Paixões platônicas e cinematográficas

Quem nunca saiu do cinema suspirando? Quem nunca ficou três dias apaixonado por alguém que simplesmente não existe (não vale a Cheetara dos ThunderCats)?

Não há como achar um culpado para esse efeito. As paixões platônicas e cinematográficas são fantasias criadas por roteiristas que nós, homens, caímos. Como? Por meio de belíssimos exemplos de fêmeas humanas jovens perfeitamente problemáticas.

Coisas que nós, homens, adoramos. E mais uma vez caímos. Eu já desabei por algumas.

Essas algumas aqui.

Summer Finn (Zooey Deschanel) - Days of Summer (2009)

Infelizmente não temos a Summer no cardápio

Simples entender porque o pobre Tom se encanta por Summer. Ela é uma cantada em silêncio. Um drible parado. Uma provocação coberta. E todas as outras figuras de linguagem que possam exemplificar o quanto a incauta é apaixonante.

O problema é: as reações de Summer são tão maléficas ao seu coração quando um Diner do Zé do Hamburguer com fritas. Sabendo disso, você resiste. Só que por pouco tempo. Ela reaparece cantando Nancy Sinatra no karaokê e olhando no seus olhos.

Você cede. E começa tudo novo. Com maionese extra.

Penny Lane (Kate Hudson) - Almost Famous (2000)

Maria Palheta e daí?

Não há como uma mulher chamada Penny Lane ser desinteressante.

A personagem ganha o filme Almoust Famous. Kate Hudson destaca-se não só pela interpretação impecável, mas também pelo modo sútil que flutua na tênue linha da egocêntrica Maria Palheta com a insegurança de alguém sem qualquer perspectiva de futuro.

Isso faz de Penny Lane tão interessante. Ela vivia.

Ellen Aim (Diane Lane) - Streets of Fire (1984)

Link YouTube | Só fui descobrir que era a Diane Lane em 2008

O que você faria por uma ex-namorada?

Ou melhor, o que você faria por uma Diane Lane que canta, dança e está mais em forma do que nunca? Bastante, deve ter sido a sua resposta. É. É a minha também.

E era a de Tom Cody. Ele fez de tudo. Inclusive um monte de filmes ruins depois.

Charlotte (Scarlett Johansson) - Lost in Translation (2003)

A nossa menina no seu melhor papel

Não é o filme onde Scarlett Johansson aparece de modo mais acachapante.

Mas uma série de fatores faz dela uma tetéia em Lost in Translation. Fatores simples, como o cenário místico de Tóquio, o guarda-chuvas transparente, a peruca rosa, os diálogos com Bill Murray e até a solidão que a faz sofrer tanto.

Uma mulher bonita sempre fica mais bonita quando está em crise.

Shosanna Dreyfus (Mélanie Laurent) - Inglourious Basterds (2009)

E ainda é francesa

Dizem que o grande achado de Tarantino em Inglourious Basterds é Christoph Waltz.

Bobagem.

Tarantino fez bem em escalar uma francesa para fazer uma francesa. Sabe por que? Porque ela é muito francesa. Mas muito francesa. Tem coisa mais francesa que tomar um vinho em um buraco qualquer de Paris enquanto lê Leslie Charteris e segura o cigarro com a mão esquerda?

Cara.

Essa guria é muito francesa.

Kate Wheeler (Cate Blanchett) - Bandits (2001)

Gostamos de ruiva e gostamos de Kate ou Cate

Kate Wheeler é confusa e tem uma carência inocente que agrada em Bandits. Seu modo deveras bobo de querer agradar tudo a todos acaba se transformando em charme.  Especialmente no clássico modo de encarar os problemas fugindo deles. É um sentimento comum em quem não quer ser egoísta, mas acaba mentindo para evitar o caos.

O que costuma gerá-lo.

Mas a gente dá um jeito nisso depois.

Juno MacGuff (Ellen Page) - Juno (2007)

Ela odeia as fases aquáticas do Mário

Ver Juno é como ouvir Beatles pela primeira vez. Fez bem. E a Juno, a personagem, é tipo o George, o Paul ou o Lennon. Ou seja: não é o Ringo.

Perfeita. É aquela guria que não reclama que tá gorda. Que faz brigadeiro e joga video-game a tarde toda com você. E o melhor: não chama o Luigi de "Mário verde".

Rachel Jansen (Mila Kunis) - Forgetting Sarah Marshall (2008)

Ela decidiu esperar

Eu acho que me apaixono por Mila Kunis em todos os filmes. Mas esse é especial.

Rachel é uma recepcionista do hotel. Ela gosta de tomar cerveja, tem um passado de porres no boteco e não se importa de pular da pedra mais alta em direção ao mar.

E ainda assim é a Mila Kunis.

Se fuder, Hollywood.

Andy Sachs (Anne Hathaway) - The Devil Wears Prada (2006)

Uma sdd: Andy

Existem personagens que vão te ganhando com o passar do enredo. Aqui não.

Sou fã da Andy do início. Aquela atrapalhada, comum e até meio brega. É evidente que ela fica mais bonita com o passar da história. Mas tem horas que sinto falta daquela... - não quero usar o termo beleza comum - sei lá. Daquela verdade que existem num rosto matinal.

Acho que é isso. Enquanto mulheres se escondem quando acordam, nós procuramos a normalidade que existe atrás da maquiagem.

Claire Colburn (Kirsten Dunst) - Elizabethtown (2005)

Claire conquistou a sala inteira

A guria que conquista o cara.

Ah. Como é boa essa história. Foi assim em Elizabethtown, filme brilhante co-estrelado pela espetacular Kisten Dunst. Por meio de bilhetinhos, dicas e indiretas ela conquista todos. Até mesmo o espectador, claramente tocado pelo esforço da mulher no sucesso do relacionamento. Sem exageros. Apenas fazendo aquilo que o cara gosta.

Aliás, isso é algo comum em todas as mulheres listadas: a atitude. E sempre relacionada a uma verdade. Talvez seja esse, entre todas as possibilidades que a fantasia e a ficção nos proporcionam, o nosso ponto fraco. O de querer encontrar a inocência da normalidade entre tantas acusações de esteriótipos. Esse ar de quem está pouco se fodendo se perdeu com a necessidade de ter uma opinião sobre tudo. Formada ou não.

A gente não quer discutir a diferença de meme e viral ou buscar evidências para acusar o vizinho de hipster. Tem dias que a gente só quer alguém pra trocar uma ideia e tomar uma cerveja.

Eu pagaria uma cerveja pra essas 10.

Até duas.

Update

Sam (Natalie Portman) - Garden State (2004)

Link YouTube | 

Sam é aquele tipo de menina que você se apaixona na escola. Ou já se apaixonou. Ou então vai acabar se apaixonando.

Motivo? Ela tem aquela mania deliciosa de te apresentar uma música. Mas não só jogar o link no Facebook. Ela gosta de apertar o play e filhando pra você. Esperando uma reação.

Que saber qual seria a minha reação?

Vou te falar qual seria a minha reação.

 Wichita (Emma Stone) - Zombieland (2009)

Quem vai salvar Wichita?

Trata-se do paralelo perfeito entre atitude e donzela. Ela está em perigo. Ela está com medo. Ela precisa ser salva. Mas ela não precisa de você.

"Wichita sabe usar uma arma, mas sem ser Lara Coft", resumiu a jornalista Isabel Filgueiras.

E eu respeito jornalistas e mulheres que sabem usar uma arma.


publicado em 24 de Julho de 2012, 17:17
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Fred Fagundes

Fred Fagundes é gremista, gaúcho e bagual reprodutor. Já foi office boy, operador de CPD e diagramador de jornal. Considera futebol cultura. É maragato, jornalista e dono das melhores vagas em estacionamentos. Autor do "Top10Basf". Twitter: @fagundes.


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