Tudo é hábito

Alguma vez no passado recente você já definiu algo como uma completa necessidade, quase um vício, algo sem o qual você "não se imagina"? Seu celular, talvez? O Facebook? Quem sabe o seu carro? Eu gostaria de te convidar para pensar duas vezes sobre isso.

Há coisa de poucos meses, este era eu: um completo viciado digital, proferindo mais palavras pelo Twitter do que pessoalmente aos meus vizinhos e pessoas com quem interagia no dia-a-dia. Com um saudável namoro recém-terminado por vários motivos, entre os quais eu destaco a minha patética incapacidade de me conectar em um nível 100% orgânico com uma pessoa de cada vez.

Não havia conversa com a namorada – ou com ninguém, por sinal – em que eu não puxasse o celular por algum motivo. E daí para começar a "checar o Facebook, rapidinho" era o menor dos pulos.

#truestory

Aquele era eu, e eu realmente acreditava que esse aquele era mesmo eu. Felizmente, algumas coisas fora do meu controle aconteceram e me tiraram destas condições, das quais eu acreditava que jamais sairia – porque, afinal, "esse sou eu".

A primeira realmente importante foi ter o meu iPhone roubado. Como eu estava voltando de uma viagem internacional e cheio de dívidas por conta dela, não conseguiria comprar outro igual. E um diferente eu não queria. Resultado: acabei ficando sem celular, completamente. Achei a brincadeira interessante e comecei a tratá-la como um experimento social.

Como viver em 2011 sem celular? Sem poder enviar um SMS, sem ter acesso ao Twitter no meio da rua, sem poder tirar fotos aleatórias, sem ter onde salvar o número daquela gatinha da festa?

A resposta é: normalmente.

Todas essas coisas às quais os mais inclinados ao estilo de vida geek, como eu, estão completamente acostumados, são secundárias. Elas têm o poder hipnótico de parecer aos nossos olhos tão naturais e necessárias quanto levantar para tomar um copo d'água de vez em quando, mas na verdade estão mais para cerveja – se você realmente pensa que não pode viver sem, você tem um problema.

Link Vimeo | Desconecte-se para conectar

E o que falar sobre SMS? Poucas coisas são tão desnecessárias, na maior parte do tempo. Na pior das hipóteses, ele é um pedacinho de conversa furada completamente dispensável. Na melhor, é uma muleta para avisar e justificar "imprevistos" que só aconteceram porque você não combinou direito um horário e local específico para um encontro.

Sobre Twitter, ele é um ótimo local para jogar uma ideia aleatória e ver como as pessoas respondem, ou então para ser exposto a links e notícias que você não saberia tão depressa de outra forma. Mas é isso: um entretenimento. Não pode e não deve causar dependência.

Foi a minha experiência de ex-viciado em Twitter e celular que me fez chegar à conclusão que dá nome a este texto. Quando eu viajei e passei dois meses longe das pessoas próximas com quem eu conversava no Twitter, parei de usar. Ao voltar, me vi na oportunidade de olhar para aquela janela do TweetDeck e pensar "eu quero mesmo voltar para isso?". A resposta foi um "não muito", e continua sendo.

Era apenas um hábito.


publicado em 28 de Novembro de 2011, 11:04
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Fabio Bracht

Toca guitarra e bateria, respira música, já mochilou pela Europa, conhece todos os memes, idolatra Jack White. Segue sendo um aprendiz de cara legal.\r\n\r\n[Facebook | Twitter]


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