24º Festival de Alegre, Feriado de Corpus Christi 2007

Uma das características da equipe da Papo de Homem, além dos editores ecléticos, é a pouca experiência em jornalismo tradicional. O que pode acabar nos conferindo uma vantagem em relação aos meios de comunicação típicos.

Temos um estilo diferente, mais informal, ao trazer as informações. Tendo isso em vista, e também nosso talento para se divertir em serviço, trago aqui a minha avaliação de um super evento ocorrido na cidade de Alegre, no sul do Espírito Santo.

Concentração pré-guerra
alegre-festival

Para os desaviasados, estou falando do 24º Festival de Música de Alegre, que ocorre anualmente no feriado de Corpus Christi. E foi para lá onde me dirigi desta feita.

O Festival contava com as seguintes atrações este ano :

- Quarta 6/6: Estado de Sítio, Jeito Moleque, Skank, Leandro Sapucahy e Jammil e uma Noites
- Quinta 7/6: Beijo com Mel, César Menotti e Fabiano, Asa de Águia, Charlie Brown Jr., Armandinho
- Sexta 8/6: Void, Vanessa da Mata, Capital Inicial, Ivete Sangalo, Papas da Língua
- Sábado 9/6: ZeroDoisSete, Marcelo D2, O Rappa, Lauryn Hill (Atração internacional) e Banda Eva
O mascote deles é um cachorro, seria uma mensagem subliminar? alegre-folder

Para quem não conhece, o Festival funciona da seguinte forma. Os shows começam às 20h no Pavilhão de Exposições da cidade, e por ali circulam em torno de 30000 pessoas. Isso vai até às 5h da manhã.

Normalmente as pessoas vão descansar até mais ou menos 13h, quando acontece o chamado “Rock da Tarde”, onde todos vão para uma rua da cidade que fica com vários carros com o som no talo. O agito rola até de noite, quando repete-se o ciclo, até a manhã de domingo. Então o agito é praticamente 24 horas, non-stop!

Mas vamos à “revisão informal” do que ocorreu lá.

QUARTA

Após chegar na cidade, cheguei atrasadíssimo ao Pavilhão. Isso porque meu ingresso estava com um amigo, que chegou lá pela meia noite. Perdi os shows do Estado de sítio. Esses primeiros shows das 20h são de bandas locais, e poucos chegavam a ver, por ser ainda muito cedo. Eu mesmo não vi nenhum. Leandro Sapucahy foi muito elogiado pela energia que contagiou o público e Skank, que pelo que vi, foi bem fraco.

Jammil
virou clássico já
Jammil

Então chegou o ponto alto da noite, o show do Jammil. Apesar de ser o primeiro dia e o Pavilhão não estar cheio, o show foi um dos melhores do festival, as músicas eram bem conhecidas. Jeito Moleque encerrou a noite, elogiado por alguns, criticado por outros - sou dos que não gostam de pagode.

QUINTA

Cheguei no início do show do César Menotti e Fabiano, de quem nunca tinha ouvido falar. Amigos, que showzaço! Os caras cantaram músicas próprias famosas (Aquela do “eu vou fazer um leilão, quem dá mais pelo meu coração”), sertanejos de outros cantores, mas para mim o ponto alto foi quando cantaram uma versão rock de “Superfantástico”, da Turma do Balão Mágico. O pavilhão de exposições veio abaixo, sendo que neste dia já estava lotado. Boas recordações da minha infância. ;D

Sensação que surgiu em Minas, a dupla sertaneja dos gordinhos está ganhando o Brasil e vendendo horrores em CDs
cesar-menotti

Em seguida veio Durval Lélys e seu Asa de Águia. Show do Asa é tiro certo, o clima de carnaval entrou com tudo. Veterano de carnavais em Porto Seguro que sou, me senti um tanto desatualizado, pois nunca tinha ouvido aquela “Quebra aê, quebra aê, olha o Asa aê”, mas mesmo assim, foi um ótimo desempenho.

O Asa deu espaço ao Charlie Brown Jr, de quem sou fã declarado. Além de músicos de primeira, no palco ainda havia um half-pipe, e o vocalista Chorão por vezes cantava fazendo manobras em seu skate.

Dois skatistas ficavam fazendo manobras durante todo o show. O CBJr manteve a energia anterior, naquela que foi a melhor noite, só senti falta de músicas mais antigas do primeiro CD, mas sucessos como “Zóio de Lula”, “Tudo o que ela gosta de escutar” e outras são tiro certo. Show excelente.

Armandinho encerrou a noite, e nessa hora, eu já estava com mais de 10 latas de cerveja nas idéias, não conhecia as músicas, a guerra não estava gerando muita coisa boa, então, saí. Meus amigos falaram que foi legal.

SEXTA

A minha primeira pergunta foi : “O que a Vanessa da Mata está fazendo aqui no festival ?”. Nada contra quem goste, mas Alegre é um lugar que a essa época faz frio, e o estilo de música da cantora não combina com todo o agito. Só prestou quando ela cantou aquela clássica “tomar um banho de chuva, um banho de chuvaaaa”. Show fraco. Mas em seguida, o Capital Inicial entrou e contagiou a galera com seus sucessos, inclusive algumas músicas do Aborto Elétrico, preparando a todos para o ápice da noite.

Essa aí é eterna, vai viver mais que a Dercy
ivete

Ivete Sangalo. Há o que comentar? Existe show ruim da Ivete? Todo o pavilhão pulava ao som de seus sucessos, mas aquela do Berimbau Metalizado foi a melhor de todas. Confesso que não prestei muita atenção no final do show não, mas nessa hora, eu estava, digamos... Me dando bem, se é que me entendem !

Para encerrar a noite, o Papas da Língua. Que começou o show com o seguinte discurso e o palco meio vazio : “Gente, eu sei que é complicado manter a energia após um show da Ivete, e que também vocês só nos conhecem por causa de uma música, mas vamos nos despir dos preconceitos e...”. Ta certo que a missão da banda foi encardida, mas começar o show com discurso pedindo desculpas, é prenúncio do fracasso. Não deu outra, o pavilhão esvaziou. Saí antes de eles tocarem “Eu sei”.

SÁBADO

Para encerrar o Festival, Marcelo D2 entrou à procura de sua batida perfeita e fez um bom show, tendo como ponto alto a interação com a platéia. Em uma das músicas que ele canta com seu filho Stephan (que não estava lá), ele perguntou se alguém da platéia sabia cantar, e escolheu uma pessoa para subir ao palco e cantar com ele, sendo aplaudidíssimo. Sucessos do Planet Hemp também foram lembrados.

O ponto alto desta noite foi o show do Rappa, que contagiou toda a multidão ao som de seus maiores sucessos. Poucas vezes ouvi uma platéia cantar praticamente todas as músicas de alguma banda como foi lá em Alegre, com destaque absoluto para “Pescador de Ilusões”. Falcão soube transmitir muita energia com sua voz possante.

"Mega-Atração" totalmente fora do clima do Festival. Bola fora.
lauryn-hill

A decepção do Festival foi a participação de Lauryn Hill, que apesar de ser a atração internacional, conseguiu prejudicar inclusive a boa Banda Eva, que viria a seguir. Espantou quase todo mundo do pavilhão de exposições. Um show fraco, com muita gritaria e poucas músicas conhecidas. O que ela veio fazer mesmo? Eu fui embora no meio do show.

Não tenho muito como falar sobre a Banda Eva, mas parece que eles seguraram bem a onda, porque na manhã seguinte, enquanto eu ia embora de Alegre, vi muita gente mesmo descendo do pavilhão, o que indica que ficaram até o final.

OUTROS EVENTOS E CENAS CURIOSAS

Deficiente amigo

O chamado “Rock da tarde”, poderia ser melhor apelidado de funk da tarde, pois esse era o ritmo predominante, me senti no Rio de Janeiro. Gente dançando em cima dos carros, ruas lotadas, clima de carnaval. Para quem curte uma guerra, um local perfeito. No último dia, aconteceu o “Tarde Folia”, um campo de futebol local foi fechado para um show de André Lelys. Não fui ao show, mas aqui vi uma cena que nunca vou esquecer, que relato no parágrafo abaixo.
Um grupo com várias pessoas passou pela casa onde eu estava junto com amigos, e carregavam um deficiente físico numa cadeira de rodas. Perguntaram-nos onde era o Tarde Folia, e indicamos o caminho. Mas um amigo meu reparou que carregavam garrafas de whiskey, e os alertamos que não poderiam entrar com elas. A resposta nos chocou :
- A gente coloca tudo debaixo dele (o deficiente) na cadeira de rodas. Ninguém revista deficiente mesmo!
O que o ser humano não faz por bebida...

Que horas é a Missa?

Outra cena curiosa foi uma lourinha bonitinha, usando roupa “para matar”, short curtíssimo e blusinha colada ao corpo, passa próximo a nossa casa, e dá um tropeção no chão, quase caindo. Refazendo-se do susto, vira para nós e pergunta:
- Vocês sabem se vai ter missa hoje na Igreja?
Essa eu nunca vi. Não sabíamos se ríamos ou se respondíamos. Alguém vai à missa de shortinho? E o pior que depois ela passou várias vezes em frente à casa, e nós sempre informávamos a hora da próxima missa. Pediu.

Ambulâncias passavam pela cidade a todo vapor. Aparentemente houve recorde mundial de atendimentos aos bebuns de plantão.

Praticamente não houve confusão nem briga no Festival, o que em se tratando de grandes eventos, é algo louvável. Este é o clima do Festival de Alegre, muita diversão e farra, para quem não conhece, fica a dica para o próximo Corpus Christi.

O duro depois de tanta zoação foi gastar sete horas dirigindo para voltar para casa, e ainda ter que trabalhar na noite de domingo (chegando em cima da hora). Mas preciso manter a imagem de médico “sério” que ainda me resta... E claro, juntar a grana para o próximo Festival.


publicado em 14 de Junho de 2007, 18:21
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Mauricio Garcia

Flamenguista ortodoxo, toca bateria e ama cerveja e mulher (nessa ordem). Nas horas vagas, é médico e o nosso grande Dr. Health.


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