Charlie Sheen se revela HIV positivo e escancara problemas sobre o tema

Ator decidiu falar sobre a sua doença, depois de sofrer chantagens de pessoas próximas

Desde sua origem, a Aids é uma doença cercada de preconceito.

Por ter sido diagnosticada pela primeira vez em 1981 num grupo de 41 homossexuais nos EUA, a doença chegou até a se chamar Grid (sigla em inglês para “imunodeficiência relacionada aos gays”).

Acontece que em questão de meses, os médicos descobriram que a doença não era uma exclusividade dos homossexuais e, apesar de todos os avanços que aconteceram nas últimas três décadas e meia, o pensamento de muitos não evoluiu tanto desde a década de 1980.

A doença se tornou uma epidemia. Contaminou milhões de pessoas, destruiu a economia de vários países, reduziu drasticamente a expectativa de vida de outros e fez o mundo inteiro temer, mas tudo isso não supera a preocupação da pessoa que se descobre soropositiva.

Não bastasse ter que lidar com a doença, essas pessoas têm que se preocupar com a reação dos outros ao fato dela ter o vírus. Não bastasse a descoberta provocar inicialmente um rompimento das perspectivas de futuro, essas pessoas, durante décadas foram recriminadas, impedidas de frequentar locais, deixaram de ser contratadas etc.

É uma situação parecida com essa que fez com que o ator Charlie Sheen decidisse revelar de uma vez por todas sua condição num programa de TV americano. O ator que já participou do elenco de filmes como Wall Street – Poder e cobiça (1987), Top gang! – Ases muito loucos (1991) e séries como Tratamento de Choque (2014) e Two and a half men (2015) afirmou ter descoberto há cerca de quatro anos ser portador do vírus HIV e ter recebido diversas chantagens por conta disso. Inclusive de pessoas que ele considerava próximas.

Você pode pensar o que quiser do cara, mas receber chantagem por ser portador de HIV é um pouco demais pra qualquer um, não?

Isso só escancara o quanto a relação das pessoas com esse problema ainda é problemática e o quanto isso prejudica justamente aquelas que se descobrem contaminadas.

Julia Tolezano, dona do canal no youtube Jout Jout Prazer, lançou um vídeo em julho desse ano que contou com a participação de um outro ator soropositivo. Além de contextualizar a doença do ponto de vista de um portador do vírus, o vídeo ainda traz muitas informações valiosas.

Link Youtube

Acontece que o problema se torna cada vez mais complexo. Com o acesso gratuito ao coquetel de medicamentos, direito de sigilo aos portadores, testes anônimos e muitos outros instrumentos que, especialmente no Brasil, ajudam na contenção e tratamento da doença, criou-se uma falsa impressão de que a proliferação do vírus estava controlada. Isso acabou provocando um efeito reverso em determinadas pessoas que passaram a achar que a proteção não era mais necessária e que, tão pouco, a vida delas seria pior por conta disso.

A falta de informação - ou de consciência - sobre a situação gerou casos bizarros. Grupos de homens passaram a difundir formas de aumentar a contaminação. Outros chegaram a se denominar ‘caçadores do vírus’ e passaram a participar de “roletas russa do sexo”. Assim, eles escolhem correr o risco de serem contaminados.

Por esse ou por outros motivos, o Brasil está na contramão do resto do mundo em relação ao número de novos contaminados. Enquanto no mundo, houve uma redução de 27,5% entre 2005 e 2013, no Brasil houve um aumento de 11%. Isso segundo os dados divulgados em 2014 pela Unaids (programa das Nações Unidas sobre HIV/Aids).

Já no mesmo relatório do ano seguinte, apesar de outros avanços, dados mais detalhados apontaram que só o grupo de garotos brasileiros entre 15 e 24 anos teve um aumento na contaminação de 53% desde 2004.

Sobre isso, selecionamos o vídeo do canal no Youtube Põe na Roda de dezembro de 2014, no qual médicos, entre eles Dráuzio Varella, dão informações sobre o assunto. Vale muito a pena ver.

Link Youtube

Diante de tudo isso, a tese de que o problema com a Aids é um assunto sério se reforça.

Deixando os preconceitos de lado, procurando o maior número de informações possíveis e criando uma consciência legítima sobre a situação talvez tenhamos uma chance de passar a tratar a questão do jeito certo.


publicado em 17 de Novembro de 2015, 19:03
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Breno França

Editor do PapodeHomem, é formado em jornalismo pela ECA-USP onde administrou a Jornalismo Júnior, organizou campeonatos da ECAtlética e presidiu o JUCA. Siga ele no Facebook e comente Brenão.


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