Devo admitir que temáticas ligadas à tecnologia me fascinam. Perco a hora brincando de imaginar possibilidades para o que há de ser o nosso futuro como sociedade.
Sou um daqueles caras que gosta de distopias (sejam blockbusters ou undergrounds), três dos últimos cinco livros que li simulavam o futuro de alguma forma (os outros eram de esporte) e acompanho diariamente as coisas que o Tesla está pensando em fazer. Vez ou outra esse hábito resulta numa pauta por aqui.
É o caso de hoje.
Luciano – meu editor – Andolini sugeriu esse artigo do Chris Dixon, originalmente publicado em inglês no Medium e já fui logo pedindo pra Julia Barreto passar esse na frente da fila das nossas traduções. Espero que você se divirta, se anime e se surpreenda tanto quanto eu.
Te vejo nos comentários.
11 motivos para ficar animado com o futuro da tecnologia
No ano de 1820, uma pessoa esperaria viver menos de 35 anos, 94% da população global vivia em extrema pobreza e menos de 20% da população era alfabetizada. Hoje, a expectativa de vida está acima de 70 anos, menos de 10% da população mundial vive em pobreza extrema e mais de 80% é alfabetizada. Essas melhoras provêm principalmente dos avanços tecnológicos, que começaram na Revolução Industrial e continuam até hoje, na Era da Informação.
Há muitas tecnologias novas e empolgantes que continuarão a transformar o mundo e melhorar o bem-estar da humanidade. Aqui estão onze delas:
1. Carros autônomos
Hoje em dia existem carros autônomos mais seguros na maioria das condições de trânsito que os carros dirigidos por humanos. Nos próximos três a cinco anos, vão ficar ainda mais seguros e vão começar a se popularizar.
A Organização Mundial de Saúde estima que 1,25 milhões de pessoas morrem de ferimentos relacionados com carros por ano. Metade das mortes são de pedestres, ciclistas e motoqueiros atingidos por carros. Eles são a principal causa de morte para as pessoas entre 15 e 29 anos.
“so what did you do before self-driving cars?”
“we just drove ‘em ourselves!”
“wow, no one died that way?”
“oh no, millions of people died”— gregory erskine (@cat_beltane) April 15, 2015
— Então, o que vocês faziam antes dos carros autônomos?
— Simplesmente os dirigíamos nós mesmos.
— Uau, ninguém morreu desse jeito?
— Ah, não, milhões de pessoas morreram.
Assim como os carros reformaram o mundo no século 20, os carros autônomos também irão remodelar o século 21. Na maioria das cidades, entre 20 e 30% do espaço disponível é usado para estacionar, e a maioria dos carros ficam estacionados 95% do tempo. Carros autônomos ficarão num uso quase contínuo (provavelmente chamados por um aplicativo), reduzindo dramaticamente a necessidade de estacionar. Os carros irão se comunicar uns com os outros para evitar acidentes e trânsito, e os motoristas poderão gastar o tempo de deslocamento com outras atividades, como trabalho, educação e lazer.
2. Energia limpa
As tentativas de lutar contra as mudanças climáticas reduzindo a demanda de energia não deram certo. Felizmente, cientistas, engenheiros e empreendedores vêm dando duro no lado da oferta para fazer a energia limpa conveniente e com um bom custo-benefício.
Graças a avanços tecnológicos e de produção constantes, o preço de painéis solares baixou 99,5% desde 1977. A energia solar logo mais será mais vantajosa economicamente do que combustíveis fósseis. O preço da energia eólica também está mais baixo do que nunca, e na última década representou cerca de um terço da capacidade da energia recém-instalada nos Estados Unidos.
Organizações com visão de futuro estão levando vantagem nesse quesito. Por exemplo, na Índia há uma iniciativa de converter aeroportos em lugares autossustentáveis com energia limpa.
A Tesla está fazendo carros elétricos de alta performance e com preços acessíveis, e instalando estações de abastecimento elétrico pelo mundo todo.
Há sinais positivos de que a energia limpa pode alcançar em breve um ponto de virada. No Japão, por exemplo, existem mais estações de recarregamento elétrico do que postos de gasolina, hoje em dia.
E a Alemanha produz tanta energia renovável que às vezes é até mais do que podem usar.
3. Realidade Virtual e Aumentada
Os processadores dos computadores só recentemente se tornaram rápidos o bastante para permitir experiências confortáveis e convincentes de realidade virtual e aumentada. Empresas como o Facebook, Google, Apple e Microsoft estão investindo milhões de dólares para fazer Realidade Virtual e Realidade Aumentada mais imersiva, confortável e acessível.
Às vezes as pessoas acham que RV e RA serão usadas só para jogos, mas com o tempo elas poderão ser usadas para todos os tipos de atividades. Por exemplo, iremos usá-las para manipular objetos 3D:
Para ver amigos e colegas do outro lado do mundo:
E até para aplicações médicas, como no tratamento de fobias ou ajudando a reabilitar vítimas de paralisias.
Fãs de ficção científica têm sonhado com RV e RA por décadas. Nos próximos anos, elas finalmente vão se tornar uma realidade difundida.
4. Drones e carros voadores
“Estradas? Onde estamos indo não precisamos de… estradas.” – Dr. Emmet Brown
O GPS começou como uma tecnologia militar, mas agora é usado para chamar táxis, conseguir direções do caminho e caçar pokémons. Da mesma forma, os drones começaram com uma tecnologia militar, mas estão sendo usados cada vez mais para uma ampla gama de aplicações comerciais e de consumo.
Por exemplo, drones estão sendo usados para inspecionar infraestruturas críticas, como pontes e redes de energia elétrica, para vistoriar áreas atingidas por desastres naturais e muitos outros usos criativos, como lutar contra a caça ilegal de animais.
Amazon e Google estão construindo drones para entregar itens domésticos.
A startup Zipline usa drones para entregar suprimentos médicos para vilas remotas que não podem ser acessadas por estradas.
Também há uma nova geração de startups desenvolvendo carros voadores (inclusive duas fundadas pelo cofundador do Google, Larry Page).
Carros voadores usam a mesma tecnologia avançada dos drones, mas são grandes o bastante para levar pessoas. Graças a avanços em materiais, baterias e software, carros voadores serão significativamente mais acessíveis e convenientes do que os helicópteros e aviões atuais.
5. Inteligência Artificial
“Talvez leve cem anos para um computador conseguir vencer um humano no Go — talvez até mais” — New York Times, 1997
“Mestre do jogo Go é arrasado pelo programa de computador do Google” — New York Times, 2016
Inteligência artificial está avançando rapidamente na última década, graças a novos algoritmos e a um aumento expressivo da coleta de dados e da potência dos computadores.
A IA pode ser aplicada em quase qualquer campo. Por exemplo, uma técnica de IA na fotografia chamada “transferência de estilo artístico” transforma fotos com o estilo de um determinado artista:
O Google desenvolveu um sistema de IA que controla o sistema de força do datacenter, salvando centenas de milhões de dólares em energia.
A ampla promessa da IA é liberar as pessoas das tarefas mentais repetitivas da mesma maneira que a Revolução Industrial liberou as pessoas de tarefas físicas repetitivas.
“Se a IA pode ajudar humanos a se tornarem jogadores de xadrez melhores, ela também pode nos ajudar a nos tornar pilotos melhores, médicos melhores, juízes melhores, professores melhores.” — Kevin Kelly
Algumas pessoas acham que a IA vai destruir empregos. A história tem mostrado que apesar da tecnologia realmente eliminar trabalhos, ela também cria empregos novos e mais qualificados no lugar. Por exemplo, com o advento do computador pessoal, o número de datilógrafos diminuiu, mas o aumento de designers gráficos mais do que compensou por isso.
É muito mais fácil imaginar trabalhos que vão desaparecer do que os empregos novos que serão criados. Hoje milhões de pessoas trabalham como desenvolvedoras de aplicativos, motoristas num esquema de caronas, operadores de drones e “marqueteiros” nas mídias sociais — empregos que não existiam e seriam difíceis de imaginar dez anos atrás.
6. Supercomputadores de bolso para todos
“I wanted a flying car and all I got was a way for the entire planet to communicate instantly via massively powerful pocket computers.”
— Fraser Speirs (@fraserspeirs) September 29, 2013
“Eu queria um carro voador e tudo que consegui foi um jeito de todo o planeta se comunicar instantaneamente via computadores de bolso extremamente potentes.”
Em 2020, 80% dos adultos da Terra terão um smartphone conectado à internet. Um iPhone 6 tem cerca de 2 bilhões de transistores, quase 625 vezes mais transistores do que um computador Intel Pentium de 1995. Os smartphones são hoje o que antigamente considerávamos supercomputadores.
Smartphones conectados à internet dão a pessoas comuns habilidades que, não muito tempo atrás, estavam disponíveis apenas a uma pequena elite:
“Neste momento, um guerreiro Masai com um celular no meio do Quênia possui uma comunicação remota melhor do que o presidente tinha 25 anos atrás. Se o guerreiro está com um smartphone usando o Google, ele tem acesso a mais informação do que o presidente dos EUA tinha 15 anos atrás.” — Peter Diamandis
7. Criptomoeda e blockchains
“Se você perguntasse às pessoas em 1989 o que precisavam para tornar suas vidas melhores, é improvável que elas respondessem ‘uma rede descentralizada de informação que são linkados usando hipertexto’.” — Farmer & Farmer
Protocolos são o encanamento da internet. A maioria dos protocolos que usamos hoje foram desenvolvidos há décadas por academia e governo. Desde então, o desenvolvimento dos protocolos parou quando o foco mudou para o desenvolvimento de sistemas particulares, como redes sociais e aplicativos de mensagens.
Tecnologias de criptomoedas e blockchains estão mudando isso ao prover novos modelos de negócios para protocolos da internet. Somente neste ano, centenas de milhões de dólares foram arrecadados para uma amplo conjunto de inovadores protocolos de base-blockchain.
Protocolos baseados em blockchains também possuem habilidades que os protocolos anteriores não. Por exemplo, o Ethereum é um novo protocolo de base-blockchain que pode ser usado para criar contratos inteligentes e databases confiáveis imunes à corrupção e censura.
8. Educação online de alta qualidade
Enquanto as taxas universitárias sobem para a estratosfera, qualquer um com um smartphone pode estudar qualquer assunto online, acessando conteúdo de ensino na sua maioria de graça e cada vez mais de alta qualidade.
A Enciclopédia Britânica costumava custar £$ 1.400. Agora qualquer um com um smartphone pode acessar a Wikipedia instantaneamente. Você precisava ir para a escola ou comprar livros de programação para aprender programação de computadores. Agora você pode aprender numa comunidade com 40 milhões de programadores no Stack Overflow. O YouTube tem milhões de horas de tutoriais e palestras de graça, muitos dos quais são produzidos por professores e universidades de alto nível.
A qualidade da educação online está melhorando o tempo todo. Nos últimos 15 anos, o MIT vem gravando palestras e compilando materiais que cobrem cerca de 2 mil cursos.
“A ideia é simples: publicar online todos os materiais dos cursos e torná-los disponíveis para todos” — Dick K.P. Yue, professor, MIT School of Engineering
Talvez como a maior universidade de pesquisa do mundo, o MIT sempre esteja um passo à frente. Na próxima década, porém, espera-se que muitas outras escolas sigam essa deixa.
9. Comida melhor pela ciência
As áreas cultiváveis e a água potável estão se esgotando. Isso se dá em parte porque nosso sistema de produção de comida é inacreditavelmente ineficiente. São necessários incríveis 1799 galões de água para produzir meio quilo de carne.
Felizmente, uma variedade de novas tecnologias estão sendo desenvolvidas para melhorar nosso sistema de comida.
Por exemplo, empreendedores estão desenvolvendo novos produtos alimentares que são saborosos e nutritivos substitutos de comidas tradicionais, mas bem mais amigáveis ecologicamente. A startup Impossible Foods inventou produtos de carne que tem a aparência e o gosto da coisa real mas na verdade são feitos com plantas.
O hambúrguer deles usa 95% menos área, 74% menos água e emite 87% menos gases do efeito estufa que hambúrgueres tradicionais. Outras startups estão criando substitutos com base vegetal para leite, ovos e outros alimentos comuns. Soylent é um substituto saudável e barato da carne que usa ingredientes sintéticos avançados que são muito mais amigáveis ao meio ambiente do que ingredientes tradicionais.
Alguns desses produtos são desenvolvidos usando a modificação genética, uma técnica científica poderosa que é erroneamente caracterizada como perigosa. De acordo com um estudo da Pew Organization, 88% dos cientistas acreditam que comida geneticamente modificada é segura.
Outro progresso empolgante na produção de comida é a plantação automatizada indoor. Graças aos avanços da energia solar, sensores, iluminação, robótica e inteligência artificial, fazendas indoor se tornaram alternativas viáveis a fazendas tradicionais ao ar livre.
Comparadas a fazendas agrícolas tradicionais, as automatizadas indoor usam aproximadamente dez vezes menos água e espaço. Há mais de uma colheita por ano, não se depende do tempo e não há a necessidade de pesticidas.
10. Medicina computadorizada
Até recentemente, os computadores só estiveram na periferia da medicina, usados principalmente para pesquisa e para manter registros. Hoje, a combinação de ciência da informática e medicina estão levando a uma variedade de descobertas.
Por exemplo, apenas quinze anos atrás, custava US$ 3 bilhões para sequenciar um genoma humano. Hoje, custa cerca de mil dólares e continua caindo. Sequenciamento genético em breve será uma parte rotineira da medicina.
Isso cria uma quantidade de dados absurda que pode ser analisado usando um software potente de análise de dados. Uma aplicação é analisar amostras de sangue para a descoberta adiantada de câncer. Uma análise genética adicional pode ajudar a determinar a melhor opção de tratamento.
Outra aplicação dos computadores na medicina são membros protéticos. Aqui uma menininha está usando mãos protéticas que ela controla usando seus músculos do antebraço.
First #bionic throw. Go Tilly! @DeusEx pic.twitter.com/sE0LqSJLGF
— Open Bionics (@openbionics) July 20, 2016
Em breve teremos a tecnologia necessária para controlar membros somente com o nosso pensamento usando interfaces cérebro-para-máquina.
Os computadores também estão se tornando cada vez mais efetivos no diagnóstico de doenças. Um sistema de inteligência artificial diagnosticou recentemente uma doença rara que médicos humanos não conseguiram ao achar padrões escondidos em 20 milhões de registros de câncer.
11. A nova era espacial
Desde o começo da era espacial nos anos 1950, a maioria do financiamento vem dos governos. Mas esse financiamento está em declínio: por exemplo, o orçamento da NASA caiu de 4,5% do orçamento federal nos anos 1960 para 0,5% desse orçamento nos dias de hoje.
A boa notícia é que empresas privadas começaram a preencher esse vazios. Essas companhias proveem uma ampla gama de produtos e serviços, incluindo lançamentos de foguetes, pesquisa científica, satélites de comunicação e imagem e modelos especulativos emergentes de negócios como mineração de asteroides.
A mais famosa empresa privada “de espaço” é a SpaceX de Elon Musk, que enviou com sucesso foguetes ao espaço que podem voltar à Terra para serem reutilizados.
Talvez a empresa privada do setor mais intrigante seja a Planetary Resources, que está tentando desbravar uma nova indústria: extração de minerais de asteroides.
Se bem-sucedida, a mineração de asteroide pode levar a uma nova corrida do ouro, no espaço sideral. Como as corridas anteriores, isso pode levar a um excesso especulativo, mas também aumentar drasticamente o financiamento para novas tecnologias e infraestrutura.
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Essas são apenas algumas das incríveis tecnologias cujos avanços vamos acompanhar nas próximas décadas. 2016 é só o começo de uma nova era de maravilhas. Como diz o futurista Kevin Kelly:
Se pudéssemos entrar numa máquina do tempo, viajar 30 anos para o futuro, e dessa perspectiva olhar para os dias de hoje, iríamos perceber que a maioria das grandes invenções que regem os cidadãos em 2050 não foram inventadas antes de 2016. As pessoas no futuro vão olhar seus holodecks e lentes de contatos com realidade virtual e avatares baixáveis e interfaces de IA e dizer, “Ah, vocês não tinham internet” — ou como quer que eles chamem — “de verdade antigamente”.
Então, a verdade: neste momento, hoje, em 2016, é o melhor momento para começar. Nunca houve uma dia melhor em toda história para inventar algo. Nunca houve uma época melhor, com mais oportunidades, mais aberturas, menos barreiras, proporção mais alta de benefício/ risco, melhores rendimentos, vantagens melhores. Agora mesmo, este minuto. Este é o momento que a gente do futuro vai olhar para trás e falar “Oh, imagine ter vivido bem naquela época!”.
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