24 álbuns pra manjar mais que o suficiente sobre post-rock

Tudo o que era pra ser rock, mas não é

A história do gênero começou entre o finalzinho dos anos 80 e começo dos anos 90 e, como qualquer estilo, teve altos e baixos. De um tempo pra cá, no entanto, voltou a pipocar nos fones alheios, principalmente por causa de serviços como o Spotify, que disponibilizou várias playlists de post-rock. Meus amigos, por exemplo, adoram ouvir o som enquanto trabalham, embora não saibam exatamente o que estão ouvindo.

Devo ter deixado, por descuido e não por maldade, alguns nomes importantes fora da lista. Isis, MONO, 65daysofstatic e outros tantos. Por isso convido você a acrescentar outras bandas nos comentários. Com certeza será bem enriquecedor pra mim e para os outros leitores.

Comecemos então definindo o que é post-rock

O termo foi utilizado pela primeira vez em março 1994, batizado pelo jornalista Simon Reynolds, na resenha do álbum Hex, da banda Bark Psychosis, para a revista britânica Mojo.

Dois meses depois, Simon desenvolveu melhor o artigo para a revista The Wire, onde substancializou o gênero de vez, definindo a música que "usa instrumentação de rock para fins não-rock, usando guitarras como facilitadores de timbre e texturas em vez de riffs e acordes de energia". Encontrei a matéria completa no arquivo digital da Revista The Wire. Pra quem quiser dar uma lida, clica aqui (a página é a 28).

O gênero é o resultado de um caminhão de referências, influenciado pelas climatizações do jazz, pelo Krautrock (década de 70), Shoegazer, Dub, Música Eletrônica, Rock Progressivo, Rock Industrial, New Age e até mesmo, defendem alguns, pela Música Clássica.

Tudo isso é muita coisa e ao mesmo tempo não é nada para definir as características do estilo. Principalmente porque post-rock se trata de liberdade, do rompimento das estruturas obsoletas de composição. As músicas valorizam o relacionamento dos instrumentos (guitarra, baixo, percussão, teclado) com os elementos digitais, construindo sensações, ambientes, cenários e muita, muita (muita mesmo) textura.

A experiência de ouvir um post-rock bem executado é ficar à mercê da sua imaginação e do lugar para onde ela te leva diante do som. Você se sente em cima de uma colina, respirando um ar puro, e no instante seguinte percebe uma tempestade chegando. Uma tempestade de tijolos, que acertarão a sua cara.

Mas e a distribuição?

A grande maioria dos grupos não tem contatos com rótulos caros ou grandes produtoras. As bandas distribuem o material de modo independente, empurradas pela internet. Algumas recebem, inclusive, apoio das bandas mais consolidadas.

No Brasil, por exemplo, o post-rock ganhou muita força no comecinho dos anos 2000, com a divulgação das bandas nos e-zines (publicações periódicas, distribuídas geralmente por e-mail, onde as pessoas davam suas opiniões sobre assuntos como tecnologia, cinema, música, literatura etc.).

Considerado o primeiro grupo brasileiro de post-rock, o Hurtmold, de São Paulo, se formou em 1998, com músicos que vinham do hardcore, e impulsionaram a popularização do post-rock no Brasil.

Em julho de 2007, a Folha de São Paulo publicou na capa de seu caderno Ilustrada, uma reportagem escrita sobre a arrancada do que o jornalista Bruno Yutaka Saito chamou de “rock esquisitão”, se referindo às bandas instrumentais. Um ano depois, em 2008, a Rolling Stones considerou o disco da banda cuiabana de post-rock Macaco Bong, “Artista Igual Pedreiro”, como o melhor do ano.

Pra quem quiser conhecer a cena atual do estilo aqui no país (que é excelente, diga-se de passagem) recomento fortemente o site Sinewave.

Respeitando o compromisso que eu assumi com o título da matéria, separei 28 álbuns que são ou fundamentais para a história do gênero ou excelentes pela sua produção.

Dividi em três grupos: há os precursores, bandas que deram cor à história do post-rock, sendo responsáveis pelos primeiros trabalhos do gênero, e os contemporâneos, que são as bandas da “segunda fase”, a maioria formada a partir de 2003.

Há uma mudança nítida no som dos contemporâneos em relação aos precursores. Os elementos digitais sobressaem-se aos instrumentos muitas vezes. E na crítica musical há, inclusive, severas críticas à similaridade dos trabalhos destas bandas, alegando pouca originalidade. Mas isso é outra história.

Para finalizar, listei 4 álbuns brazucas pra você sentir a qualidade do que estamos produzindo dentro de casa.

Precursores

1. Bark Psychosis – Hex (1994)

Citado na matéria, Hex foi o álbum que inaugurou o termo (embora outras bandas já estivessem produzindo post-rock há um tempo).

O som é bem bom e ainda conta com a voz dos músicos, coisa praticamente extinta nos trabalhos mais atuais. Você lembra da primeira maçã que comeu, assim que soube que este era o seu nome (maçã)? Com certeza não. Mas o gosto deve ser o mesmo que ouvir isso aqui.

2. Talk Talk – Laughing Stock (1991)

Como eu disse, post-rock já vinha sendo produzindo antes mesmo de ser chamado assim. É o caso deste álbum do Talk Talk, que é fodido e conta com muita atmosfera e experimentalismo. Até som de órgão tem aí. É um dos discos mais completos que já ouvi na minha vida.

3. Slint – Spinderland (1991)

Um dos meus preferidos. No comecinho não parece post-rock, mas depois ganha uma qualidade dentro do gênero que poucos, dentro destes 30 anos, atingiram. Álbum curtinho, 39 minutos, som ótimo, equilibradíssimo.

4. Tortoise – TNT (1998)

O Tortoise é uma dessas bandas importantíssimas a um estilo musical, que leva a popularização do gênero para outra escala. Os americanos fizeram isso com o álbum de mesmo nome (Tortoise), que eu não achei no YouTube. Por isso disponibilizo o terceiro álbum dos caras – e o meu preferido deles. O batera é monstruoso!

5. Mogwai – Rave Taps (2014)

Formada em 95, a banda escocesa talvez seja uma das mais conhecidas no mundo dentro do gênero. Já se apresentaram aqui no Brasil, em 2012. Todos os álbuns da banda são ótimos. Uma pedrada atrás da outra. Disponibilizo aqui o último, divulgado no ano passado. A cada novo trabalho eles parecem entender um pouquinho mais de post-rock.

6. Sigur Rós - Ágætis byrjun (1999)

Provavelmente o grupo islandês é o mais conhecido de todos. Em atividade desde 1994, produzem um som com uma personalidade rara, muito espiritual, que ganha traços de transcendentalidade com o Jónsi (vocalista da banda) e o seu falsete. Esse álbum aí é uma viagem sem volta.

7. The Album Leaf – In a Safe Place (2004)

Esse som poderia tranquilamente ser a trilha sonora de um filme. Principalmente esses filmes sensíveis tipo Her. Ótimo para dias de chuva.

8. Burn Rome in a Dream – True If Destroyed, True If Not Destroyed (2005)

Com certeza só citei essa banda por causa desse álbum maravilhoso. Os sons são muito bem cadenciados e em alguns momentos lembram o indie e o folk. De toda a lista, sem dúvida é o que mais tem ritmo dançante. Daria até pra, sei lá, deixá-lo tocando enquanto cozinha algum rango. As intervenções da gaita dá um tempero foda nas músicas.

9. Godspeed You! Black Emperor – Lift Your Skinny First Like Antennas to Heaven (2000)

A capa sensacional não parece ter sido posta aí despretensiosamente. A pegada do álbum é muito hipnótica, como as mãos ilustradas no disco. Em alguns momentos fica impossível contar a quantidade de elementos presentes num mesmo tempo das músicas. O Godpeed é outra banda que, assim como Mogwai, nunca produziu coisa ruim (não que eu conheça).

10. Explosions In The Sky - Those Who Tell the Truth Shall Die, Those Who Tell the Truth Shall Live Forever (2001)

Finalizo a lista dos precursores com o pessoal do Explosions in the Sky, ativos até hoje e um dos principais grupos nestas playlists do Spotify. A guitarra desse álbum é ótima.

Contemporâneos

11. God Is An Astrounaut – All is Violent, Al lis Bright (2005)

Resolvi começar a lista com God Is An Astronaut porque é uma das bandas mais popzinhas do momento. Eu acho esse álbum esplendoroso. É muito doce e possui algo raro nas novas bandas de post-rock: um belo trabalho de instrumentos, principalmente a guitarra, que trabalha muito.

12. This Will Destroy You – This Will Destroy You (2008)

Outra banda bem atual e popular, formada em 2005. Indico fortemente outro álbum deles (The Word is our ____), que muitos consideram ser o melhor. Mas gosto muito deste também. Deve ser ótimo ouvi-lo vendo a cidade de cima de uma sacada.

13. Maybeshewill – Not for Want of Trying (2008)

Na minha opinião, a melhor das bandas formadas depois de 2003. Este álbum é o reflexo disso. As músicas te torturam e no fim (a atmosfera criada é muito pesada) você termina de escutar o disco cansado, como se tivesse tocado junto com a galera da banda.

14. Krobak – Little Victories (2013)

Outro da minha gaveta de preferidos. Embora no post-rock se analise um álbum pelo trabalho completo, gosto muito da primeira música desse álbum. O violino é lindão. Sem falar nesse trabalho gráfico maravilhoso aí na capa.

15. Hammock – Departure Songs (2012)

Os dois guitarristas do Hammock também são muito conhecidos na atualidade. Este álbum em específico, o Departure Songs, carrega uma atmosfera sombria e dá uma sensação de engasgo do começo ao fim.

16. Forgot Your Case – No One (2011)

Esta banda é de Bangkok. Conheci através de um documentário sobre o cenário do post-rock na Tailândia, que não possui muita audiência no país e que também é divulgado de maneira independente. Tem no youtube completo, com legendas em espanhol. Infelizmente, não consegui encontrar um álbum completo pra disponibilizar aqui. Mas esse som já vale.

17. The Ascent of Everest – How Lonely Sits the City (2006)

Este é o meu preferido. Projeto fantástico, com sons imprevisíveis e densos. O disco começa lindo e termina impecável.

18. If These Trees Could Talk – Red Forest (2012)

Este som é bem peculiar. Com uma composição “suja”, o álbum ocupa toda a mente de quem o ouve. As composições são orgásticas e o show fica por conta dos – mais uma vez eles – instrumentos. Guitarra e batera trabalham muito. Parece a trilha sonora de uma guerra apocalíptica.

19. Russian Circles – Station (2008)

Ótimo disco, marcado por músicas bem produzidas, quase matemáticas. Abusa bastante das repetições.

20. Collapse Under the Empire – Shoulders & Giants (2011)

A lista dos contemporâneos termina neste álbum pesadíssimo dos alemães do Collapse, que alternam o tempo todo entre o calmo e o tempestuoso. E fazem isso com uma velocidade e precisão que o disco me lembrou um pouco Tchaikovsky.

Brazucas

21. Hurtmold – Et Cetera (2000)

Banda que abriu as portas para o post-rock no Brasil, Hurtmold traz um som extremamente cru em Et Cetera, com bastante influência da percussão. O que faz todo sentido com o passado da banda, que era no hardcore.

22. Macaco Bong – Artista Igual Pedreiro (2008)

Eleito pela Rolling Stones o melhor álbum do ano em 2008. Inspirado no trabalho de bandas como Mogwai e Tortoise, o Macaco Bong conseguiu botar identidade no projeto, trazendo músicas bem instrumentalizadas. Com uma guitarra (não posso esquecer) chorona e de explodir os tímpanos.

23. Labirinto – Anatema (2010)

Fundada em 2003, a banda paulista é a minha nacional preferida. A minha justificativa é esse álbum, que na minha opinião é até melhor que o “Artista Igual Pedreiro” (álbum célebre do post-rock nacional), embora sejam bem diferentes. Além da ótima cadência das músicas, o trabalho gráfico do álbum é fodido. Mostrei Anatema pra um amigo que é apaixonado por post-rock e ele simplesmente ficou fissurado. Entenda o porquê dando play.

24. Ruído/mm – Praia (2008)

A banda curitibana reúne defensores que a consideram a melhor do gênero aqui no Brasil. E não é pra menos. O som é muito bem feito, com a guitarra trabalhando bastante e texturas simples mas muito musicais e criativas.


publicado em 03 de Outubro de 2015, 00:00
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Giovanni Arceno

Giovanni Arceno é estudante de jornalismo. Tem mais amor pela literatura que amor próprio.


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