[18+] Bom Dia, Vitor Placca

O Vitor é ator de teatro e foi fotografado pelo Janssem Cardoso

Nota editorial: estamos em busca de Bom dias com homens e com mais diversidade de corpos e peles — aqui explicamos em mais detalhes o contexto atual da série, suas origens, obstáculos e nossa visão de futuro para ela. Se você é fotógrafo(a) ou tem um ensaio que deseja publicar, fale conosco pelo jader@papodehomem.com.br .

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Início de primavera, recentemente havia feito 27 anos ou… primaveras. O ar ainda carregava resquícios da estação anterior mas havia sol e calor. É sempre uma expectativa receber alguém em casa, abrir as portas desse lugar íntimo, ser o melhor anfitrião, oferecer um café e uma conversa e mais. Encontro e troca. De olhares. Ver a si mesmo refletido no espelho que é o outro, como uma espécie de Narciso ao avesso: enquanto me vejo sendo visto vejo o outro.

Adentramos a intimidade e abrimos mais uma porta, do quarto. Preliminares, ajustes, luz, cor, exposição, nitidez, foco, olho, corpo, pele. Iniciamos por uma sessão de um imaginário muito peculiar, parte das referências conversadas anteriormente. Nosso esquenta. Tinta no corpo e uma coroa de palha que configuravam uma imagem sacra ancestral. Sim, cavamos fundo esse aquecimento e nos embebedamos dessa figura que, hoje, tornou-se nosso segredo, nossa sessão clandestina, sem exposição pública. Ritual de abertura, terminado debaixo d’água no chuveiro, onde iniciamos um ensaio de delicadeza durante a libação do corpo. Abriram-se as cortinas - ou a porta do box, se preferir - e assim a fotografia pode lavar-se de intimidade.

 

 

 

 

Do banheiro à cama. Pele refeita, cheiro de sabonete, leve olheira ainda da tinta no rosto. Ar fresco e janela aberta. Repouso no edredom, encosto no espaldar da janela e as imagens acompanhando o corpo na pulsão entre o íntimo e o exposto. A beleza de um corpo nu reside na sua vulnerabilidade e fragilidade ampliadas pela lente de um olhar, e só a partir daí ultrapassa-se a forma vazia e a vulgaridade. É possível ver além, tatear o invisível e chegar a um imaginário.

Transitamos por ações ordinárias do cotidiano atribuindo nova ótica na relação corpo-lugar. O varal de lençóis secando ao sol, uma gaiola vazia, plantas. A cozinha com sua mesa, louças, pratos, copos, talheres, água, fogo, corpo. O vapor sobe e dá sinal para coar o café, depois adoçado com prosa e mais registros. Já ouvi que sua relação com café diz muito sobre sua relação com o sexo.

Perfeito!

Corpo nu tomando café seria metalinguagem? Sujamos as xícaras e lemos na borra da fotografia o dia compartilhado, que findou com aquela brisa fria, como se pudesse ouvir uma voz de mãe dizendo: Põe uma roupa, menino, pra não resfriar!

As fotos são do Janssem Cardoso, no projeto Other Colours.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Boa semana a todos.


publicado em 26 de Março de 2018, 00:00
Bio jpg

Vitor Placca

Tem 27 anos, é natural de Sorocaba e vive em São Paulo há dez anos. Ator formado pela Universidade de São Paulo concentra a maior parte de seus trabalhos no teatro. Mais recentemente, tem ampliado seu campo estético profissional através da fotografia e das artes visuais.


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