Sabedoria na era da informação: um ensaio visual

Vivemos em um mundo repleto de informação, mas parece que estamos enfrentando uma crescente escassez de sabedoria

Já não é mais nenhuma novidade destacar que estamos, hoje, soterrados de informação e com grande dificuldade de processar tudo a que temos acesso. 

Mas, ao mesmo tempo, é justamente essa situação sufocante que torna válido chover no molhado quando o assunto é “infotoxicação”. 

O vídeo abaixo, um ensaio visual escrito pela Maria Popova do Brainpickings e posto em movimento pelo animador Drew Christie, é mais um lembrete da necessidade de olharmos com mais atenção para o cenário de mídia em que vivemos e a busca por novas formas de construir sentido tanto no âmbito individual quanto coletivo.

Abaixo do vídeo vai a transcrição do texto, que eu traduzi pra vocês.

A sabedoria na era da informação, por Maria Popova

“Vivemos em um mundo repleto de informação, mas parece que estamos enfrentando uma crescente escassez de sabedoria. E, o que é pior, confundindo as duas coisas. 

Acreditamos que ter acesso a mais informação produz mais conhecimento, o que resulta em mais sabedoria. 

Mas, se há algo claro, é que o oposto é verdadeiro – mais e mais informação sem o contexto e interpretação adequados só atrapalha a nossa compreensão de mundo em vez de enriquecê-la.

Esta avalanche de informação facilmente disponível também criou um ambiente em que um dos piores pecados sociais é parecer desinformado. Em nossa cultura, é extremamente constrangedor não ter uma opinião sobre algo. 

De forma que, para parecermos informados, construímos nossos assim chamados pareceres às pressas, com base em pedaços fragmentados de informações e impressões superficiais, em vez de basear-nos em uma compreensão autêntica.

“Conhecimento”, Emerson escreveu: “é o saber que não podemos saber.”

Para capturar a importância disso, primeiro é importante definirmos esses conceitos como uma escada de entendimento.

Na base da escada está uma unidade de informação, que simplesmente nos conta algum fato básico sobre o mundo. Acima disso vem o conhecimento – a compreensão de como os diferentes pedaços de informação se encaixam para revelar algumas verdades sobre o mundo. Conhecimento depende de um ato de correlação e interpretação. 

No topo está a sabedoria, que tem um componente moral – é a aplicação da informação que vale a pena lembrar e do conhecimento que é importante para a compreensão não só de como o mundo funciona, mas também da forma como ele deve funcionar. E isso requer uma estrutura moral do que deve e não deve importar, bem como um ideal do mundo em seu mais alto potencial.

É por isso que a figura do contador de histórias é ainda mais urgente e valiosa

Um grande contador de histórias – seja um jornalista ou editor ou diretor ou curador – ajuda as pessoas a descobrirem não só o que importa no mundo, mas também por que aquilo é importante. Um grande contador de histórias dança escada do conhecimento acima a partir de informações passando pelo conhecimento até chegar na sabedoria. Através de símbolos, metáforas e de associações, o contador de histórias nos ajuda a interpretar as informações, integrá-las com o nosso conhecimento existente e transmutar aquilo em sabedoria.

Susan Sontag disse uma vez que “a leitura estabelece padrões.” Storytelling não só estabelece padrões, mas, no seu melhor, nos faz querer viver de acordo com eles para transcendê-los.

Uma grande história, então, não é simples fornecimento de informações, embora certamente ela possa informar. Uma grande história convida a uma expansão da compreensão, a uma auto-transcendência. Mais do que isso, ela planta a semente para isso e torna impossível fazer qualquer coisa além de cultivar uma nova compreensão – do mundo, de nosso lugar nele, de nós mesmos, de algum aspecto sutil ou monumental da existência.

Num ponto em que a informação é cada vez mais barata e sabedoria cada vez mais cara, essa lacuna é o lugar onde reside o valor do contador de histórias moderno.

Eu penso da seguinte maneira.

Informação é ter uma biblioteca de livros sobre construção naval. Conhecimento é o que se aplica na construção de um navio. Acesso à informação – aos livros – é um pré-requisito para o conhecimento, mas não uma garantia do mesmo.

Uma vez que você construiu seu navio, a sabedoria é o que lhe permite navegar sem afundar, protegendo-o da tempestade que toma o horizonte na calada da noite, manobrando de forma que o vento sopra vida em suas velas.

Sabedoria moral ajuda a perceber a diferença entre a direção certa e a direção errada na condução do navio.

Um grande contador de histórias é o capitão gentil que navega seu barco com enorme sabedoria e coragem sem limites; que aponta o nariz na direção de horizontes e mundos escolhidos com o idealismo e a integridade inabaláveis; que nos traz um pouco mais perto da resposta, a nossa resposta particular, para aquela grande questão: por que estamos aqui?”

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Leia também:

– O tempo perdido do gerenciamento de mídias digitais.– Quando a mente entra em estado de Facebook

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Nota do editor: esse texto foi originalmente publicado no blog Conector.


publicado em 08 de Julho de 2015, 09:45
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Gustavo Mini

Gustavo Mini é publicitário e músico.


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