Surdos também podem comer fast-food – e essa recepcionista está fazendo a sua parte

Rebecca King ficou surpresa quando a barista Katie Wyble a atendeu por linguagem de sinais no drive thru

Durante toda a minha vida, foram poucas as vezes que, à espera por atravessar a rua, ouvi os bipes do sinal para cegos. As rampas para deficientes físicos são mais abundantes, mas eu ainda vejo a indisposição coletiva em aguardar pra que a rampa do ônibus seja estendida e nivelada com a rua e a cadeira de rodas abra seu caminho. Os filmes dublados parecem dominar grande parte das sessões de cinema quando surdos assistem aos diálogos pela legenda.

Mas eu também vejo muita coisa boa. Ainda que tenhamos um longo caminho a percorrer, acessibilidade parece ser uma crescente por aqui.

Curiosamente, em São Paulo, a vida cultural parece estar na vanguarda, com mostras que trazem material audiovisual que atende a diversas necessidades – há cerca de um ano visitei uma exposição sobre os Impressionistas que trazia versões táteis dos mais famosos quadros pra que cegos pudessem sentí-los. Assisti a uma peça de teatro que organiza sessões especiais pra surdos e cegos. Fui ao Museu da Língua Portuguesa, que oferece conteúdo de áudio que independe da sua imagem, bem como jogos táteis e visuais que independem do áudio. Todos os ambientes também tinham elevadores e banheiros acessíveis.

Ainda assim, por não ter nenhuma deficiência, não consigo dimensionar as dificuldades enfrentadas em tarefas simples como atravessar a rua ou pedir comida no drive thru.

É por isso que me encantou a cena de uma mulher surda fazendo um pedido no Starbucks de St. Augustine, na Flórida.

O vídeo que viralizou na internet estadunidense nessa semana foi gravado pela própria cliente, Rebecca King. A barista é a Katie Wyble, que contou pro Buzzfeed que se apaixonou pela língua americana de sinais desde criança e a estudou no ensino médio e faculdade.

Essa medida de acessibilidade ainda não é padrão da rede, e essa loja em específico está buscando atender uma demanda local, já que fica perto de uma conhecida escola para surdo-mudos e cegos. Ainda assim, pode ser tomada como exemplo pra que nossa empatia e sensibilidade se expanda.

Para ler mais sobre acessibilidade surdo-muda no PdH

Pequeno guia para entender as línguas de sinais

"Apesar da Libras ter sido regulamentada em 2005 pelo decreto 5.626, ainda são muitos os enganos a seu respeito. Vamos esclarecer algumas questões recorrentes."

Como você pode contribuir com a acessibilidade de pessoas surdas

"Eu tenho um irmão surdo e posso dizer que, além da Libras, aprendi muito nesta experiência. O Dudu se comunica exclusivamente pela língua de sinais, ou seja, não faz leitura labial ou oralização do português. O fato do Dudu ser surdo influenciou muito na maneira como eu percebo a vida, tenho a impressão que me tornei, pela nossa relação, mais sensível a diversidade de experiências humanas."


publicado em 11 de Novembro de 2015, 11:46
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Marcela Campos

Tão encantada com as possibilidades da vida que tem um pézinho aqui e outro acolá – é professora de crianças e adolescentes, mas formada em Jornalismo pela USP. Nunca tem preguiça de bater um papo bom.


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