[+18] Bom dia, Jaque Gambin

A Jaque foi fotografada pela Gane Coloda

Nota editorial: acreditamos que nudez, sensualidade, desejo e diversidade são discussões essenciais de nosso tempo. E que há espaço para tratar disso sem objetificar e ofender, mas sim valorizando toda a riqueza do masculino e do feminino. Para entender porque publicamos ensaios de homens e mulheres e saber mais sobre o que aspiramos para a série "Bom dia", leia o que escrevemos aqui. E se tem um ensaio que deseja publicar, fale conosco pelo luciano@papodehomem.com.br .

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Quando criança não me sentia sendo uma criança. Por ter uma estrutura corporal mais desenvolvida que as demais meninas, aos 10 anos era confundida com uma adolescente de 14 anos, pela altura e principalmente pelo peso elevado. Por ser a maior de todas, sempre ficava responsável pelas demais meninas.

Dos males, o menor. Com isso desenvolvi um senso de responsabilidade muito cedo. Uma menina ser confundida com uma adolescente com o corpo já formado me atordoava.

Acabei desenvolvendo uma lordose, pois sentia a necessidade de esconder minha altura e principalmente que meu corpo em formação, ainda era de uma menina. Minha adolescência foi repleta de desafios, obstáculos sobre meu peso, sobre meus seios pequenos comparados ao meu corpo, sobre meu rosto, meu nariz, enfim, sobre aceitar que minha aparência não estava nos padrões. Estou longe de ser uma mulher frágil, sou muito forte, sou canceriana determinada, vaidosa e ansiosa.

Minha introversão, não sei como, me permitiu a formação em Relações Públicas. Falar em público e me expressar nunca foram tarefas fáceis. Só depois dos meus 25 anos é que descobri a verdadeira definição de introversão. Até aí, vivi uma vida que não era minha. Uma vida que alimentava insanamente meu corpo e minha ansiedade em permanecer com aquele pensamento de que eu era uma mulher feia.

Ao me libertar das amarras, após muito amadurecimento, que vem com o passar dos anos, consegui ver na mulher de estrutura grande um corpo fascinante com curvas exóticas e com lindos olhos verdes, que até então nunca os havia notado. Fazer fotos sensuais seria impossível no meu pensamento, pois a fotógrafa não iria entender minhas queixas, em relação à visão que tenho do meu corpo como um todo. Algo me fez ir ao meu encontro! Acredito que a vergonha e a coragem me impulsionaram.

Ah, se eu soubesse antes que isso seria libertador... Minha mente martelava “o que os outros irão pensar”. Tinha vergonha. Tinha medo. Hoje, tenho raiva e compaixão ao mesmo tempo por não ter deixado sair do casulo aquela menina exótica que estava gritando dentro de mim. A partir do momento que aprendi a gostar do meu corpo nu, minha autoestima começou a brilhar. Demora, mas acontece... é como a mutação de uma borboleta.

Quando vi as fotos pela primeira vez, confesso que fiquei extasiada. Chorei, pois não enxergava aquela menina, enxergava uma mulher sensual. Como eu amo minha pele! Como eu amo ser mulher!

Ao ver meus olhos verdes em cada fotografia, lembro nitidamente dos momentos de não aceitação, cada degrau conquistado até ali... Uma coisa é certa, a Gane Coloda me apresentou a minha beleza. Sim, ela encontrou em algumas horas a beleza que eu procurava há mais de 30 anos. Depois dessas imagens, se eu puder convencer uma mulher a ser fotografada, e principalmente provar a ela que é linda, já me considero vencedora!

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publicado em 02 de Julho de 2018, 00:00
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Jaque Gambin

Relações Públicas.


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