Todo carioca (ou pelo menos 90% deles) nutre uma simpatia inexplicável pelo América Football Club.
Pude comprovar isso recentemente, devido a uma promoção do jornal Lance, onde após juntar 25 selos publicados diariamente e colar numa cartela, você poderia trocar, juntando uma quantia em dinheiro, por uma camisa retrô de um dos quatro times grandes do Rio.
Além disso, tinha a opção de, acrescentando um pouco mais, levar uma réplica da camisa do América campeão carioca de 1960, o último título carioca do clube.
O que vi foi o seguinte:
A camisa do Flamengo vendia mais, disparado.
Em seguida, a do Vasco.
Uma ou outra do Fluminense, quase nenhuma do Botafogo.
Mas praticamente TODOS levavam a do América. Eu fiz o mesmo, e é a terceira camisa do América que tenho. Como explicar essa simpatia?
No meu caso, passei 99% da minha infância no bairro da Tijuca, onde se localiza a sede do clube, na Rua Campos Sales. Na praça local, sediava-se o antigo estádio do clube, que posteriormente foi jogar no Wolney Braune, situado em Vila Isabel. Hoje em dia, o América construiu um belo estádio para 16.000 pessoas longe pra diabo (ironicamente, o mascote do clube). Ele fica em Edson Passos, na cidade de Mesquita, baixada fluminense. Se eu for considerar que nem estádio próprio o Mengão tem…
Natural que eu nutrisse simpatia pelo clube. Talvez por sua posição sempre secundária e pouco ameaçadora no futebol carioca, e pelo belo hino composto por Lamartine Babo (torcedor do clube), por muitos considerado o mais belo de todos, outras pessoas também o fazem.
História
Fundado em 1904, o América participou da fundação da Liga Metropolitana de Futebol, junto com outros times (incluindo Fluminense e Botafogo), porém, não participou do campeonato de 1906, o 1º ano do campeonato carioca, vencido pelo Fluminense.
Foi campeão estadual 7 vezes, em 13, 16, 22 (já diz o hino do clube), 28, 31, 25, e 60. Neste ano, apostou num técnico de 25 anos (Jorge Vieira) e com um elenco limitado, porém, aplicado, venceu o Fluminense na decisão por 2 x 1, de virada.
O América chegou por mais duas vezes às finais do Carioca, perdendo em 1974 num triangular com Flamengo e Vasco, e novamente em 1982, para os mesmos times.
Naquele ano, o América conquistou o que talvez seja seu título mais importante, embora numa competição hoje extinta, o Torneio dos Campeões. Foi um torneio que juntou os campeões e vices dos estaduais mais importantes do Brasil e do Campeonato Brasileiro, e detalhe que o Mequinha só participou devido a desistência do Flamengo, que preferiu fazer um tour mundial (era o campeão mundial na época – bons tempos).
Eliminando times fortes como Atlético Mineiro, Grêmio, São Paulo, Internacional, Vasco, Corinthians, Palmeiras, Cruzeiro e Fluminense, o América decidiu o título contra o Guarani de Campinas, empatando o 1º jogo em Campinas por 1 x 1 e vencendo no Maracanã por 2 x 1, sagrando-se campeão.
Os mais antigos aqui vão também se lembrar de um memorável time do América, o que disputou o Brasileirão de 1986. Numa época de total zona do Brasileirão, quando um bilhão de times disputavam o campeonato, o Mequinha se classificou para as oitavas de final, onde enfrentaria e eliminaria a Portuguesa. O adversário seguinte seria o Corinthians, e após uma brilhante vitória por 2 x 0 em São Paulo, a derrota por 2 x 1 no Rio classificou o time.
Na semifinal, o América enfrentou o São Paulo, que seria o campeão. Com um Careca inspirado, o Tricolor venceu no Morumbi por 1 x 0, e o empate por 1 x 1 no Maracanã acabou com o sonho americano. O 3º lugar foi a melhor colocação do time na história do campeonato, e também serviu para criar a polêmica que viria no ano seguinte, quando o Clube dos 13 decidiu fazer um campeonato mais enxuto, e excluiu Guarani (o vice de 86) e América do Módulo Verde.
Decadência…
No ano de 88, a CBF reparou parcialmente a injustiça, porém, o América já estava na descendente, e caiu para a 2ª divisão. Começava a decadência total do clube, que culminou com a venda do terreno do estádio Wolney Braune, dívidas e mais dívidas, e o papel secundário no futebol do Rio.
Um breve renascimento se fez em 2006, quando comandado pelo técnico Jorginho (atual auxiliar de Dunga na seleção e que começou sua carreira no América). O time chegou à final da Taça Guanabara, onde perdeu para o Botafogo. Sua torcida fiel levou considerável número de fãs naquela decisão, onde o time foi visivelmente prejudicado pela arbitragem, quando vencia o jogo por 1 x 0 e teve um pênalti claríssimo não marcado. Depois, não resistiu à melhor técnica do Botafogo.
Por fim, no ano de 2008, após um campeonato carioca pífio, o Mequinha chegou a última rodada precisando vencer o Friburguense fora de casa. Fez sua parte, porém, dependia de um resultado negativo do Mesquita para não cair, e este venceu o Duque de Caxias por 4 x 2. Com isso, o América caiu para a segunda divisão do Campeonato Carioca, para tristeza de sua pequena, mas animada torcida.
Retorno? Romário?
Enquanto escrevia esse texto o América voltava aos gramados após mais de um ano parado, para enfrentar o Bonsucesso, pela rodada inicial da segundona do Carioca. Seu gerente de futebol é nada menos que o ex-craque Romário, que não chegou a realizar o desejo de seu falecido pai, vê-lo jogar com a camisa rubra, mas resolveu ajudar o clube.
Com o apoio de Romário, o América conseguiu jogadores emprestados dos grandes do Rio, um bom patrocínio (o mesmo do Fluminense), e alguma atenção da mídia.
Tanto que a estréia do time foi transmitida pelo Sportv 2 aqui no Rio. E com diversos ingredientes típicos de um jogo de segundona do Carioca.
- O time do Bonsucesso levou uns 10 minutos para entrar em campo, atrasando o jogo.
- A câmera focalizou Romário na tribuna umas 80000 vezes.
- O Bonsucesso teve três jogadores sem documentação que não puderam ser utilizados, entre eles, o goleiro titular. Como o time só tem 2 goleiros no elenco, entrou o reserva e o time ficou sem goleiro no banco.
- No começo do 1º tempo, o juiz deu uma trombada em um jogador do Bonsucesso.
- Como desgraça pouca é bobagem, numa dividida, o goleiro do Bonsucesso errou o chute e acertou um atacante do América. Foi expulso, aos 12 minutos do 1º tempo, e um atacante reserva foi para o gol.
- O primeiro tempo foi um massacre do América, mas o atacante que foi para o gol (Gil Bala) simplesmente parecia levar jeito para a coisa, pois pegou tudo.
- Há na segunda divisão do Carioca o chamado tempo técnico, aos 20 minutos de cada tempo, um intervalo de dois minutos.
- No segundo tempo, a casa caiu para o “goleiro” Gil Bala, que soltava todas as bolas. Com isso, o América construiu um placar de 4 x 0.
- A rede das balizas do estádio do América precisam de reparos. No 3º gol, uma cabeçada normal foi o suficiente para furar a rede e ninguém saber se foi gol ou não.
- O preparo físico dos jogadores do Bonsucesso foi pífio. Vários caíram com cãibras. Em um dos episódios, os maqueiros do América disseram que não podiam entrar em campo para remover o jogador. O porquê, eu não sei.
- Entrevistas no pós-jogo, uma de um jogador do América, uma de um jogador do Bonsucesso, 50.000 de Romário.
- 930 pessoas foi o público presente.
- Preciso comentar do nível técnico do jogo?
Aqui deixo meus votos de sucesso ao simpático América. Que siga o exemplo do Bangu, e volte para o seu lugar devido, que é a primeirona do Carioca.
Que venha o São Cristóvão, próximo adversário. Sangue!
Puxe uma cadeira e comente, a casa é sua. Cultivamos diálogos não-violentos, significativos e bem humorados há mais de dez anos. Para saber como fazemos, leianossa política de comentários.