turquia segue até na ilha de Chipre. Desde a década de 1950, gregos e turcos disputam a hegemonia territorial nesta que é a terceira maior ilha do mar Mediterrâneo.
Após a invasão turca em 1974, o Chipre acabou sendo dividido pelo que ficou conhecido como "linha verde": uma estreita zona desmilitarizada controlada pelos soldados das Nações Unidas. A linha ganhou esse nome por conta de um general britânico chamado Peter Young que ocupava e comandava a ilha ainda em 1964 quando traçou, com um lápis verde, no mapa da cidade de Nicosia, os bairros gregos e turcos que já começavam a brigar.
Hoje, essa linha separa a República do Chipre e a República Turca do Chipre, território este que é ocupado por tropas da Turquia e que, por sinal, não é reconhecido por nenhum outro país além da própria Turquia. Mas quem está acostumado com muralhas tombadas pela Unesco, vai se decepcionar dessa vez.
O muro em questão tem 180 quilômetros de extensão e corta a ilha de leste a oeste passando, inclusive, pelo meio da capital Nicosia, mas não passa de uma barricada feita de tambores de metal, sacos de areia, tapumes, arame farpado e detritos de construções.
23. Cercas de Ceuta e Melilla
Caminhando sentido África, o problema com os imigrantes se agrava. Encrustada no território do Marrocos, a Espanha mantém duas cidades para si. Trata-se de Ceuta e Melilla. A primeira delas fica próxima do Estreito de Gibraltar e a outra na costa oriental do Marrocos.
Declarando que já dominava essas regiões antes mesmo da constituição do Estado marroquino, a Espanha mantém, com o aval da União Europeia, o controle dessas duas cidades do outro lado do mar Mediterrâneo há mais de cinco séculos mesmo que sem solos muito férteis e sem que as cidades não serem, em tese, muito rentáveis.. Os marroquinos pouco podem fazer. Sem qualquer chance numa eventual guerra contra os espanhóis, eles vêem as cidades mais como uma oportunidade de tentar adentrar ao território europeu.
Para tentar bloquear o fluxo migratório, a Espanha circundou suas cidades com barreiras que juntas somam mais de 20 km de extensão (8 em Ceuta, 12 em Melilla). As cercas são feitas de muros metálicos duplo no meio dos quais corre uma estrada patrulhada dia e noite, vigiada por sensores eletrônicos especiais, telecâmeras e raios infravermelhos. Os muros têm pouco mais de 3 metros de altura, mas estão sendo ampliados pra 6.
24. Muralha de Taroudant
Aproveitando a viagem ao território marroquino (e pra aliviar um pouco a tensão), vale conhecer Taroudant.
A cidade situada no vale de Souss, sudeste do Marrocos, Taroudant é conhecida como "a avó de Marrakesh", mas parece mais uma versão menor e mais tranquila da maior cidade do país. As muralhas ao seu redor, porém, são de fato anteriores à coirmã e datam do século 16.
As construções, mais bem preservadas do país, serviram como forma de resistência ao exército francês e contam com 7,5 km de perímetro, além de 130 torres e 19 bastiões ligados por um adarve, tornando a cidade quase impenetrável.
25. Muro Marroquino
Ainda no Marrocos, um muro feito de areia vem sendo muito efetivo na defesa dos interesses de uma nação contra outra.
O Muro Marroquino começou a ser erguido em 1975 e foi finalizado em 1982 por ordem do rei Hassan. A intenção era clara: dividir o deserto do Saara em duas partes e defender a parte rica do território onde se concentram minas de minerais, fosfato, jazidas petrolíferas e a costa muito piscosa.
Composto de 8 fortificações distantes que se prolongam por 2,7 mil quilômetros com altura que varia de 1 a 30 metros, o muro conta ainda com bunkers, trincheiras, escavações, radar e sistemas de alarme eletrônico que acionam chamas e carros blindados.
Mas, para ser justo, o que parece impressionar é mesmo o enorme campo minado que está entre os 10 lugares do mundo com mais alta concentração de minas anti-homem.
26. Muralhas de Bagdá
Em total insegurança, muros se multiplicam em propriedades públicas e privadas no Iraque.
Diferente do muro de Berlim ou da linha verde no Chipre, no Iraque não existe um único muro, mas sim uma coleção deles. Ao redor de mesquitas, hotéis, hospitais e até de cidades inteiras, os muros tomam conta de margens de rios, ruas e avenidas num país acostumado a viver em guerra civil, com diversos atentados suicidas e intenso conflito entre comunidades sunitas e xiitas.
Chama a atenção em especial, a barreira de concreto armado de mais de 3,5 m erguida rapidamente na noite em que o regime de Sadam Hussei foi derrubado.
27. Muralha de Itchan Kala
Caminhando em direção a Ásia, nos deparamos com a imponente Muralha de Itchan Kala, a parte antiga da cidade de Khiva, no Usbequistão.
Datadas dos século 18 e 19, diversas edificações suntuosas se alternam, envolvidas pela muralha de tijolos escuros que conta com apenas quatro portões, um de cada lado da fortaleza retangular. Com o passar dos anos, a Muralha foi destruída diversas vezes, mas sempre é prontamente reconstruída pelos uzbeques.
28. Grande Muralha da Índia
Indo um pouco mais além chegamos a este território maluco que é a Índia. Para começar vamos falar da Kumbhalgarh, também conhecida como grande muralha.
São 36 quilômetros de construção no estado de Rajasthan, Índia Ocidental, erguida a partir de 1443 pelo governo de Rana Kumbha e finalizada só mais de um século depois na tentativa de proteger 360 templos a mais de 1100 metros acima do nível do mar. Não bastasse, a muralha foi novamente ampliada já no século 19, quando parou de ser utilizada como forte e passou a ser um museu.
29. Linha de Controle
Mas muros são utilizados como recursos em muitas ocasiões na Índia, afinal, conflitos e ameaças para se aproveitar não faltam.
Imagine um território que é pleiteado por três nações diferentes. Agora imagine que essas nações são Índia, China e Paquistão. Estamos falando do Kashimir, uma região dividida entre os três países pelas Nações Unidas que deixou todos insatisfeitos, já que cada uma reivindica para si a totalidade do território.
Na parte que diz respeito à fronteira da Índia com o Paquistão, o conflito remonta o período pós-colonização britânica e provoca muitas mortes. Uma barreira de arame farpado cercada por minas terrestres faz vítimas quase diariamente e se une aos 3,3 mil km fora da região do Kashmir onde a barreira metálica se estende sempre com a justificativa de impedir a imigração clandestina, estancar o terrorismo e impedir o tráfico de droga e armas.
30. Barreira de Ferro
E parece que a Índia gosta mesmo dessa história de cercar suas fronteiras com barreiras metálicas. O mesmo acontece no limite com Bangladesh, onde uma barreira de ferro e arame farpado de mais de 4 mil km segue sendo patrulhada por guardas com ordem para atirar em qualquer invasor.
A construção foi iniciada há 26 anos e custou mais de US$ 1 bilhão, a despeito das tentativas amigáveis de acordo entre as partes. Estima-se que nessa zona militarizada sangrenta, cerca de 200 pessoas são mortas por guardas indianos anualmente, mas o pior acontece mesmo quando ondas de refugiados tentam escapar dos recorrentes desastres naturais que assolam Bangladesh.
31. Cidade Murada de Pingyao
Já na China, a cerca de 715 km da capital, uma pequena e charmosa cidade chinesa apresenta mais um exemplo da força do país. Trata-se de Pingyao, uma cidade milenar que ostenta uma muralha majestosa impressionante.
Dados às tradições, os chineses fazem questão de preservar intacta e original a imponente construção com mais de 12 metros de altura, 6 km de perímetro, 72 torres de vigilância e um fosso externo de quatro metros de profundidade, além dos dois portões (um ao norte e outro ao sul).
Idêntica ao que já se podia observar há mais de trezentos anos, a muralha exige muita dedicação dos chineses. Quando ocorreu um desabamento na parte sul no ano de 2004, os cidadãos foram conclamados e fizeram questão de reconstruir a muralha imediatamente.
32. Parede de Xi'an
Não dá pra falar que é perto, afinal é a China, mas uma outra cidade bem antiga também conta com um muro de botar respeito.
Xi'an já foi a maior cidade do mundo, capital de 13 dinastias no reinado de 73 imperadores ao longo de 10 mil anos, e ainda hoje conta com vestígios dessa época, o maior exemplo: a muralha que envolve a cidade.
A construção começou no ano de 194 a.C. e levou 4 anos para ser terminada. Após a conclusão, a parede de 25,7 km de comprimento com 12 a 16 m de espessura na base, cerca uma área de 36 quilômetros quadrados. Ela foi construída originalmente de terra, cal e extrato de arroz glutinoso, mas passou por uma reforma para ser fechada totalmente com tijolos.
33. Zona Desmilitarizada Coreana
Ainda mais ao oriente, chegamos às coreias e lá uma faixa de terra chamada de Zona Desmilitarizada Coreana não tem nada de pacífica.
Em linhas gerais, a barreira do 38º paralelo entre a Coreia do Norte e a do Sul pode ser chamada do Muro de Berlim que deu errado. A linha de separação que representava a separação entre as zonas de ocupação soviética e norte-americana, tornou-se uma das regiões mais sensíveis da atualidade.
Hoje, a zona delimita uma faixa de terra de 246 km de comprimento por 2 km de extensão que divide aldeias, estradas, ferrovias, rios e famílias inteiras. Ali, minas terrestres estão enterradas, cercas de arame farpados estão erguidas e tudo é vigiado por mais de 2 milhões de soldados e mais de mil postos de guarda.
34. Muralhas de Jerusalém
Voltando para o Oriente Médio, nos deparamos com uma cidade sagrada para boa parte do mundo. Jerusalém é cobiçada pelo judaísmo, cristianismo e pelo islã, além de ser capital do Estado de Israel.
Lá, uma herança do século 16, vem desde o reino do império Otomano. Construída entre 1535 e 1538 por ordem de Solimão I, as muralhas cercam uma área de 1 km², com comprimento de 4018 metros, altura média de 12 metros e 8,5 metros de espessura.
As paredes que cercaram toda a cidade até o século 19, hoje diz respeito apenas à Velha Cidade, mas seguem com 34 torres de vigia e 8 portas de entrada. Hoje, as construções ajudam a dividir a capital entre as religiões e estão tombadas pela Unesco como Patrimônio Mundial junto com a Cidade Antiga desde 1981.
35. Muro das Lamentações
Ainda em Jerusalém, o Muro das Lamentações dispensa apresentações.
Considerado um local sagrado para o judaísmo, o muro é o único vestígio do antigo Templo de Herodes, erguido por Herodes o Grande no lugar do Templo de Jerusalém inicial.
Esta é a parte que restou de um muro de arrimo que servia de sustentação para uma das paredes do edifício principal e que em si mesmo, não integrava o Templo que foi destruído pelo general Tito, que depois se tornaria imperador romano, no ano de 70.
Interessante citar que antes da sua reabilitação por Israel, após a Guerra dos Seis Dias, em 1967, o local servia de depósito para incineração de lixo.
36. Muro da Cisjordânia
Em constante construção, o Muro da Cisjordânia é uma das construções contemporâneas mais polêmicas do mundo. Erguido pelo recente Estado de Israel, a barreira terá, quando finalizada, aproximadamente 760 km e muita polêmica.
A maior parte do muro é construída na Cisjordânia e, em parte, ao longo da linha do armistício de 1949. Porém, estima-se que a construção esteja englobando 8,5% da área da Cisjordânia, além de cercar completamente outros 3,4% do território isolando cerca de 450 mil pessoas. Por isso, o Tribunal Internacional de Justiça de Haia declarou a barreira ilegal em 2004. Israel, porém ignorou a decisão e prosseguiu com as obras.
O muro em si é ladeado por uma faixa de 60 metros de largura (área de exclusão) em 90% da sua extensão, e a muralha de concreto chega a 8 metros de altura em até 10% da obra. Pelo governo israelense, a barreira é chamada de "cerca de separação" ou "cerca de segurança", enquanto por parte dos palestinos e outros opositores é chamada de "muro da segregação racial" e até "muro do apartheid".
37. Muro da Vergonha
Diante de tantos exemplos, dá pra notar que a ideia de Donald Trump de erguer um muro na fronteira dos Estados Unidos com o México está longe de ser original, mas fica ainda mais evidente quando notamos que, na realidade, já existe um muro em parte dessa fronteira.
Um barreira de aço com 3 metros de altura e 22 km de extensão, equipada com sensores elétricos, torres de radar, telecâmeras com raios infravermelhos para visão noturna, iluminação de altíssima intensidade, sismógrafos, arame farpado e um sistema permanente de vigilância com veículos e helicópteros armados à disposição separa San Diego, na Califórnia, de Tijuana, no México.
O "Muro Mexicano" para os americanos ou "Muro da Vergonha" para os mexicanos teve suas obras iniciadas em 1994 e hoje se estende por áreas urbanas, pelo deserto e, até mesmo, por dentro do mar.
publicado em 15 de Outubro de 2016, 01:35