27 filmes sobre rebeldes com causa (na história e na ficção)

A “rebeldia com causa” é tão inspiradora que deu origem à inúmeros filmes capazes de despertar o rebelde que existe dentro de cada um de nós.

A rebeldia foi associada à uma imagem pejorativa da juventude, estigmatizada pela expressão “rebeldes sem causa” representada em filmes como Juventude Transviada, Grease, Diário de Um Adolescente, Curtindo a Vida Adoidado, entre outros do gênero. Quem nunca foi taxado de rebelde em algum momento de sua vida? Há um traço da rebeldia que normalmente está relacionada a conflitos de gerações. Desde a antiguidade Sócrates já dizia que:

“Os jovens de hoje gostam do luxo. São mal comportados, desprezam a autoridade. Não têm respeito pelos mais velhos, se passam o tempo a falar em vez de trabalhar. Não se levantam quando um adulto chega. Contradizem os pais, apresentam-se em sociedade com enfeites estranhos.”  (470-399 A.C.)

Porém, existe um outro lado da rebeldia que se manifesta como consciência crítica em oposição à toda forma de opressão. Uma rebeldia que transcende idade, gênero, etnia, traduzindo a essência humana de não se conformar com o autoritarismo, a desigualdade e a injustiça. Ser rebelde não se resume a “sexo, drogas e rock’n roll”. Como disse Thoureau:

“Será que o cidadão deve desistir de sua consciência, mesmo por um único instante ou em última instância, e se dobrar ao legislador? Por que então estará cada pessoa dotada de uma consciência? Em minha opinião, devemos ser primeiramente homens, e só posteriormente súditos. Cultivar o respeito às leis não é desejável no mesmo plano do respeito aos direitos. A única obrigação que tenho direito de assumir é fazer a qualquer momento aquilo que julgo certo”   

Em outras palavras: rebelar-se é não se curvar e ousar transformar a realidade! A “rebeldia com causa” é tão inspiradora que deu origem à inúmeros filmes capazes de despertar o rebelde que existe dentro de cada um de nós.

Essa lista é um verdadeiro coquetel molotov cinematográfico altamente inflamável! São filmes que retratam contextos políticos sociais de diferentes países, ideologias e momentos históricos, que servem também para refletirmos sobre o atual cenário da política no Brasil...

Spartacus

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Este épico, clássico do cinema, dirigido por ninguém mais ninguém menos que Stanley Kubrik, retrata a luta contra a escravidão no Império Romano.

Quando um escravo se torna gladiador e um gladiador se torna um rebelde, a luta pela liberdade se torna uma guerra sangrenta que tirou o sono dos dos poderosos romanos.

A revolta liderada por Spartacus fez milhares de escravos acreditarem na liberdade e ficou marcada na história e no cinema.

Rebeldes também malham!

Germinal

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Baseado na obra homônima de Émile Zola, esta adaptação retrata um dos períodos de maior ebulição de conflitos sociais da história: a Revolução Industrial, quando germinaram as insurgências do movimento operário contra as desigualdades.

Nesse contexto de exploração e precarização da força de trabalho, a greve se torna uma poderosa arma nas mãos de mineradores vivendo em condições de extrema miséria. Para quem não tem nada a perder a rebeldia é a única alternativa.

Um filme com uma fotografia realista e uma impressionante atuação de Gerard Depardieu, que levanta muitas reflexões sobre o mundo do trabalho.

Um brinde à rebeldia!

Anarquistas

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Ainda no contexto da Revolução Industrial, vale mencionar este belo filme francês sobre as origens do anarco-sindicalismo, que inspirou as primeiras greves em todo mundo, inclusive no Brasil.

Através do olhar de um espião infiltrado, o filme retrata os bastidores do movimento anarquista no Sec. XIX, com suas paixões e ideologias em choque com a repressão do Estado.

Com uma musa como Adèle Exarchopoulos no elenco vocês certamente não vão se arrepender de assistir esse filme.

A rebeldia é bela.

O Jovem Karl Marx

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Independente de ideologias, é inegável a importância de Karl Marx para a filosofia e para a economia. Este filme dirigido pelo haitiano Raoul Peck explora uma fase muito importante da sua vida para o desenvolvimento e amadurecimentos de suas teorias.

No período retratado no filme, Marx e Engels ainda não haviam elaborado o conceito de socialismo, logo em tese não eram socialistas, embora o fossem na prática, participando ativamente do movimento operário da época.

O Jovem Marx capta a rebeldia da juventude deste filósofo que marcou o Séc. XIX. Vale a pena conhecer a trajetória do homem por trás de suas idéias.

Queimada!

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Este filme italiano, que foi censurado pela ditadura militar no Brasil, aborda com muita crueza e perspicácia o imperialismo na América Latina, num contexto de transição do regime escravocrata e aristocrata para o trabalho assalariado e o livre comércio.

Com uma surpreendente atuação de Marlon Brando no papel de um gringo agente da coroa britânica, que ora inflama as revoltas populares e depois retorna para contê-las, o filme explicita os conflitos de interesses e as relações de poder que nortearam os rumos dos países latino-americanos.

Embora se passe em uma ilha fictícia, esta obra é de grande importância para refletirmos sobre a nossa história.

O Libertador

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A trajetória de Simon Bolívar está muito bem representada neste filme vibrante. Apesar da origem aristocrata, Bolívar se tornou um dos mais importantes mártires das lutas de libertação nacional na América Latina contra o imperialismo espanhol, tendo conquistado um território duas vezes maior que as de Alexandre, o Grande.

Este líder incitou batalhas de independência na Bolívia, Colômbia, Equador, Panamá, Peru e Venezuela, formando um exército miscigenado de rebeldes negros, indígenas e mestiços movidos pelo ideal de liberdade.

Para além do valor histórico do filme, o resgate da sua memória cumpre um papel de fortalecer a identidade e a integração dos povos latino-americanos.

Isso sim são cabelos rebeldes!

O Estado Livre de Jones

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A Guerra de Secessão nos Estados Unidos se consagrou como o histórico confronto entre os Estados Americanos conservadores e escravagistas do Sul versus os ideais liberais do Norte. Entretanto, no meio desse confronto, surgiu um Estado paralelo formado por rebeldes levantando a bandeira dos direitos civis.

O Estado Livre de Jones representou a união de soldados confederados desertores, escravos fugidos e cidadãos explorados pelos impostos de guerra em busca da liberdade e dispostos a pegar em armas para conquistá-la.

Baseado em fatos reais, esta produção original da Netflix relembra um capítulo esquecido e inspirador da história americana, que lança uma reflexão crítica sobre as origens da discriminação racial nos EUA.

Rebeldia não é brinquedo crianças...

Gandhi

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Anos mais tarde, surgiria no oriente um homem disposto a paz como arma para alcançar a consciência do povo indiano.

Ghandi foi um exemplo de rebeldia não-violenta. Através de atos simbólicos como o boicote ao tecido inglês e a emblemática marcha do sal, conseguiu conquistar a independência da Índia, unificando hindus e muçulmanos em torno da bandeira da paz.

Mahatma Ghandi foi muito bem representado pelo ator Ben Kingsley, que incorporou este símbolo do pacifismo neste filme indicado para onze Oscars e vencedor de oito, inclusive o de melhor filme.

Um punhado de sal para temperar a paz mundial.

A Revolução dos Bichos

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Uma incrível adaptação da obra homônima de George Orwell! Lançado em 1954, no contexto da Guerra Fria, trata-se de uma metáfora da Revolução Russa sob a perspectiva norte americana.

O filme, que reflete sobre a relação entre homem e natureza, conta a história de animais que decidem se rebelar contra os fazendeiros para exigir seus direitos, até descobrirem que “todos os animais são iguais, mas uns são mais iguais que outros”.

O trabalho da produção de transformar animais em personagens históricos como Lenin, Stalin e Trotsky é realmente admirável, a ponto de no final (spoiler!!!) “não se poder distinguir homens de porcos”.

Os humanos que se cuidem!

As Sufragistas

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Outra causa que não poderia ficar de fora dessa lista são as lutas feministas por direitos civis no final do Séc. XX, na Inglaterra. Num período em que as mulheres eram exploradas em triplas jornadas de trabalho exaustivas e subjugadas pelo machismo (embora ainda continuem sendo em grande medida), a luta pelo poder do voto se torna um estopim que mobiliza as sufragistas até as últimas consequências.

Como diz a personagem principal Maud Watts: “Nós quebramos janelas, incendiamos coisas, pois a guerra é a única língua que os homens entendem”. Uma história emocionante que mostra as dificuldades das mulheres na época de se organizarem e se reunirem para reivindicarem seus direitos.

O filme ganha ainda uma pitada especial de dramaturgia com a participação das atrizes Meryl Streep e Helena Bonham Carter. Para quem quiser conhecer melhor a história de cada personagem vale a pena conferir este artigo.

Terra e Liberdade

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Outro período marcante da história mundial foi a Revolução Espanhola, que mobilizou milhares de militantes de diversos países para enfrentar o fascismo do general Francisco Franco.

Este movimento libertário de inspiração anarco-sindicalista baseado na autogestão e coletivização das terras pelos trabalhadores lutava por uma lógica de relações econômicas solidárias, mas acabou sendo derrotado pelas tropas do exército fascista.

A partir das memórias de um falecido revolucionário que lutou nos frontes dessa guerra utópica pelo socialismo, o filme do engajado diretor Ken Loach, conta um pedaço dessa história repleta de ideais, paixões e coragem.

No pasarán!

Ventos da Liberdade

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Outra obra fascinante do diretor Ken Loach, que revela os conflitos político-ideológicos no interior do movimento nacionalista irlandês que originou o IRA (Exército Republicano Irlandês) e desencadeou uma Guerra Civil pela emancipação da Irlanda.

Vencedor do Palma de Ouro no Festival de Cannes em 2006 o filme consegue trazer uma tônica mais crítica ao conflito, que frequentemente é reduzido à questões religiosas, introduzindo elementos políticos sem deixar de lado os aspecto emocional dos personagens.

Rebelde criado pela avó.

Che: O Argentino

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Seria um grande desafio transpor as 904 páginas da biografia de Chê Guevara para as telas do cinema, não por acaso este filme se divide em duas partes.

A parte um é intitulada “O Argentino” e centra-se na Revolução Cubana a partir do desembarque de Fidel Castro, Guevara e outros revolucionários em Cuba para a derrubada da ditadura de Fulgencio Batista. Na parte dois, “Guerrilla”, o foco é na tentativa de Guevara para levar a revolução à Bolívia, o que acaba o levando à morte.

O filme mostra um lado menos romântico desse líder revolucionário, relatando as dificuldades enfrentadas numa guerrilha, todavia sem deixar de lado o seu carisma e ideologia, muito bem interpretados por Benício Del Toro, como por exemplo no efusivo discurso da ONU.

Enfrentando o inimigo só com uma mão...

A Guerrilha Sem Face

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Este filme que tem como pano de fundo a luta contra a ditadura militar no Peru foi a estréia de John Malkovich como diretor.

A história é narrada sob a perspectiva de um policial americano, protagonizado por Javier Bardem, que persegue Ezequiel, o líder do grupo guerrilheiro de libertação nacional Sendero Luminoso. Ambos acabam se apaixonando pela mesma mulher, a bailarina Yolanda, formando um triângulo amoroso.

Embora o filme deixe a desejar um pouco do ponto de vista histórico, é um thriller bastante envolvente.

Malcolm X

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Al Hajj Malik Al-Shabazz, mais conhecido como Malcolm X, foi um dos maiores líderes da luta contra o racismo no mundo! Sua autobiografia está entre entre os 10 livros de não ficção mais importantes do século XX.

Vindo da periferia aprendeu o poder transformador de um livro na prisão, onde se tornou um grande estudioso do Islã e das questões raciais. Foi assassinado a queima roupa com 16 tiros  no peito, mas suas ideias seguem inspirando rebeldes negros por toda parte, do Harlem à Meca, tendo sido uma forte influência para os Panteras Negras, para Nelson Mandela (que faz uma participação emocionante no filme) e até mesmo para o ex-presidente americano Barack Obama.

Esta grande obra de Spike Lee é uma denúncia da violência sofrida pelos negros nos Estados Unidos e resgata a memória deste ícone, muitíssimo bem interpretado por Denzel Whashington, em um dos papéis mais expressivos de sua carreira.

A festa acabou para o racismo...

Mandela: O Longo Caminho para a Liberdade

 

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Em se tratando de luta contra o racismo, Nelson Mandela não poderia ficar de fora dessa lista. Apesar de sua história inspiradora ter sido lembrada em outros filmes e documentários, este filme em especial capta o lado humano desse grande líder, mostrando suas raízes culturais e relações familiares.

Apesar de ter passado 27 anos da sua vida na prisão, acusado de sabotagem e terrorismo por lutar pelos direitos humanos, Mandela conseguiu vencer a segregação racial e unificar a África do Sul, se tornando um exemplo de resistência e resiliência.

Com ótimas atuações dignas de Oscar, como a do ator Idris Elba interpretando Mandela e a da atriz Naomie Harris no papel de sua segunda esposa, o filme expressa o racismo ainda presente nos dias atuais com a restrita participação de atores negros no cinema e nas premiações.

Um filme de arrepiar, entoado por fortes palavras de ordem gritadas em africâner, tão emocionante quanto o discurso de Desmond Tutu na Copa do Mundo de 2010 que traduziu a importância de Mandiba para o povo africano.       

O apartheid no banco dos réus!

A Chinesa

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Talvez este seja o filme mais cult e mais radical dessa lista. Um clássico da Nouvelle Vague dirigido por Jean-Luc Godard, um dos principais expoentes desse movimento artístico do cinema francês, sendo este, um dos filmes em que ele elucidou mais claramente suas concepções artísticas e revolucionárias.

Na célula revolucionária maoista formada por uma estudante de filosofia filha de banqueiros, uma camponesa prostituta, um cientista revisionista, um pintor russo suicida e um ator de teatro brechtiano, ao som da Rádio Pequim e cercados por livros vermelhos, estes jovens travam diálogos inflamados sobre a luta de classes e decidem colocar em prática suas ideias de transformação da sociedade. Apesar dos personagens serem de certa forma caricatos, o filme tem um caráter muito mais crítico do que cômico.

Trata-se de uma obra coerente com o seu tempo. Gravada em 1967, antecedeu os acontecimentos históricos do Maio de 68 e como se o cinema transbordasse das telas para a realidade foi um prelúdio deste marco da desobediência civil protagonizada pela juventude francesa que insuflou todo o mundo.    

Zabriskie Point

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Este filme do visionário diretor italiano Michelangelo Antonioni faz uma feroz crítica ao sistema capitalista mesclando elementos ideológicos da contracultura hippie com a paisagem deslumbrante do Vale da Morte, uma trilha sonora psicodélica composta por Pink Floyd e algumas doses de ácido lisérgico.

Toda a trama se desenrola a partir de uma reunião de estudantes universitários discutindo sobre o que é ser um revolucionário. É curioso assistirmos um filme mostrando o engajamento e politização das lutas sociais nos Estados Unidos, na década de 70, afinal, nem tudo se resume a Woodstock.   

Apesar ter uma pegada um pouco nonsense em alguns momentos, o filme tem diálogos muito intensos e reflexivos, além de cenas antológicas, como a cena final por exemplo. Vale a pena conferir!

Proibido para rebeldes menores de 18 anos...

Domingo Sangrento

 

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O filme reconstitui com impressionante realismo um dos momentos mais dramáticos da história da Irlanda do Norte, quando milhares de civis organizaram uma manifestação pacífica contra a truculência e arbitrariedade do exército inglês, que resultou na morte de 14 vítimas inocentes e ficou conhecido como Domingo Sangrento.

Tamanha a comoção gerada pelo massacre que acabou se tornando tema de uma das principais canções da banda irlandesa U2, “Sunday Bloody Sunday”, que faz parte da trilha sonora do filme.

A história verídica é contada em um estilo documental, com câmeras na mão, nos colocando em meio à tensão e ao clímax dos acontecimentos, sob a perspectiva de quatro homens envolvidos em lados opostos do confronto.

O Grupo Baader-Meinhof

 

Link YoutubeApesar das controvérsias em torno da tática de guerrilha urbana adotada pela RAF, também conhecida como Grupo Baader-Meinhof (apelido dado pela mídia alemã), este filme merece um lugar nesta lista pela audácia e coragem desses guerrilheiros na luta por seus ideais contra a Guerra do Vietnã, o imperialismo e a pobreza nos países do subdesenvolvidos.

Os principais alvos da RAF eram embaixadas, prédios da imprensa, bancos, tribunais e bases militares americanas na Alemanha, mas apesar do caráter violento de suas ações, foram apoiados com veemência por vários intelectuais alemães da época, dentre eles a própria Ulrike Meinhof que abandonou a carreira de jornalista para se tornar uma guerrilheira, como é mostrado no filme.

Apesar de ter sido indicado ao Oscar, o filme não é primoroso em termos de produção e atuação. Vale a pena conferir um pouco da história desse grupo rebelde que batalhou por quase 28 anos por seus ideais enfrentando todo o poderio bélico do exército alemão e chegou a inspirar até uma das canções da banda Legião Urbana.

Geração coca-cola.

Milk: A voz da igualdade

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Este filme mostra o despertar de um jovem visionário que só queria o direito de abrir uma loja de fotografia e viver em paz com seu companheiro, mas a intolerância e o preconceito que teve de enfrentar em sua trajetória o levaram a se tornar um dos maiores ativistas da causa gay e o primeiro político homossexual assumido dos Estados Unidos.

Com seu carisma, Harvey Milk liderou campanhas de reivindicação dos direitos gays que ganharam o apoio de políticos conservadores como Ronald Reagan e abriram espaço para homossexuais numa sociedade homofóbica hegemonizada pelo machismo.

Uma história verídica poderosa de luta contra o preconceito, vencedora do Oscar de melhor documentário com o filme “The Times of Harvey Milk”, em 1984, e posteriormente, a ficção “Milk: a voz da igualdade”, recebeu 8 indicações, tendo levado as estatuetas de melhor roteiro original e melhor ator, com uma comovente atuação de Sean Pean.

No

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Nem todo rebelde precisa pegar em armas para lutar por suas causas. No caso do personagem René Saavedra, interpretado por Gael Garcia Bernal, a publicidade foi uma arma poderosa para enfrentar a ditadura de Augusto Pinochet, sem derramar uma gota de sangue, no insólito e suspeito plebiscito convocado pelo próprio regime militar para decidir os rumos políticos do Chile.

O diretor Pablo Larraín acertou ao utilizar uma estética visual dos comerciais chilenos da época, dialogando com o momento histórico retratado no filme e dando maior veracidade à narrativa.

O filme é bastante instigante e apesar do pesado contexto político de fundo ele te prende do início ao fim, sendo difícil crer que um jovem idealista possa derrotar um ditador apenas com criatividade e 15min diários na televisão.

Edukators

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Este filme alemão é um dos filmes mais impactantes que já assisti. Tudo começa com dois amigos dispostos a atacar os privilégios das elites, usando o terrorismo psicológico para desestabilizar a sensação de segurança comprada pelo dinheiro.

Sem roubar nada, eles invadem as mansões de grandes magnatas e deixam apenas uma carta com as frases: “seus dias de fartura acabaram” ou “você tem dinheiro demais”.

O filme enfrenta de forma madura o dilema entre a rebeldia da juventude e as obrigações da vida adulta, fazendo uma crítica poderosa à sociedade de consumo.

Destaque especial para a atuação contundente de Daniel Brühl e para a trilha sonora extraordinária que vai de Leonard Cohen à One Inch Punch.

O Sistema

 

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Uma trama envolvendo um grupo de ativistas dispostos a fazer justiça com as próprias mãos na base do “olho por olho, dente por dente”, fazendo com que empresários de grandes corporações que tenham cometido crimes contra a humanidade e contra o meio ambiente, provem do próprio veneno, literalmente.  

Embora seja um suspense instigante e cheio de reviravoltas, o roteiro se perde um pouco deixando a crítica social ofuscada pelo romance proibido entre uma agente dupla infiltrada e o líder do grupo extremista.

Apesar de não ter grandes méritos em termos de direção e atuação, o filme levanta questões sociais e ambientais provocativas, denunciando os crimes cometidos por grandes indústrias, como a petrolífera e farmacêutica, que causam graves danos ao meio ambiente e à saúde da população, permanecendo impunes, como no trágico caso brasileiro da Samarco SA e o rompimento da barragem em Mariana.    

O Som do Ruído

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Um grupo de músicos anarquistas planeja uma performance vanguardistas extraindo ritmos, percussão e harmonias de situações e instrumentos mais inusitados (como uma mesa de cirurgia, um banco, escavadeiras e torres de alta tensão), mas ao mesmo tempo com um significado crítico implícito contra o sistema de mercantilização e elitização da música.

Enquanto isso, um investigador de polícia com aversão à música que vive fechado em seu próprio silêncio, irá tentar impedir que estes terroristas artísticos concluam seu espetáculo.

Apesar de parecer uma ficção pitoresca disfarçada de comédia policial, esta produção sueca inspirada no manifesto musical futurista de 1913 “Arte dos Ruídos” é na verdade uma bomba musical contra a indústria cultural de massa.

No ritmo da rebeldia.

Assim Que Abro Meus Olhos

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Este belo exemplar do cinema independente capta as raízes da Primavera Árabe através do olhar de uma jovem cantora enfrentando os paradigmas conservadores da sociedade tunisiana.

Embora rebeldia e rock’n roll possam ter se tornado um clichê ocidental, essa combinação no contexto político dos países árabes pode ser considerada altamente subversiva e é justamente aí que está a originalidade deste filme.

A transição da juventude para a vida adulta, que tanto preocupa os pais da personagem Farah, é intercalada com a transição da ditadura para a democracia e marcada por uma trilha sonora potente e contestadora.

Apesar de se tratar de uma obra de ficção, o espectador se sente muitas vezes diante de um documentário, dada a realidade que permeia a narrativa nos transportando para 2010, alguns meses antes da Revolução Jasmim.

Snowden: herói ou traidor

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O polêmico caso do soldado Edward Snowden ficou mundialmente conhecido por revelar provas de violações de privacidade e espionagem cometidas pela Agência de Segurança dos Estados Unidos no suposto combate ao terrorismo.

Atualmente exilado na Rússia, este jovem hacker enfrentou sozinho a maior potência do planeta, se tornando um dos seus maiores inimigos por denunciar os abusos cometidos pela NSA contra os próprios cidadãos norte-americanos.

Crucificado por uns e idolatrado por outros, esta figura enigmática divide opiniões, porém sua atitude corajosa deu ao mundo a oportunidade de refletir sobre o quanto estamos dispostos a entregar da nossa privacidade em troca da suposta segurança oferecida pelo Estado.

Dirigido por Oliver Stone, o clima de conspiração do filme nos faz sentir como um personagem do livro “1984”, de George Orwell, e certamente você não verá seus tablets, smartphones e laptops da mesma maneira.

V de Vingança

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Um clássico dos quadrinhos que se tornou um clássico do cinema e um símbolo do grupo de ciberativistas Anonymous. V é um herói sem identidade, disposto a entregar tudo pelo poder de uma ideia, afinal, “ideias são à prova de balas”. Apesar de ter sido escrita em 1982 por Alan Moore, a história parece bastante verossímil no atual cenário de ascensão de discursos nacionalistas, islamofobicos, xenofóbicos e homofóbicos nos EUA e Europa.

Em um mundo distópico onde as pessoas são vigiadas e controladas pelo medo, um homem sem face decide enfrentar os pilares desse Estado opressor sustentado pela polícia, pela igreja e pela mídia. Em sua concepção: "As pessoas não deveriam ter medo do seus governos, os governos é que deveriam ter medo das pessoas.".

Movido pela vingança e pela força de suas ideias de justiça, um único homem, com um profundo senso de ironia e sarcasmo, agindo clandestinamente como um lobo solitário, consegue inflamar multidões para se rebelarem contra seus opressores.

Os duelos de adagas contra pistolas são empolgantes e deixam o filme ainda mais atrativo. Um filme que perpassa passado, presente e futuro, para assistir várias vezes!

O banquete está servido!

* * *

Como se pôde perceber, a rebeldia já foi inspiração para grandes diretores e atores, revivendo líderes, mártires, guerrilheiros e heróis que não se calaram perante as injustiças e desigualdades. Independente das posições ideológicas de cada um, a rebeldia é sobretudo um ato de coragem que nos humaniza, por isso acredito que esta lista será de grande valor para inspirar corações e mentes a encontrarem uma causa pela qual valha a pena lutar.  


publicado em 19 de Julho de 2018, 19:53
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Lucas Prado

Lucas Prado, 35 anos, manaueiro (nascido em Minas Gerais com raízes em Manaus), servidor público, entusiasta de inovação, cinéfilo, colecionador, escritor e poeta, autor do livro "Ninho".


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