Quando decidi me questionar

Desde a brusca guinada que dei na vida, existem algumas questões que gosto de levantar com frequência. Conversando com amigos ou para mim mesmo em momentos de reflexão, a primeira pergunta é mais complicada e demora algum tempo para conhecer alguma resposta.

Quem sou eu? Como eu descreveria o Alberto Brandão?

Abrindo deste ponto, podemos levar em consideração vários elementos. Somos o que fazemos? Ou somos nossos sonhos e ideais? O que nos torna real? Como nos percebemos?

Não é uma tarefa simples navegar por todas as dúvidas que cercam nossa mente, e pior ainda, quanto mais nos questionamos, incertezas maiores passam a surgir. Quando entendemos este tumulto, passamos a questionar qualquer tipo de certeza que encontramos. Ainda mais grave, passamos a reconhecer que todo tipo de certeza muito concreta pode não ser exatamente tão certa assim.

Ao buscar o verdadeiro entendimento de quem somos, é imprescindível destruir falsas certezas. Primeiramente porque estas certezas são propensas a nos guiar por um caminho e evitar que aceitemos alternativas tão boas quanto, mas que nem consideramos antes. Segundo porque somos muito ruins em avaliar todas as opções. Nossa opinião sempre vem enviesada a partir de nossas experiências e inclinações.

Certa vez estava comendo pipoca com um amigo quando ele disse: “Odeio comer pipoca”. Fiquei confuso com essa posição, afinal, ele estava comendo naquele momento. Então ele concluiu: “Estava pensando nisso agora, eu como pipoca porque está todo mundo comendo, me acostumei a achar que gosto de pipoca, mas pensando bem, não faço questão e posso dizer que realmente não curto”.

Assumimos certezas baseado em coisas que nem consideramos. Parafraseando Nassim Taleb, pensamos bem menos do que gostamos de acreditar. É como no exemplo que utilizei em um texto sobre economia do comportamento.

Em países como o Brasil onde não somos doadores de órgão por padrão, o índice de doadores gira em torno de 1% a 4%. Já nos países onde você nasce como doador, o número de doadores flutua na casa dos 90%. Entretanto, se questionar alguém que não é doador de órgãos no Brasil, e o motivo de tal posição, inúmeros motivos vão surgir, mas é comum que a verdade seja: ele nunca parou para pensar sobre isso. Nossas atitudes tendem a reforçar posições que não consideramos previamente, já que mudar exige ação.

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Para visualizar melhor, pense da seguinte forma: você está gordo, come mal e não se exercita. Ao invés de se exercitar e comer bem, prefere dizer que não gosta de academia e exercícios, e que comida saudável é ruim e sem graça e vai comer coisas que não gosta só para se enquadrar num padrão estético imposto pela sociedade.

Tudo isso seria aceitável, se você não se olhasse no espelho e não sentisse vontade de ser diferente. Infelizmente, para justificar suas certezas, sua mente blinda a zona de conforto com argumentos que reforçam a posição. É muito mais fácil aceitar passivamente do que fazer algo para mudar. Ainda mais perigoso, é muito complicado fazer exercício depois de sustentar por tanto tempo que não gosta e não precisa.

Assim, pela falta de questionamento sobre nossas firmes posições, é difícil entender quem realmente somos, tornando ainda mais confusa a decisão de qual estrada devemos trilhar.

Dessa forma chegamos à nossa segunda pergunta: para onde você está indo? Porque optou por esse caminho? Nada mais comum do que encontrar pessoas na faculdade e ouvir que preferiam estar cursando outra coisa, por exemplo.

Dentro do que vimos, você realmente sabe o motivo de estar onde está? Já parou para pensar qual seria a outra opção? Se pudesse, com um passe de mágica aparecer numa vida completamente diferente, como seria este cenário?

É importante para nossa felicidade aprender a amar o que fazemos, independente de quão difícil ou desgastante determinada atividade é. Podemos minimizar bastante nossa insatisfação diária se passamos a controlar nosso ambiente e criamos um senso próprio de realização, modificando as regras do cotidiano. Só que isso não significa que precisamos ficar presos.

Podemos ao mesmo tempo, direcionar nossas forças, um passo de cada vez, na busca de algo que de fato nos satisfaça. Sendo  importante entender quem somos e buscar entender o que realmente queremos.

Sempre fui uma pessoa de fortes certezas, quem me conhece sabe bem disso. Apenas passei a entender que todas minhas ideias podem estar erradas, quando passei a me trucar com certa frequência. É muito difícil assumir que está errado ou que existem caminhos melhores quando já abordamos o contexto com viés da certeza. Apenas com duro questionamento próprio e um largo leque de opções podemos entender que a resposta muitas vezes vai ser: depende.

Quer pensar um pouco mais sobre o assunto?

Esse texto representa o tipo de questionamento que a Exosphere trabalha. Nos 3 meses que passei no Chile fui submetido a sessões diárias de debates e reflexões. Apesar de ter um foco inicialmente empreendedor, o objetivo primário acaba sendo desenhar a própria jornada, seja inovando na própria profissão, melhorando como ser humano ou criando um negócio inovador.

Neste mês de novembro estarei viajando com a equipe da Exosphere para aplicar o Exobase uma série de workshops menores que leva a experiência do bootcamp para mais pessoas. Caso tenha interesse, basta verificar a data e o local no site e fazer sua inscrição.


publicado em 25 de Novembro de 2014, 17:20
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Alberto Brandão

É analista de sistemas, estudante de física e escritor colunista do Papo de Homem. Escreve sobre tudo o que acha interessante no Mnenyie, e também produz uma newsletter semanal, a Caos (Con)textual, com textos exclusivos e curadoria de conteúdo. Ficaria honrado em ser seu amigo no Facebook e conversar com você por email.


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