10 coisas que aprendi ao voltar para casa dos meus pais

Até nos EUA, nos últimos anos morar com pais tornou-se o arranjo familiar mais comum entre pessoas de 18 a 34 anos últimos anos, segundo Pew Research Center

Aos vinte e poucos anos, não me lembro ao certo que ano foi, saí da casa dos meus pais em busca do meu espaço. Primeiro fui morar com meu primo @nw_arata e depois fui morar sozinho.

No final do ano passado, morando sozinho num apartamento em São Paulo, senti um desespero interno, com uma vontade gigantesca de sair da cidade.

Eu ficava pensando onde moraria, em qual cidade e nunca conseguia chegar numa decisão. Depois de uma visita da minha amiga @fafi.carvalho , ela me ajudou a entender que a primeira coisa que tinha que fazer era decidir sair. Sou muito grato a ela e no mesmo dia eu comecei a empacotar meu apartamento e levei tudo para a casa dos meus pais, em Cotia, aqui perto de SP.

 

No começo tive resistência só de pensar em voltar a morar lá. Mas logo que cheguei, senti que era lá que precisava estar. Havia algo que precisava aprender estando com eles. E veio a pandemia para intensificar este processo, já que passamos vários meses sem sair de casa.

Compartilho aqui alguns aprendizados.

1) Não é vergonha voltar a morar com os pais.

Eu tinha colocado na cabeça que uma vez que eu saí de casa, eu nunca poderia voltar atrás. Voltar a morar com eles era um retrocesso. Confesso que no começo tinha vergonha de falar que estava morando com eles.

A sociedade nos prega um caminho que todos devem seguir e coloca quem vive com os pais como fracassados. Aos poucos fui me desapegando dessa construção mental e fui ficando em paz em estar lá, sem sentir que era algo errado ou uma derrota.

2) A casa dos seus pais sempre será sua casa.

Tenho consciência que para algumas famílias isso não funciona, mas de maneira geral, acredito que todos os pais querem estar perto dos filhos. Fui vendo que era apenas o meu orgulho que me impedia de reconhecer a casa deles como minha casa.

3) Respeitar seus hábitos

Morando sozinho eu já tinha consolidado muitos hábitos que para mim eram importantes, mas que eles não praticavam. Como compostar o lixo orgânico e comprar alimentos orgânicos. Meu impulso inicial foi de criticar e querer impor meu estilo de vida.

Aos poucos fui percebendo que era um baita desrespeito chegar na casa de alguém e querer chegar mudando. Eu não faria isso na casa de ninguém. Seus hábitos estavam instalados há muitos anos e era preciso ter respeito e paciência.

Comecei a fazer algumas coisas por mim, sem esperar que eles fizessem o mesmo. E aos poucos fomos encontrando um lugar bonito de respeito às diferenças, de caminho do meio e quase todos meus hábitos acabaram se incorporando na rotina da família.

4) Aprender a compartilhar minha vida com eles.

Na minha adolescência e logo no início da vida adulta, como forma de criar meu espaço eu não queria contar tudo o que acontecia na minha vida. O principal era porque eu não tinha estrutura emocional para lidar com suas críticas ou palpites.

Aos poucos venho me desafiando a contar mais da minha vida, para onde eu fui, com quem conversei. Fui vendo que eu tinha criado um monstro na minha cabeça e a maioria das coisas que eu achava que eles criticariam, eles nunca disseram nada.

Foi ficando mais leve e fui pegando o gosto por dividir minha vida com eles.

5) Eles viram que eu mudei

Assim como meu olhar para eles mudou, o olhar deles para mim também mudou. Eles viram que eu não era mais um moleque e assim fui me sentindo respeitado e admirado por eles.

6) Aprender a admirar meus pais

Eu confesso que nunca tinha conseguido admirar verdadeiramente meus pais. Minhas dores de criança machucada me fazia sempre me vitimizar com eles. Isso fazia com que eu somente olhasse a eles com olhos de crítica.

Eu aprendi que tinha que honrar meus pais, mas existe uma distância enorme entre respeitar e honrar e admirar. Aos poucos fui saindo do lugar de criança para olhar para eles como dois seres humanos com quem eu divido um espaço, numa relação bem mais madura.

E assim fui percebendo melhor como alguns dos seus hábitos eram legais e pude ver os maravilhosos seres humanos que eles são.

7) Conhecer melhor a mim mesmo.

Morando no mesmo quarto que morei quando tinha 12 anos, fui percebendo várias das minhas percepções daquela época se transformando. Algumas coisas que eu me incomodava na época não me incomodavam em nada e outras fui aprendendo a lidar de forma mais madura e adulta.

8) Aprender em vida o que eles podem me ensinar

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Tenho vários amigos que já perderam seus pais e vejo como é doloroso não ter aproveitado enquanto eles estavam aqui. Alguns amigos só aprenderam que seus pais eram pessoas especiais depois que elas se foram. Eu aprendi a dedicar tempo para observá-los e ver o que posso aprender, quais são as virtudes que eles praticam e o que sabem fazer que eu não sei.

9) Dedicar tempo a relação.

Uma coisa que faço muito com meus amigos é dedicar tempo a estar com eles. Ter conversas longas e aproveitar a presença. Percebi que com meus pais eu não fazia isso.

Na minha adolescência eles eram sempre companhias que eu queria passar o menor tempo possível junto. E nessa nova fase aprendi a dedicar tempo a estar com eles, mesmo que estivessem fazendo algo que eu não tenho vontade de fazer.

Aprendi a dedicar tempo para que nossa relação pudesse ser construída e fortalecida. Isso aumentou nosso grau de intimidade e a presença passou a ser algo muito agradável ao invés de algo do qual eu deveria correr.

10) Redução de custos

Minha vida ficou incrivelmente mais barata depois que fiz esse movimento. O que foi maravilhoso para eu poder me capitalizar mais e preparar para meus próximos movimentos.

A casa dos nossos pais é uma base para onde podemos recorrer sempre que vamos fazer uma transição ou preparar para um próximo salto na vida.

Eu escrevo este texto como forma de registrar esses aprendizados, compartilhar com vocês meus aprendizados e sentindo que esse ciclo está se fechando mais uma vez.

A casa dos meus pais sempre vai ser minha base e posso desfrutar disso sem peso, vergonha ou acreditar que é um fracasso.

Seus pais não são esses monstros que você criou na sua cabeça, são os seres que mais te amam neste mundo.


publicado em 12 de Janeiro de 2021, 09:29
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Gustavo Tanaka

Escritor e empreendedor. Autor dos livros 11 Dias de Despertar, Depois do Despertar, colunista da Revista Vida Simples. Foi quatro vezes palestrante TEDx e, em 2017, fundou o Brotherhood, um movimento criado com a intenção de trazer consciência ao universo masculino e apoiar homens no caminho do autodesenvolvimento.


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