20 anos da morte dos Mamonas Assassinas e o que eles representaram

Que poder é esse de continuar influenciando gerações mesmo depois de tanto tempo?

Poucas pessoas têm uma relação mais estranha com os Mamonas Assassinas do que eu.

Você pode até não saber, mas sou nascido e criado em Santos, litoral de São Paulo. A cidade, seu porto, suas estradas e até seus conjuntos habitacionais foram temas de diversas músicas que vão desde Roberto Carlos até Mc Duda passando, é claro, pela banda mais famosa da cidade: Charlie Brown Jr.

Acontece que, até hoje, a música da qual as pessoas mais se lembram quando eu digo que sou de onde sou ainda é, invariavelmente, Pelados em Santos, dos Mamonas Assassinas.

Eu tinha cinco anos, fui viajar com minha família para passar o final do ano em Ubatuba, contei de onde era e virei o "meu chuchuzinho" da viagem.

Eu tinha nove anos, fui na primeira viagem com a escola, falamos da nossa cidade e começaram a cantar: "mina, teus cabelo é da hora" no busão.

Eu tinha doze, fui competir fora do estado pela primeira vez e em algum momento da conversa: "meu docinho de coco."

Quinze, comecei a flertar com uma garota na internet e, de repente, depoimento no orkut: "eu te i love you".

Dezoito, me mudei pra São Paulo e "pelaaaados em Santos". 

Se você me acompanhar numa conta rápida perceberá um pouco melhor o sentido disso tudo. Quando o grupo de rockeiros de Guarulhos morreu num acidente aéreo no auge do sucesso há exatos 20 anos, eu não tinha nem dois anos de idade. Gostaria de dizer que me lembro da repercussão da morte deles, mas o máximo que me recordo é das histórias que meus pais e minha irmã me contaram alguns anos depois.

Ainda assim, mesmo que eu fosse só um bebê na época em que tudo aconteceu, minha vida foi permeada por essas referências. O que tornou impossível que eu não acabasse conhecendo suas músicas. Foram anos (e disso eu me lembro bem) de Vira-vira, Robocop Gay e Sábado de Sol no karaokê.

Mais se você ainda não está convencido da quantidade de piadas que eu ouvi sobre isso ao longo da vida, lá vem o detalhe crucial. O que fazer quando seu avô te buscava todas as terças-feira na porta da escola com uma famosa Brasília amarela?

Seu João Barreto tinha uma igualzinha a essa aqui.

Só me restavam duas possibilidades. (1) Ficar puto com todo mundo e brigar com o meu avô pelo simples fato dele ter uma Brasília amarela ou (2) aceitar as brincadeiras e fazer disso um fator interessante para começar e desenvolver histórias com desconhecidos.

Com o passar dos anos, a gente vai entendendo melhor as coisas e aprendendo técnicas de sociabilização com outros seres da nossa espécie. Veio a adolescência e o teor humorístico/putaresco das músicas caiu como uma luva nas brincadeiras imbecis dos garotos adolescentes no pico da puberdade.

No fim das contas, poucas coisas são capazes de pavimentar melhor o começo de qualquer relação do que um assunto em comum, de preferência engraçado. Saber que você divide com o outro alguma vergonha ou desvio de caráter é um grande catalisador. Neste caso, Mamonas era o gatilho para risadas o que acabou me rendendo várias histórias e algumas amizades.

É por isso que – embora muitos possam não compreender – rola uma comoção tão grande em torno desse assunto. Não se trata apenas de cinco moleques que emplacaram uns seis ou sete sucessos e de repente viraram ícones nacionais. Se trata das histórias e conexões que se criaram em torno disso.

Da minha parte, posso dizer que – ainda que hoje possamos questionar parte das letras das músicas – Dinho, Bento, Júlio, Samuel e Sérgio ocuparam um espaço importante durante minha adolescência. Mesmo com alguns anos de atraso. É por essa capacidade que eles criaram de influenciar e conectar à distância que hoje queremos relembrá-los.

Fica o convite para ouvir a playlist do Spotify só com músicas dos Mamonas e compartilhar com a gente suas lembranças. No final, queremos poder comentar: "quanta gente, quanta alegria". 

 


publicado em 03 de Março de 2016, 00:48
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Breno França

Editor do PapodeHomem, é formado em jornalismo pela ECA-USP onde administrou a Jornalismo Júnior, organizou campeonatos da ECAtlética e presidiu o JUCA. Siga ele no Facebook e comente Brenão.


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