O fim de um ano e o começo de outro compõem um elo que mexe com as pessoas. É bem comum entrar em um estado de positividade, arrumar a bagunça da casa, pagar contas e organizar sua logística pra se preparar para o que está por vir.

Mas na vida, nem tudo é simples como criar uma planilha e tirar poeira de estantes cheias de livros velhos. Às vezes, temos problemas que parecem ser muito maiores do que a nossa capacidade de resolvê-los e, ao tentar olhar, somos arrastados enquanto o medo nos domina e nos paralisa.

Se esse é o seu caso, já adianto que este texto não é apenas um exercício de fantasia otimista. A ideia não é fingir que tudo está ou que vai ficar bem. Porém, é um lembrete de que, se nada está bem, ainda assim é possível aproveitar o começo de um novo ano para observar, analisar e começar a colocar em prática o que no fundo você já sabe. 

Esse ano nós podemos carregar com um pouco mais de significado, já que não fecharemos apenas o clássico ciclo de 365 dias, mas também o de uma década inteira. É simbólico.

Você, como eu, já viveu muitos anos nos quais fez promessas que não conseguiu cumprir e, no final das contas, caiu nos mesmos padrões.

Sei que deve ser cansativo, frustrante, e até desesperador cair tantas e tantas vezes. E com isso sentir vergonha, raiva, medo, culpa e frustração.

Para alguns essa realidade é tão dura e complexa que chegam a sentir vergonha só de pensar numa nova meta ou objetivo. Tudo devido a um histórico de promessas não realizadas — começam verbalizando para si e para o mundo, depois contam só para si (pois já não botam fé), e ao fim, abandonam as próprias necessidades.  

No final, fica o medo, a paralisia e outros tantos sentimentos pouco nobres. 

Talvez, o pior dano seja começar a não acreditar na mudança. E as desculpas saltam para amenizar a dor do Ego na mesma velocidade em que a felicidade começa a se despedir, carregando consigo a autoestima e aquela boa sensação de integridade da alma. 

Nesse caso, se me permite bancar o ombro amigo, tenho uma coisa a dizer: você deu o seu melhor com as ferramentas que tinha naquele momento. Essa mochila pesada do passado é muito mais um constructo mental do que travas do real. 

Desejo que — mesmo com um início impulsivo, desastrado e pouco planejado — você consiga sair dos ciclos de recaídas e torne sustentáveis as suas boas intenções.

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Portanto, recomeça.

Hoje, amanhã e depois. 

Esteja o máximo possível no aqui agora e vai ver que o passado pode ser um ponto referência, mas nunca um lugar de permanência, e que o olhar que antecipa o viver — futuro — em verdade ainda não existe, apenas alimenta tua ansiedade e rouba-lhe da presença.

A verdade está no presente.

Tão fácil falar, né?

Sei que a tarefa não é fácil, mas você sabe onde o caminho do não-fazer costuma levar. Um velho ditado de vó diz: "não adianta tomar os mesmos caminhos achando que chegará num lugar diferente". Resignar-se a esse ciclo de maltrato consigo é abdicar do que há de melhor e mais bonito. 

Talvez pareça narcísico e egoísta; mas, abandonar-se pode ser o pior dos abandonos. 

Nesse contexto, passo aqui para lembrar a você e a mim de 3 coisinhas:  

1. Auto-cuidado: que seja, inclusive, para cuidar de quem você ama. Como na metáfora da máscara de oxigênio do avião "em caso de acidente, coloque-a primeiro em você e depois nos outros", sob pena de dar ruim para os dois. A verdade é que o auto-amor é condição imprescindível para o cuidado de qualquer outro ser. "Cuidar do cuidador", lembra? Do contrário, efeitos colaterais indesejados surgirão mais cedo ou mais tarde.

2. Não meça seu valor pela régua dos outros: que tal olhar menos para os objetos externos e começar olhando para suas necessidades mais profundas? Aquelas que chegam a te envergonhar ou instigar culpa (péssimo sentimento, inclusive) só de pensar em reconhecê-las. Já pensou também em olhar com mais generosidade para suas qualidades e potencialidades? Talvez esteja sendo injusto e maximizando o que há de pior em si. Depender do olhar dos outros é uma armadilha sem saída, é um buraco sem fundo, acredite! 

3. Você merece ser feliz: nem tenho o que comentar, posto que é tão simples quanto isso. Você merece ser feliz tanto quanto outro qualquer ser!

Por fim, desejo que em sua jornada você tenha sandálias confortáveis, filtro solar, água, os melhores ventos e boa companhia. O caminho para a bela praia pode ser desafiante, mas valerá a pena.

E vocês, quais lembretes querem manter em mente pra 2020? 

Nos vemos nos comentários!

Cadu Paes

Psicólogo pela Universidade de Brasília (UnB), Servidor Publico Federal. Coautor do livro Libertando-se de namoros violentos: um guia sobre o abandono de relações amorosas abusivas". Apaixonado pela natureza