"Toda fotografia tem um antes e um depois. É através desse pensamento que tento mostrar histórias, assim é possível que o observador passe uma noite inteira na rua Augusta sem nunca precisar, fisicamente, estar lá."
Moro no bairro da Consolação, na cidade de São Paulo. Aqui há uma rua cujo nome é Augusta. E a Rua Augusta é meu quintal.
Por enquanto, a única coisa que você precisa saber sobre ela é que é divida entre lado Jardins e lado Centro. Ou melhor dizendo, Baixa Augusta e… a outra lá.
A Baixa Augusta é onde as histórias acontecem. Onde é o rolê, a balada, o esconderijo, o esquenta, a procura, a perda, o teto, a esperança, a casa. É meu quintal.
Quando o sol se esconde, as pessoas vão para lá e se transformam. A busca que fazem, o que enxergam, até a maneira de andar, muda. Sempre saí de madrugada para observar e dar boas risadas com o que via e acontecia. Quando me mudei para a Consolação, ali pertinho, achei uma boa ideia caminhar com a câmera fotográfica pelas noites.
Sou uma pessoa caseira/do mato, nunca me senti realmente encaixado em nenhum grupo, talvez por querer participar de todos ao mesmo tempo. Os meus passeios sempre incluiram sair e ficar vendo as pessoas. Sempre fui fascinado pela noite urbana e pelo comportamento frenético das vidas.
As cenas inusitadas em meio a cores contrastantes contam histórias de uma única noite, mas duram para uma vida!
Puts, já parou para pensar?
A Rua Augusta é isso, um prato que transborda de possibilidades fotográficas. Os acontecimentos não acabam nunca! Todas as classes sociais e tribos estão unidas ali, cada um na sua vida, no seu "rolê" sem se importar muito com o que acontece em volta.
Tenho tido experiências bastante positivas. Inclusive um homem me abordou uma vez e me disse que eu - que estava com uma câmera grande na mão - tinha a força de mostrar muita coisa, dar muitas vozes. Aquilo martelou na minha cabeça.
Comecei a grudar lambes pelas paredes da Augusta para tentar mostrar um pouquinho mais desse trabalho.
Além do meu quintal, a Augusta é uma galeria de arte a céu aberto. A expressão das pessoas pelas paredes é forte. Por quê não ajudar com fotografia também?
Acho uma ironia positiva ter fotos da Augusta na Augusta.
O projeto está tomando forma, mas já são 4 meses de idas e vindas por aquelas calçadas. Pretendo fotografar até o final do ano, além de espalhar mais lambes e criar pequenas exposições a céu aberto:
Assim, de alguma maneira, isso ajuda a dar voz aos rostos fotografados e ajuda os transeuntes a enxergarem diversas histórias paralelas às deles.
Você pode acompanhar o projeto principalmente no Instagram @augusta.mq (Augusta, Meu Quintal), mas tem no Facebook também. Não precisa ser um amante da noite urbana ou da Rua Augusta, pois esse não é só um ensaio fotográfico sobre os 2km mais famosos da cidade de São Paulo. É um projeto sobre pessoas, acontecimentos e suas histórias. Sobre comportamentos, momentos e buscas - que não são necessariamente individuais.
A cidade grande pode ser uma cilada que aliena do verdadeiro propósito das relações humanas e afetivas. Preocupados apenas com nossos próprios narizes e a velha "corrida dos ratos", nos relacionamos superficialmente. Nos deixamos levar pela queda em um abismo sem precedentes e esquecemos (ou nem sabemos) qual nosso propósito, deixando de lado qualquer ética social e por vezes pessoal - nos traindo como seres humanos.
Finalizo o artigo com as minhas 6 fotos favoritas até agora, mas não pelas suas mensagens ou composição estética propriamente dita, mas talvez pelo fato de que, como toda fotografia, há um antes e um depois do clique. Nesse movimento, as histórias dessas imagens estão ligadas diretamente comigo, o que as torna muito especiais.
Um abraço!
publicado em 13 de Maio de 2017, 01:00