16 cidades americanas para conhecer e 30 filmes para lembrá-las

Há mais nos americanos do que pensamos aqui debaixo da linha do Equador

Minha história com os Estados Unidos não começou da melhor maneira possível. Por muito tempo, vi os EUA como sinônimo de consumismo, capitalismo selvagem e intervenções altamente questionáveis em outros países.

Não que eu estivesse totalmente errada, mas não dá pra julgar todo um povo pelas atitudes de uma parcela, não é mesmo? Foi então que comecei a relativizar a opinião que eu tinha dos americanos.

Mesmo assim, sempre dizia que minha primeira viagem para o exterior jamais seria para lá. Mas havia uma coisa nos EUA que me atraía especialmente: a Rota 66. Pegar o carro e viajar me dá uma sensação de liberdade enorme e achava um máximo aquela estrada cheia de história que cortava o país.

Sabe aquela história de que as palavras têm poder? Pois bem, em meados de 2013, no aeroporto de Miami, meu passaporte foi carimbado pela primeira vez, e eu não havia desembolsado 1 centavo pela viagem. Foi uma visita rápida dividida entre Orlando e Nova York, que, apesar de serem lugares extremamente turísticos, portanto amostras não muito autênticas da cultura local, já me mostraram que eu poderia estar enganada quanto a todos os estereótipos americanos em que acreditei a vida inteira.

No início de 2014, resolvi explorar o país por conta própria e com mais tempo. E só porque a pagação de língua não tem limite, no final do mesmo ano, mais um mochilão por lá e, em 2015, acabei morando nos EUA. Nessa altura, minha opinião já era bem diferente sobre o povo e a cultura norte-americana. Vamos às cidades na ordem em que visitei.

1. Nova York

A primeira impressão de NYC certamente é a grandiosidade e o espírito cosmopolita da cidade. Tradicional.

A cidade tem opções para todos os gostos. De qualquer maneira, vale citar todos aqueles pontos que você já sabe que tem que visitar: Times Square, Central Park, Estátua da Liberdade, Wall Street. Eu também recomendo o Metropolitan Museum of Art e o MoMA.

Se tiver tempo para andar um pouco, caminhar por Little Italy, Chinatown e Soho é uma ótima ideia. São regiões bem típicas da cidade e todas próximas umas das outras.

Quanto à gastronomia, a pizza, o cheesecake e o hot dog de rua são os pratos mais famosos por lá. No mais, Nova Iorque é mesmo a cidade que não para, onde você pode encontrar todo tipo de expressão artística e, quem sabe, até cruzar com os caras do U2 dando um rolê na Times Square como aconteceu comigo.

Algumas dicas: para visitar a Estátua da Liberdade, é uma boa ideia reservar as entradas com antecedência e se informar sobre a barca que faz o transporte até a ilha onde ela fica. A última barca sai por volta das 16h, dependendo do dia. Se quiser subir até a coroa da estátua, você deve obrigatoriamente comprar o ingresso online.

A Broadway é mega concorrida e, por isso mesmo, cara. Mas, se você quiser mesmo assistir a um espetáculo pagando menos, eles têm matinês muito mais em conta.

Alguns filmes que têm tudo a ver com a cidade: Amizade Colorida, Birdman, O lobo de Wall Street.

2. Orlando

Se você não gosta de bancar o turistão, não vá para Orlando. Tudo na cidade gira em torno dos parques temáticos e dos outlets. A primeira coisa que vem à cabeça são os parques da Disney, mas há quem ache os parques da Universal Studios ainda mais divertidos.

Sobre os outlets, alerta: soam como uma grande armadilha para turista, sendo bem franca. Esqueça aquela história de que quem converte não se diverte. Converta dólares em reais, sim! Caso contrário, grandes chances de estar pagando muito mais caro por coisas que você nem precisava. Agora, se você realmente gosta de grifes, aí sim, e só nesse caso, pode ser um bom negócio.

Quanto à cidade em si, Orlando é bem aquele estereótipo americano: avenidas largas, tudo bem cuidadinho, as pessoas se locomovem predominantemente de carro, centenas de redes de fast food.

Se seu sonho de infância era ser astronauta, você tem que ir ao Kennedy Space Center em Cabo Canaveral. É um complexo de lançamento de foguetes da NASA que fica a cerca de uma hora de Orlando. Se der sorte, pode até ver algum lançamento.  

Foram feitos em Orlando os filmes Cidades de papel, Onze homens e um segredo e Meu primeiro amor.

3. Los Angeles

L.A. são várias cidades. A região metropolitana de Los Angeles é formada por diversos pequenos distritos, cada um deles com uma vibe diferente. Posso falar melhor de Santa Mônica e Hermosa Beach, os dois lugares onde fiquei.

Ambas ficam um pouco afastadas de Downtown L.A. e são exatamente aquela imagem que a gente tem da Califórnia: praias, surf, gente sarada e bronzeada. A epidemia de obesidade existente nos EUA parece não atingir L.A. As pessoas são, em geral, bem atléticas, o que é uma boa coisa para elas, claro.

Mas a impressão que tive sobre Los Angeles é de que tudo é meio artificial e exagerado. Nunca havia visto tantas academias 24 horas – com pessoas lá dentro 24 horas! –, clínicas de estética e cirurgia plástica, salões de beleza e por aí vai.

Até os restaurantes às vezes parecem ter um cardápio mais focado na aparência do cliente do que na comida em si. Parecia haver uma certa obsessão com produtos detox, contagem de calorias, combinações que “turbinam” o metabolismo… O que eu achei um pouco estranho nessa história toda é que saúde não parece ser bem o foco ali, mas sim uma “aparência saudável” se é que você me entende.

É nítido como a cultura hollywoodiana está arraigada na cidade. Assim como a influência mexicana, que é fortíssima ali, como em todo o sul dos EUA. Andei muito de ônibus e metrô e percebi que, no transporte público, praticamente só se ouve espanhol.

A propósito, locomover-se em L.A. não é das tarefas mais fáceis. Recomendo fortemente que você alugue um carro para explorar a cidade. Se não for possível, faça como eu, que não tinha grana para um carro: compre um tour para os principais pontos turísticos. Lá não tem jeito – sem carro, o melhor é comprar com antecedência numa agência de turismo tickets para o busão conversível que te leva para os lugares mais famosos da cidade. Eu peguei esse tour.

Se você estiver indo a Malibu, sugiro que dê uma parada no meio do caminho para visitar o Lake Shrine Temple, um templo dedicado a meditação e retiros espirituais. O lugar fica próximo a um lago e é rodeado por jardins. Você pode fazer uma passeio por lá sem pagar nada e curtir um pouquinho da boa energia do local.

L.A. é cenário para milhares de filmes e programas de TV, alguns que traduzem bem a vibe da cidade: De repente é amor, Her e The Bling Ring.

4. Albuquerque

Quando deixei L.A. rumo ao Leste, realizei meu sonho de percorrer a Rota 66 – não no conforto de um carro muito menos numa Harley Davidson, como muitos costumam fazer.

Meu dinheiro só podia pagar uma viagem de 20 horas num ônibus da Greyhound. E foi assim que eu cheguei à capital do Novo México. A paisagem árida, a mistura das culturas americana, indígena, espanhola e mexicana, as histórias de assombração e, claro, para os fãs de Breaking Bad, as locações da série, que se passa ali, são os maiores destaques.

A cidade tem vários museus e atrações, mas fique atento aos dias de funcionamento, já que alguns locais podem estar fechados domingo, segunda ou terça-feira. Eu recomendo o Museu das cascavéis, o Indian Pueblo Cultural Center – onde você pode conferir um pouco da cultura dos índios nativos dos EUA –, além de uma caminhada pelo Rio Grande.

Um pouco afastadas da cidade estão as montanhas Sandia, onde é possível subir até o pico por um teleférico. Há também vários tours pelas locações de Breaking Bad, um dos mais interessantes é feito de bike.

Se tiver um tempo, vale a pena dar um pulo em Santa Fé, onde se encontram diversas galerias de arte, além de ser uma cidadezinha bem simpática.

5. Nashville

Nashville é uma celebração à música em forma de cidade, sobretudo ao country, mas não só.

Os museus mais incríveis por lá são o da música country e o Johnny Cash Museum. Também é possível ouvir blues em muitos bares, eu recomendo especialmente este aqui.

Na área central, há caixas de som espalhadas pelas ruas tocando country e shows a qualquer hora do dia ou da noite nas centenas de bares espalhados por ali. Se você ama música country, como é o meu caso, se curte um pouco ou mesmo se é fã de um bom blues, faça-se o favor de visitar essa cidade.

Pra se inspirar, Johnny e June é um filme que nos faz ter vontade de visitar a capital do Tennessee.

6. Portland

Não esperava muito da maior cidade do Oregon. Tudo que sabia é que chove quase o ano inteiro e que ali é o habitat natural dos hipsters. E o que sempre acontece quando visito um lugar sem grandes expectativas? Fico encantada!

Lá existem dezenas de cervejarias artesanais, e muitas delas têm seus próprios pubs, num dos quais eu passei o Saint Patrick`s day mais divertido de todos os tempos.

Também recomendo o Portland Art Museum, que tem um acervo fodasso.

Outro detalhe sobre a cidade: as pessoas nos EUA, em geral, são muito educadas, um pouco mais formais do que os brasileiros, mas em Portland, mais do que isso, elas são extremamente amáveis, eco friendly, socialmente engajadas, antenadas, bike-lovers. Ou seja: hipsters legais de bom coração!

Sabe aquela impressão de que em L.A. há um estilo de vida artificialmente saudável? Pois é, em Portland – e no Oregon como um todo – o estilo de vida saudável me pareceu um conceito muito mais verdadeiro. As pessoas parecem mesmo preocupadas com a qualidade dos alimentos que consomem, praticam exercícios físicos principalmente ao ar livre, importam-se com o impacto que suas atitudes têm sobre o planeta. Além disso, eles amam cachorro, principalmente os grandões.

Se for possível pra você, também recomendo uma escapada para Multnomah falls, uma cachoeira linda a cerca de 50 km de Portland, e para uma das várias vinículas do Oregon.

Alguns dos poucos filmes que se passam em Portland ou no Oregon: 12 horas, Livre, Elefante. E claro, tem também a série de TV Portlandia, que é uma grande caricatura da cidade e seus habitantes.

7. São Francisco

São Francisco é um dos lugares mais adoráveis que já visitei. A cidade fica no meio do caminho entre Portland e Los Angeles. Deve ser por isso que existe aquela vibe eco friendly, saudável e socialmente engajada, mas com um toque praiano da Califórnia.

As pessoas parecem realmente felizes dirigindo suas bikes – mesmo com todos aqueles morros! – em meio aos edifícios de padrão arquitetônico tão característico da cidade.

Seria perfeito para morar se não fosse tão caro viver ali. Essa inclusive é um queixa geral entre os americanos. Muitos dizem que adorariam morar em Sanfran, mas não conseguem custear uma vida por lá. Muita gente natural de São Francisco acaba deixando a cidade em busca de um custo de vida mais razoável.

Eu fiquei hospedada no Fisherman’s Wharf, uma região bem tradicional da cidade, relativamente perto da Golden Gate e onde é possível ver os leões marinhos do pier 39. De lá, também é possível ver a ilha de Alcatraz, que é aberta a visitação.

Outras coisas legais da cidade: os cable cars, a Union Square e as painted ladies – construídas entre 1892 e 1896, são algumas das mais antigas casas da cidade que sobreviveram ao terremoto de 1906.

Recomendo também dar um pulo na Lombard Street, aquela rua em zig-zag onde você vai querer tirar uma selfie. Se você é fã de chocolate, São Francisco é a casa da Ghirardelli, uma fábrica de chocolates bem antiga. Vale a pena provar.

Se ainda precisar de um pouco mais de inspiração para visitar a cidade, sugiro o filme Blue Jasmine.

8. Miami

Miami tem: um bairro cubano, comida de diversos países latinos, praias lindas, arte de rua. Mas Miami também tem: gente tendo surto consumista, alguns comerciantes trambiqueiros, que vão te fazer sentir que está fazendo um super negócio enquanto te passam pra trás, e ostentação.

Acho que ficou claro que a cidade está longe de ser uma das minhas favoritas. Mas, pelos pontos positivos – e pelo preço das passagens saindo do Brasil – a visita pode valer a pena.

Miami também foi cenário para coisas legais que me aconteceram nos EUA: uma amiga da minha amiga, que me hospedou na casa dela de graça sem nem me conhecer; o senhor com quem eu conversei um tempão na fila do mercado e que me deu um pacote de chocolates em “agradecimento” – palavras dele – pela boa conversa; o rapaz que correu comigo carregando a minha mala para que eu não perdesse o ônibus para Nova Orleans. Enfim, as experiências boas deixaram boas memórias.

Se você assistir ao filme Chef, provavelmente vai querer conhecer Miami também.

9. New Orleans

New Orleans é linda. New Orleans é triste.

É linda porque tem uma arquitetura e um charme muito característico, porque se ouve muito blues, folk, rock, country e tudo misturado o tempo todo em qualquer lugar e porque tem a culinária mais rica e autêntica dos EUA.

A tristeza fica por conta dos anos de segregação racial ainda tão evidentes. Nova Orleans tem uma das maiores populações negras dos EUA e um dos maiores índices de pobreza, além de ser uma das cidades mais violentas do país – o que não é motivo para deixar de visitá-la, ok?

Além disso, Nola – como muitos a conhecem – ainda foi marcada em 2005 pela destruição do furacão Katrina. Dez anos depois, um desavisado que anda pelos pontos mais famosos da cidade nem desconfiaria da tragédia. O que prova que Nova Orleans também é resiliente.

Minhas recomendações: ande pelas ruas até quase se perder, visite o French Quarter – em especial a Bourbon Street –, pegue um dos bondes, tire um tempinho para contemplar o rio Mississipi.

E coma. Coma muito, prove jambalaya, po-boys, beignets do Café du Monde – que é intransitável durante o dia, mas fica aberto 24 horas, então você pode ir de madrugada e não enfrentar fila. No French Market, além de comidas típicas, você encontra produtos locais.

Alguns filmes que vão te fazer querer arrumar as malas e viajar pra Nova Orleans: O curioso caso de Benjamin Button, Entrevista com o vampiro.

10. Las Vegas

Eis aqui a cidade americana que menos gosto. Desculpa se te joguei um balde de água fria, mas, como mulher, é bem difícil não se sentir incomodada em Las Vegas.

A Disneylândia dos adultos, além de cassinos, tem (mesmo!) centenas de capelas para casamentos que podem ser celebrados por uma cópia do Elvis, restaurantes que servem comidas gordurosas e deliciosas em quantidades insanas, hotéis caríssimos, ostentação, carrões.

Talvez por isso haja um certo sentimento de “aqui pode tudo”. Pode jogar, beber, deitar no asfalto e… achar um máximo mulheres seminuas andando na rua, no frio, promovendo shows de striptease protagonizados por outras mulheres. É só diversão, alguns vão dizer. O que acontece em Vegas, fica em Vegas. O fato é que, em Las Vegas, a mulher parece ser vista como um pedaço de carne, feito para ser atraente aos olhos masculinos e rebolar em cima da mesa.

Nada contra a livre escolha de uma mulher de andar seminua, ser stripper, rebolar em cima da mesa. Tudo contra a cultura do estupro que vem sendo alimentada ali.

A coisa é tão intensa que não fica só entre os turistas. Boa parte da população local já absorveu esses valores. Uma caminhada pelas ruas de manhã, num dia de semana foi o suficiente para perceber que os homens visivelmente residentes da cidade são os que mais “mexeram” comigo em comparação com qualquer outro lugar nos EUA.

Caso eu não tenha te desanimado, pensa na parte de jogar, beber, comer e deitar no asfalto, fecha os olhos e vai. Não muito longe da cidade – a cerca de 50km –, está a barragem Hoover, uma construção de tirar o fôlego para os interessados em arquitetura e engenharia.

Se quiser repor as energias, você pode ir até o Grand Canyon. A borda sul, parte mais visitada do canyon, fica a cerca de 450 km de Vegas. É possível pegar tours saindo da cidade, até mesmo um bate-e-volta de ônibus, que é bem corrido, mas não sai tão caro. Na verdade, Las Vegas não é o melhor ponto de partida para o Grand Canyon, mas se você estiver visitando a cidade, vale muito a pena ir ver de perto uma das sete maravilhas naturais do mundo.

Filme ótimo e baseado numa história real que se passa em Vegas: Quebrando a banca.

11. Denver

Já aprendemos a lição do que acontece quando não temos grandes expectativas quanto a uma cidade, certo? Pois bem, minha ideia inicial era ir de Las Vegas para Chicago de ônibus, mas essa viagem duraria quase 40 horas. Ou seja, eu precisava parar em algum lugar entre as duas cidades. E, no meio do caminho, tinha Denver.

Quando fui procurar no mapa onde eu iria pernoitar para seguir viagem no outro dia, bati o olho naquela cidade grande quase no meio do nada e me lembrei do livro Na estrada, de Jack Kerouac, que menciona a cidade diversas vezes.

O plano era só passar a noite, mas, chegando na cidade, fiquei tão encantada com a beleza e com a energia (uma vibe que me lembrou bastante Portland, a propósito) que resolvi prolongar minha estadia ali por mais um dia. Não foi suficiente. Voltei à cidade em 2015.

Denver tem museus ótimos. O prédio do Denver Art Museum por si só já é uma obra de arquitetura impressionante. E como arte alimenta a alma, mas não corpo, aí vão duas dicas de lugares onde provei os melhores hambúrgueres dos EUA: Cherry Cricket Burger e Park Burger. É sério! Os caras sabem o que estão fazendo.

Pra conhecer melhor a cidade, você pode alugar uma bike em vários pontos espalhados por lá. Um pulo no Jardim Botânico também pode ser uma ótima ideia.

Se, assim como eu, você adora andar no meio do mato, o Colorado é um estado com uma natureza deslumbrante. A meia hora de Denver, já é possível encontrar parques nacionais, onde você pode pedalar ou fazer uma trilha caminhando.

Ah, e aos possíveis interessados, o Colorado, assim como o Oregon, é um dos estados americanos onde a maconha é legalizada.

Para entrar no clima da cidade, o filme homônimo baseado no livro Na estrada, do Kerouac, foi dirigido pelo brasileiro Walter Salles e tem cenas em Denver.

12. Chicago

Depois de tanta dureza no meu mochilão pelos EUA, este foi o lugar da ostentação. Fiquei na casa de uma amiga, que até então eu imaginava ser gente como a gente. O que eu não sabia é que ela morava num apartamento com vista panorâmica para a Cloud Gate, aquele monumento super famoso que parece um feijão espelhado.

Nos dois dias que se seguiram, fui ao Millennium Park, andei bastante pela cidade, visitei o Instituto de Arte de Chicago, onde, dentre outras obras maravilhosas, vi esse quadro do Seurat. Almocei no Ed Debevic’s, um diner super divertido. Assisti a uma peça na Lyric Opera of Chicago e tomei café da manhã no French Market. E ainda ficou muito por fazer.

A maior cidade do Illinois e terceira mais populosa dos EUA tem uma variedade enorme de atrações. Foi ali também que Al Capone reinou absoluto, por isso tantos filmes ambientados nos anos 30 que falam de caras fora da lei se passam em Chicago. Dentre eles: Os intocáveis (1987) – sobre o próprio Al Capone –, Estrada para a perdição e Inimigos Públicos.

13. Atlanta

Mais uma vez, as cidades do sul dos EUA, sobretudo da região conhecida como Dixie Land, ainda carregam a marca da segregação racial. Não se trata somente da pobreza e da violência, mas principalmente do quão evidentemente a população negra é a mais afetada por ambas. Triste, mas real.

Na verdade, o fato de Atlanta não ser uma cidade cenográfica feita pra turista ver a torna ainda mais interessante. Se você gosta de ter uma experiência mais genuína dos países que visita, essa pode ser uma boa opção.

Mas, como nós somos turistas também, eis alguns lugares muito interessantes para visitar: Centennial Olympic Park e adjacências, Georgia Aquarium, World of Coca-cola, High Museum of Art, Martin Luther King Jr National Historic Site, e o capitólio da Geórgia.

Quanto à gastronomia, a cidade oferece milhares de opções, mas vale a pena mesmo provar a cozinha sulista dos EUA. Eu recomendo o tradicional frango frito e qualquer coisa que leve noz pecan, pêssegos, milho e amendoim – as especialidades da Geórgia.

Para conferir Atlanta vale assistir a Um sonho possível e Selma: uma luta pela igualdade.

14. Boston

Além de ser a capital do estado de Massachusetts, Boston é também a maior cidade da Nova Inglaterra. A região engloba o que foram algumas das 13 primeiras colônias britânicas na América, daí já dá para imaginar como tudo por ali é cheio de história.

Por isso mesmo, acho que Boston é o tipo de lugar que merece uma longa caminhada, o que não é nenhum sacrifício, já que a cidade é linda.

Recomendo muito uma visita ao Boston Public Garden. O Museu de Belas Artes também é ótimo. Vale a pena planejar a visita checando os dias e horários em que a entrada é franca, caso contrário, prepare-se: esse foi o ingresso mais caro que já paguei num museu dos EUA – 25 dólares bem gastos, mas suados. Você também pode visitar o campus da Harvard, que fica em Cambridge, pertinho de Boston.

Massachusets também tem uma culinária super tradicional. Algumas dicas: lobster roll, que é um sanduiche de lagosta. Eu recomendo esse lugar. A Nova Inglaterra é famosa pelos doces, esse lugar é incrível. Tem também o Boston clam chowder, uma sopa bem encorpada feita com amêijoas, batata e cebola, um dos pratos mais tradicionais da cidade. E, finalmente, se quiser provar um pouquinho de várias coisas, o Faneuil Hall é um mercado que concentra vários restaurantes.

Boston parece ambientar algumas comédias românticas, caso queira desfrutar do cenário na TV: Qual o seu número? e Não sei como ela consegue são alguns.

15. Lincoln

Na capital do Nebraska, tive a experiência mais genuína da cultura norte-americana não só porque esse definitivamente não é um destino turístico, mas também porque morei na cidade em 2015.

Lincoln abriga a Universidade do Nebraska e museus com preços bem convidativos ou entrada franca, além de pessoas muito simpáticas e muita comida boa. Como é comum nos EUA, apesar de ser a capital, não é a maior cidade do Estado. Logo, pra quem gosta de agitação, Lincoln pode parecer meio entediante. No outono, a cidade fica maravilhosa, além de ter um clima muito agradável. Outra coisa da qual os moradores de Lincoln são orgulhosos é o capitólio da cidade, que sim, é lindo, embora não tenha sido o que mais me impressionou – só não conte isso a ninguém lá, viu!

O que eu realmente acho que justifica – e muito – ir parar no Nebraska são os parques estaduais e nacionais espalhados pelo estado. Essa breve lista com 30 deles pode te dar uma noção do quão bem servido de natureza esse pedaço dos EUA é.

É no Nebraska também que está o Carhenge, uma réplica de Stonehenge feita com carros antigos.

Legenda

Um filme que adoro leva o nome desse estado e tem cenas em Lincoln. Caso você pense em visitar a cidade – ou não –, fica a dica cinematográfica: Nebraska.

16. Kansas City

Quando eu trabalhava num hostel em Lisboa um americano simpático me ligou para fazer uma reserva. Conversa vai, conversa vem, comentei que era brasileira, ele imediatamente disse algumas frases em muito bom português e me contou que vinha aprendendo o idioma e adorava assistir aos vídeos do Porta dos Fundos para treinar.

Num vôo doméstico nos EUA, uma senhora muito amável bateu o maior papo comigo e, na hora de se despedir, me deu um abraço apertado e um beijo estalado na bochecha – calor humano não muito comum entre os americanos.

O que essas pessoas têm em comum? Ambas são do Missouri.

Não sei o que esse estado tem que faz as pessoas serem tão queridas, tão gente como a gente. Meus três dias em Kansas City apenas comprovaram essa primeira impressão. Onde quer que eu fosse era um papo diferente, e eu, como boa mineira, adoro essa coisa de contar causos.

Agora, aí vão mais alguns motivos para visitar KC: The Nelson-Atkins Museum of Art – museu com uma coleção incrível e, o melhor, entrada franca. Tem também o zoológico – que, além de animais de todos os continentes, tem uma uma enorme área verde, ótima para uma caminhada muito agradável.

Outra coisa muito relevante é a comida, mais especificamente, o churrasco. Se você gosta de carne, em Kansas City você será feliz. Nesse lugar eu comi o melhor cordeiro da história, nesse outro, o melhor sanduiche de carne de porco e os anéis de cebola mais escandalosamente gordurosos e deliciosos. E quando eu digo “o melhor”, não é exagero. KC é o lugar para enfiar o pé na jaca.

O longa Kansas City é a cidade nas telonas pra quem quer um gostinho.

* * *

Para fechar, deixo uma dica de leitura para quem quer conhecer um pouco mais da cultura norte-americana. O livro As nove nações da América do Norte foi escrito pelo Jornalista Joel Garreou e propõe uma redivisão do continente norte-americano de acordo com traços culturais e econômicos.

Após anos de viagens entre México, EUA e Canadá, Garreou observou que as fronteiras ali eram um tanto artificiais. Segundo ele, haveria na América do Norte nove nações, cada uma delas com suas próprias capitais. Das nove capitais, sete estão aí na lista. Ainda faltam Detroit e Quebec, no Canadá.

E é impressionante como dá para notar nesses lugares tudo que é descrito no livro. A primeira publicação é de 35 anos atrás, mas, lendo e visitando as nove “nações”, fica claro que muito pouca coisa mudou.


publicado em 09 de Janeiro de 2016, 00:05
Monica

Mônica Buccini

Troca qualquer balada por uma maratona de filmes e ama andar no mato. Acredita no poder transformador da arte e fala de livros no @monicabuccini


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